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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Porta-voz de Israel reage e afirma que desproporcional é 7 a 1

Governo brasileiro disse que ação de Israel em Gaza é desproporcional.
Porta-voz respondeu com referência à goleada que Brasil sofreu na Copa.

24/07/2014 

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, rebateu em entrevista ao Jornal Nacional, exibida na noite desta quinta-feira (24), as críticas feitas pelo governo brasileiro de uso "desproporcional" da força israelense na Faixa de Gaza.
Ele ironizou a declaração do Brasil e fez referência à derrota sofrida pela seleção brasileira por 7 a 1 em partida contra a Alemanha na semifinal da Copa.
"A resposta de Israel é perfeitamente proporcional de acordo com a lei internacional. Isso não é futebol. No futebol, quando um jogo termina em empate, você acha proporcional e quando é 7 a 1 é desproporcional. Lamento dizer, mas não é assim na vida real e sob a lei internacional", disse Palmor.
Na quarta (23), em nota oficial, o governo brasileiro classificou de "inaceitável" a escalada da violência na Faixa de Gaza e informou que chamou o embaixador em Tel Aviv "para consulta".
A medida diplomática de convocar um embaixador é excepcional e tomada quando o governo quer demonstrar o descontentamento e avalia que a situação no outro país é de extrema gravidade.
Nesta quinta, o jornal "The Jerusalem Post" publicou reportagem na qual Yigal Palmor questiona a retirada do embaixador e chama o Brasil de "anão diplomático".
Em reação, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou que, se existe algum "anão diplomático", o Brasil não é um deEm entrevista à TV Globo, Yigal Palmor afirmou ainda que desproporcional seria deixar "centenas de pessoas mortas nas ruas de Israel".
Quase 800 palestinos, incluindo mulheres e crianças, e mais de 30 israelenses, entre estes 29 soldados, morreram em duas semanas de ofensiva de Israel contra a Faixa de Gaza.
O porta-voz destacou que o que desequilibrou o número de mortos na guerra foi o sistema antimísseis do país.
"A única razão para não termos centenas de mortos nas ruas de Israel é termos desenvolvido um sistema antimíssil e não vamos nos desculpar por isso. Se não tivéssemos esse sistema haveria centenas de pessoas mortas nas ruas de Israel. Isso seria considerado proporcional?", questionou.
Ao ser perguntado sobre se Israel vê possibilidade de um cessar-fogo com a iniciativa de discussão liderada pelos Estados Unidos, o porta-voz voltou a alfinetar o Brasil.
"Há muitos contatos diplomáticos sendo feitos. [...] Infelizmente o Brasil não faz parte. O Brasil se afastou de todos os movimentos diplomáticos ao convocar seu embaixador. Mas há outros países envolvidos. Um dia desses vai haver um cessar-fogo. A questão é saber quantas pessoas vão pagar com suas vidas pela teimosia e extremismo do Hamas."
Ataque contra escola
Disparos contra uma escola da ONU em Beit Hanoun, norte da Faixa de Gaza, deixaram mortos nesta quarta. A escola abrigava vários palestinos refugiados, disse o porta-voz do ministério da Saúde de Gaza, Ashraf al-Qidra.

A autoria do ataque ainda é incerta. O governo palestino o chamou de "brutal agressão israelense". Israel, no entanto, disse que está analisando o que aconteceu e que um foguete do Hamas pode ter causado as mortes.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/porta-voz-de-israel-reage-e-afirma-que-desproporcional-e-7-1.html

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Política ou preconceito?

Israel considera imoral o boicote contra produtos de seus assentamentos na Cisjordânia

13 de fevereiro de 2014
Jodi Rudoren* - The New York Times/O Estado de S.Paulo
Muitos termos foram usados em referência ao crescente movimento de boicote a produtos israelenses fabricados em assentamentos na Cisjordânia e, em alguns casos, a todas as empresas e instituições de Israel. Uma palavra que requer um exame mais profundo é "imoral", usada pelo premiê Binyamin Netanyahu, no início deste mês, quando se referiu a essa campanha.
Boicotes têm uma história admirável de instrumento político não violento. No século 18, cristãos britânicos recusaram-se a comprar açúcar produzido por escravos. Os negros passaram a caminhar em vez de se sentar no fundo dos ônibus, no sul dos EUA. O desinvestimento ajudou a derrubar o apartheid.
Mas, para muitos israelenses, o boicote que vem à mente é o que os nazistas promoveram contra empresas de judeus, nos anos 30, que se propagou da Alemanha para o resto da Europa e além. Não entrar num café porque você não gosta da maneira como o patrão trata seus empregados é um ato de desaprovação. Agir de tal forma porque o patrão é judeu - ou negro, mulher ou gay - é discriminação.
Netanyahu não se opõe a todos os boicotes. Pelo contrário: ele é um ótimo líder quando se trata de insistir em sanções econômicas para pressionar o Irã e seu programa nuclear. Sob a acusação de imoralidade, que o premiê não é o único a fazer, está a crença de que o movimento é instigado pelo antissemitismo, que o alvo definitivo não é a política israelense, mas o direito de Israel existir.
"Há 70 anos, você dizia: 'Elimine os judeus'. Agora a ideia é: 'Elimine o Estado judeu'", disse Malcom Hoelein, vice-presidente da Conferência de Presidentes de Organizações Judaicas Americanas. "A maneira politicamente correta de ser antissemita é não dizer 'odeio os judeus', mas dizer 'odeio Israel'." Para Hoenlein e Mark Regev, porta-vozes de Netanyahu, Israel foi escolhido injustamente, pois violações de direitos humanos em outras partes do mundo e ocupações de terra em outros Estados por outros grupos étnicos são ignoradas.
"É moralmente duvidoso exigir que o Estado judaico respeite um padrão que você não exige de outros", disse Regev. "Vocês estão boicotando algum outro lugar onde a soberania é disputada ou escolhendo a dedo o país contra o qual vão dirigir a sua revolta moral?"
Segundo Omar Barghouti, que ajudou a criar o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), em 2005, os ativistas têm todo o direito de escolher suas causas e para onde direcionar sua energia. "(Netanyahu) pode dizer o que quiser, mas imoral? Resistir à sua política imoral jamais pode ser imoral. A questão fundamental é: você está boicotando um grupo de pessoas com base na sua identidade ou um ato, uma companhia, um negócio, do qual discorda?"
"Temos três razões", disse ele, citando os objetivos do movimento: pôr fim à ocupação; assegurar a igualdade a cidadãos palestinos de Israel e promover o direito de retorno dos refugiados palestinos. "Se eliminarmos as três razões, não haverá boicote."
Muitos líderes israelenses não concordam com isso. Um acordo de paz propiciaria uma suspensão apenas temporária da campanha de isolamento, particularmente por parte daqueles que acham que deve existir um Estado único binacional entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.
Em parte essa é a razão pela qual Netanyahu e outros partidários insistem que o reconhecimento de Israel como Estado judeu deve estar inserido em qualquer acordo com os palestinos. Quanto ao boicote, alguns israelenses acham que a resposta adequada - e mesmo moral - é combater o fogo com fogo.
Com os supermercados europeus rotulando os produtos israelenses fabricados na Cisjordânia e os fundos de pensão europeus deixando de trabalhar com bancos que fazem negócios nos assentamentos, Dani Dayan, líder do conselho dos colonos judeus, sugeriu que a empresa aérea israelense El-Al deva comprar aviões Boeing e não mais Airbus. "Não deve ser um movimento unilateral. Até agora, Israel adotou um enfoque 'meteorológico' - falamos muito, mas não fizemos nada para mudar. