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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quase 4 anos após terremoto, 170 mil haitianos vivem em abrigos precários

A partir de 2011, o governo conseguiu realojar mais de 60 mil famílias e recuperar prédios públicos com auxílios-aluguel ou abrigos provisórios
 05/11/2013 
Haitianos esperam por ajuda médica em uma clínica criada pela organização Médicos Sem Fronteiras, em 2010 (Thony BELIZAIRE/AFP PHOTO)
Haitianos esperam por ajuda médica em uma clínica criada pela organização Médicos Sem Fronteiras, em 2010

Porto Príncipe - Há quase quatro anos Widlène Gabriel, uma menina de oito anos, vive com seus pais em um campo de deslocados erguido após o devastador tremor de terra de janeiro de 2010, que deixou mais de 200 mil mortos e 1,5 milhão de pessoas desabrigadas no Haiti.

Pouco mais de 170 mil haitianos continuam vivendo em acampamentos, em condições precárias e, às vezes, sob a ameaça de serem expulsos, como acontece com os ocupantes do terreno onde vive a pequena Widlène, em uma barraca na beira de uma avenida que liga o centro de Porto Príncipe a Pétion Ville, no subúrbio da capital.

"O teto da minha casa caiu nas nossas cabeças. Não aconteceu nada comigo, mas deixamos a nossa casa destruída e viemos para cá", recorda. Widlène nunca foi à escola e passa seus dias observando os veículos na avenida Canapé vert.

"Aqui todas as crianças estão na mesma situação. Todos os dias são parecidos para elas. Vivemos sem esperança e nos sentimos abandonados", acrescenta Manette Nazius, mãe de seis crianças.

"Bendito seja o Eterno, bendito seja o Eterno", canta um grupo de mulheres reunido na tenda n°15, que serve de igreja na entrada do campo. Não são mais de dez as pessoas que repetem incansavelmente os versículos bíblicos.


O pastor, um homem de mais de 60 anos, está de pé na entrada, mas os fiéis hesitam em entrar. "Nós os apoiamos com orações. São pessoas abandonadas pelas autoridades. Não têm nada. Mas Deus não castiga duas vezes", afirma o pastor Pierre. Mas isso não impede que os jovens que vivem nestes campos de deslocados sintam-se desesperançosos e desamparados.

"Não há vida"

A partir de 2011, o governo conseguiu realojar mais de 60 mil famílias e recuperar prédios públicos com auxílios-aluguel ou abrigos provisórios, mas 171.974 pessoas ainda vivem em 306 campos, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). "Aqui não nos oferecem alternativa alguma", dizem os moradores do campo de Canapé Vert.

Bladimir e Fénol, ambos com cerca de 30 anos, vivem neste local e fazem diferentes bicos para sobreviver. "Vivemos como irmãos e irmãs. Nós nos ajudamos mutuamente, mas não esperamos nada do governo", diz o mecânico Bladimir.

O sentimento é o mesmo no "Campo da embaixada da Itália", um amontoado de barracas erguidas sobre uma antiga propriedade da missão diplomática italiana. "As autoridades nos esqueceram e as organizações internacionais já não vêm até aqui", reclama Donald Duvert.

"Às vezes somos tomados por um sentimento de raiva. Mas, como somos bons cidadãos, não saímos às ruas para atacar os mais ricos. Vejam como vivemos aqui", afirma, enquanto mostra as barracas que servem de moradia para 150 famílias no campo.

"Antes a vida era difícil para nós. Agora, não há vida. Só Deus sabe quando sairemos disto... ou aqueles que governam", acrescenta Jospeh Gino, sob um sol escaldante.

"A esta hora do dia ninguém pode ficar dentro das barracas. As crianças sofrem com o calor dentro das tendas", diz uma mulher que mostra seu filho de quase quatro anos, nascido no campo. "Este menino nunca dormiu em uma cama, nem em um quarto de verdade", lamenta.

Longe de se resignar, Fabienne, de 18 anos, se apega aos seus estudos. "Estou um pouco atrasada, mas estudar é a única alternativa que tenho", conclui.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

03/02/2010 - 20h58
Contêiner com água para o Haiti é roubado na República Dominicana
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da Efe, em Santo Domingo

Um contêiner carregado com água potável, de propriedade da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e que seguiria para o Haiti a partir da República Dominicana, foi roubado por pessoas que depois o venderam, informou nesta quarta-feira uma fonte oficial.

O contêiner tinha 1.800 galões de água e foi recuperado na comunidade dominicana de El Abanico, no norte do país. A carga foi desviada por um grupo liderado por uma mulher identificada como Cristina Guzmán, que está sendo interrogada pela polícia.

