sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A trajetória do ditador líbio Muammar Kadafi

23 de fevereiro de 2011

Por Redação Yahoo! Brasil

No comando da Líbia desde 1969, o coronel Muammar Kadafi é o líder há mais tempo no poder na África e no mundo árabe.

Quando tinha apenas 27 anos, Kadafi organizou o golpe de Estado no qual o rei Idris foi derrubado, e, desde então, tem mantido um controle à 'mão de ferro', dizimando seus opositores e controlando o petróleo líbio. A atual revolta da população contra seu líder é o maior desafio de seu longo governo.

Entre suas muitas excentricidades, duas das mais conhecidas são o hábito de dormir em uma tenda beduína e de andar com dezenas de seguranças mulheres para sua proteção em viagens ao exterior.

Kadafi nasceu em 1942, na área costeira de Sirte, ao norte da Líbia. Ingressou na Universidade de Benghazi para estudar Geografia, mas logo abandonou o curso para se juntar ao exército.

Depois do golpe de Estado em 1969 e com sua chegada ao poder, Kadafi estabeleceu o país no pan-arabismo, com uma filosofia anti-imperialista misturada com aspectos do Islã. Enquanto isto, ele permitia o controle privado sobre as pequenas empresas, enquanto as maiores eram do governo.

Kadafi era um admirador do líder egípcio Gamal Abdel Nasser (1918-1970), do seu socialismo árabe e da ideologia nacionalista. Durante grande parte do seu governo, Kadafi tentou unir Líbia, Egito e Síria em uma federação, mas sem sucesso. Anos mais tarde, tentaria uma tática semelhante com a Tunísia, novamente sem conseguir o fim desejado.

Esmagando dissidentes
Em 1977, Kadafi mudou o nome do país para Grande Socialismo Popular da Líbia Árabe Jamahirya (Estado das massas) e as pessoas puderam expor seus pontos de vista em congressos.

Porém, muitos que participaram destes congressos criticaram a liderança de Kadafi, acusando-a de ser uma ditadura militar, reprimindo a sociedade civil e esmagando impiedosamente seus dissidentes. A mídia, então, passou a ficar sob forte controle governamental.

O regime tem centenas de pessoas presas e condenadas à morte por violarem a lei, segundo a Organização Internacional de Direitos Humanos.

Kadafi sempre teve um papel proeminente na organização da oposição dos árabes ao acordo de paz de Camp David entre Egito e Israel, em 1978. Porém, com opiniões extremas sobre as resoluções do conflito Israel-Palestina, entre outros, a política externa da Líbia sofreu uma mudança: com vários países árabes ignorando as opiniões do líder líbio, o foco do país passou a ser para os africanos.

Na África, Kadafi foi mais ouvido e, com isso, conseguiu a formação da União Africana. Mas, no Ocidente, a visão do líder da Líbia é de um "terrorista", acusado de apoiar grupos armados, incluindo as Farc, na Colômbia, e o IRA, na Irlanda do Norte.

O suposto envolvimento da Líbia em um atentado, em 1986, dentro de uma discoteca na cidade de Berlim, resultando na morte de dois soldados americanos, acarretaram em ataques aéreos dos EUA a Trípoli e Benghazi, matando 35 líbios, inclusive a filha adotiva de Kadafi. Ronald Regan, então presidente dos EUA, o chamou de 'cachorro louco'.

Outro episódio terrorista que envolve a Líbia é o bombardeio do voo da Pan Am que iria de Londres para Nova Iorque, sobre a cidade de Lockrbie, na Escócia, em 1988. O atentado matou 270 pessoas (11 em terra e 259 no avião). Este é o mais conhecido e controverso incidente terrorista em que Kadafi teve seu nome mencionado como um dos envolvidos.

Por muitos anos, Kadafi negou envolvimento, o que resultou em sanções da ONU e o status da Líbia como um estado pária (excluído do cenário mundial). Mas Abdel Basset al-Megrahi, agente secreto líbio, foi condenado por plantar a bomba e, assim, o regime de Kadafi assumiu formalmente a responsabilidade pelo ataque, em 2003. Ele pagou indenização às famílias dos mortos.

Fim do isolamento
Também em 2003, Kadafi rompeu o isolamento com o Ocidente, ao entregar seu inventário inteiro de armas de destruição em massa. Em setembro de 2004, George W. Bush, então presidente dos EUA, terminou formalmente o embargo comercial dos americanos como resultado do desmantelamento do programa de armas da Líbia e pela responsabilidade do atentado de Lockerbie. A normalização das relações com as potências ocidentais permitiu que a economia líbia tivesse um crescimento econômico relevante, principalmente na indústria petrolífera.

Porém, Kadafi voltou a mostrar seu lado controverso, quando o responsável pelo atentado de Lockerbie, al-Megrahi, voltou à Líbia e foi recebido como herói pelo líder. EUA, Reino Unido e outros países condenaram a atitude.

Em setembro de 2009, Kadafi visitou os EUA e pela primeira vez compareceu à Assembleia Geral da ONU. Seu discurso, que duraria 15 minutos, acabou durando 1h30min. Ele rasgou um exemplar da Carta da ONU, acusou o Conselho de Segurança de ser um corpo terrorista semelhante à Al-Qaeda e exigiu 7,7 trilhões de dólares em compensação para a África, pelo passado de colonização do continente.

Durante visita à Itália, em agosto de 2010, a convite de Kadafi, milhares de jovens e mulheres se converteram ao Islã, obscurecendo uma viagem de dois dias, destinada a cimentar os crescentes laços entre Trípoli e Roma.

Relação com Lula
Lula e Kadafi se reuniram por quatro vezes durante os dois mandatos do líder brasileiro. O ex-presidente sempre afirmou que o Brasil não tinha preconceitos em sua "diplomacia pragmática". Esta relação se deu, provavelmente, devido à entrada de empresas brasileiras na Líbia.

Algumas construtoras investiram 1,4 bilhão de dólares no país, e Lula se aproximou de Kadafi, para garantir o sucesso desse investimento.

Essa relação deve sofrer um baque, já que Dilma Rousseff não abre mão dos direitos humanos - para ela, uma área inegociável. E com os últimos acontecimentos na Líbia, é provável que o exêntrico líder fique longe dos interesses brasileiros.

http://br.noticias.yahoo.com/s/23022011/48/manchetes-trajetoria-ditador-libio-muammar-kadafi.html

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