Depois de recuperado, o contêiner foi levado para a sede do Ministério das Forças Armadas, em Santo Domingo, disse em comunicado o diretor de inteligência do Exército dominicano, Francisco A. Ovalle Pichardo.

De acordo com o oficial, as Forças Armadas dominicanas "estão atentas ao longo da fronteira para evitar que as contribuições que chegam do exterior para o Haiti não sejam introduzidas como contrabando".

O contêiner "será devolvido ao seu legítimo proprietário", acrescentou Ovalle Pichardo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u689012.shtml

sábado, 16 de janeiro de 2010

HAITI


Haiti, uma história de paradoxos e excessos
(Régis Bonvicino, especial para o Último Segundo)

Cedido pela Espanha à França em 1697, quando se chamava Saint-Domingue, suas terras – há muito inférteis – tornaram-no uma das mais ricas colônias das Américas. Produzia um dos melhores açúcares do mundo, batendo, no século XVIII, o Brasil em exportações nesse campo.

Hoje, sua renda per capita é muito menor do que a do bairro de Higienópolis, em São Paulo: em média, um haitiano vive com dois reais ao dia. Como lembra Juan Jesús Aznárez, o Haiti é exemplo vivo da Lei do engenheiro aeroespacial americano (Edward) Murphy: qualquer situação, por pior que seja, está sujeita a agravamentos.

O que transformou o Haiti no país mais pobre das Américas? O processo ininterrupto de “colonização” (usurpação), que não se findou, paradoxalmente, com sua independência, inovadora e sui generis, em 1804, a segunda do continente (a primeira foi a dos Estados Unidos, em 1776) e a primeira liderada exclusivamente por negros, que conquistaram sua liberdade, em 1794 – ao contrário dos negros brasileiros, que foram “alforriados” quase cem anos depois.

O Haiti, disputado pela Espanha e França, antes de sua independência, não teve ao menos os benefícios secundários de uma colonização como a brasileira. Na verdade, sua independência política consistiu num abandono de território. As plantações de cana de açúcar francesas, que fizeram a riqueza de Paris, haviam esgotado o solo, quando Napoleão entregou a ilha à sua própria sorte.

A República negra sofreu boicotes desde seu início e tornou-se um “encrave negro”. O sismo do dia 12 de janeiro, 35 vezes mais forte do que a bomba atômica lançada sobre Hioshima no final da Segunda Guerra, deu-se, na verdade, quando Colombo chegou na ilha em 1492.

À deriva desde sua independência
As terras haitianas já eram parcialmente inférteis no começo do século 19. A jovem Revolução Industrial, àquela altura, substituía, passo a passo, o trabalho humano pela máquina, a agricultura e o artesanato pelo manufatura. Sem terras férteis, sem possibilidade para cultivar suas possíveis matérias primas, a república negra seguiu à deriva, de crise política em crise política.

O jovem capitalismo industrial, baseado igualmente na exploração dos escravos, radicalizou as relações de produções, adicionando a elas, então, o racismo e os conflitos raciais, um instrumento econômico, que perpetuou os negros como seres inferiores – mesmo depois de suas alforrias.

Os conflitos raciais entre brancos e mulatos e os negros (a maioria do país) inviabilizaram o Haiti. O país fechou-se em si mesmo, cumprindo sua vocação de ilha. Fechou-se nos conflitos raciais legados pelos colonizadores franceses e espanhóis, fechou-se no passado, em sua impotância, em sua psique tribal reprimida.

Sua localização geográfica não o ajuda: situa-se entre a Venezuela e os Estados Unidos, ao lado de Cuba. É um lugar de passagem. E, com a doutrina Monroe (de James Monroe, lançada em 1823, “A América é dos americanos”), tornou-se “propriedade” implícita dos Estados Unidos.



Uma viagem de avião de Porto Princípe a Miami não chega a três horas. Da segunda metade do século 19 ao começo do século 20, vinte governantes alternaram-se no poder e, dentre eles, 16 foram depostos e/ou assassinados.

No século 20, o Haiti experimentou uma sequência ainda mais alucinada de crises políticas, a confirmar que o colonizador não lhe deixou – como herança – os princípios iluministas da Revolução Francesa e tampouco um Estado de Direito, com Executivo, Judiciário e Legislativo, mesmo que incipientes, legando-o apenas a deterioção do passado tribal africano, que talvez lhe desse alguma unidade.

Em 1902, houve um guerra civil. De 1902 a 1908, a ditadura de Nord Alexis. De 1915 a 1934 foi ocupado pelos Estados Unidos (a mando inicial de seu presidente Woodrow Wilson), sob o pretexto de que seu governo não havia pago uma dívida contraída junto ao City Bank e ainda que as corporações estadunidenses, lá instaladas, estavam sob risco, impondo-se a pacificação das cidades e, sobretudo, para revogar o artigo da Constituição que proibía a venda de cana de açúcar aos estrangeiros. A riqueza do Haiti (o acúçar) foi o germe de sua destruição, à mingua de uma sociedade civil minimamente organizada.

Tortura e vodu
Os civis ocupam o poder de 1934 a 1957, como sempre, de crise em crise. Em 1957, François Duvalier – o Papa Doc – elegeu-se presidente e, com o apoio dos americanos, sob o signo da Guerra Fria e da Revolução cubana de 1958, declarou-se presidente vitalício em 1964.

Papa Doc implantou uma ditadura feroz, baseada no terror dos “tontons macoutes” (bichos-papões) e – ressignificando a origem africana – no vodu. Sua principal obra foi exterminar o pouco de sociedade civil que ainda havia no país e também a Igreja Católica que, àquela altura, ensaiva os primeiros passos da teologia da libertação na América Latina.

Papa Doc, um Napoleão de hospício e presídio, desflorestou o país na fronteira com a República Dominicana para ter os inimigos sob sua mira. Haitianos e dominicanos se odeiam, na ilha ou em Miami ou Nova Iorque, para onde inúmeros imigraram. O terremoto é fruto também de política predatória – crônica – em relação ao meio ambiente. O país perdeu 98% de suas florestas. Nada se pode cobrar, entretanto: o país nunca existiu de fato.

François Duvalier foi sucedido pelo seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, em 1971. Baby Doc permaneceu no poder até 1986, três anos antes da Queda do Muro de Berlim. A França lhe deu asilo político.

A ditadura dos Doc fez o país regredir 200 anos, deixando-o em estado colonial, agora, em plena terceira Revolução Industrial, e sem o acúçar, seu ouro branco. Leslie Manigat governou o Haiti de fevereiro a junho de 1988, depois de ele ser controlado pelo general Henri Namphy, de veia doquiana, por ano e meio como sucessor de Jean-Claude.

Seguiram-se golpes de Estado, liderados pelos doquistas até que o padre, de esquerda, Jean-Bertrand Aristide elegeu-se em 1990, renovando o sonho de 1804, o sonho da República negra dos ex-escravos Toussaint Louverture e Jacques Dessalines – país da independência.

As forças doquianas ou as forças que Doc encarnou – autoritárias – permaneciam vivas e Aristide foi deposto, em 1991, pelo general Raul Cedras – a ONU e a OEA, como sempre, impuseram “sanções econômicas” ao país. No fundo, os Estados Unidos e a Europa foram, ao longo do século 20, esvaziando qualquer possibilidade de nação para o Haiti e as sanções econômicas são prova disso.

A imigração tornou-se uma rotina, acentuada pela crise de Aritide/Cedras. O Conselho de Segurança da ONU decretou, em 1994, bloqueio total ao país. Uma Junta Militar empossou Émile Jonassaint, o que bastou para os americanos intesificarem as sanções. Em 1994, Aristide foi reempossado por uma força militar norte-americana. Em 2004, foi deposto.

Para controlar a situação tensa, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o envio de uma força de mantenedores de paz, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Liderada pelo Brasil, a força tem atualmente 7 mil homens, entre eles 1.266 brasileiros. Além desses neo-piratas abrigados em ONGs.

Sob o governo do Minustah, deu-se o terremoto físico, há tanto experimentado continuamente na vida social. Como observa Aznárez, com pertinência, a história do Haiti é excessiva, desde o chicote colonial francês até os dias de hoje.

Esse país, entretanto, legou à humanidade um pintor do nível de Hector Hyppolite (1894-1948), descoberto pelo poeta francês André Breton (1896-1966), líder do movimento surrealista, que morou na ilha em 1944, e poetas de primeira plana como Rene Depestre (n. 1926).

Depestre afirma, com pertinência, que os processos coloniais estão mais do que vivos. Ele acrescenta que houve uma espécie de descolonização “institucional” e uma das relações internacionais, em nível protocolar, sem descolonização das mentes e corações.

O Haiti é o produto mais cruel desses processos coloniais europeus (e americanos), sob a etiqueta “globalização”: ela não incluiu, como aduz Depestre, a totalidade dos valores das diversas civilizações e culturas, mas, ao contrário, impôs um padrão único, causando o yhadismo, o terorismo, a pobreza etc.

O Haiti é a vítima da hora. Ele, apesar da comoção mundial que provoca, será ainda palco de disputa geopolítica áspera, onde o que menos importa é sua população, confirmando a Lei de Murphy.

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/regis_bonvicino/2010/01/15/haiti+uma+historia+de+paradoxos+e+excessos+9322073.html
http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&um=1&q=HAITI+mapa&sa=N&start=18&ndsp=18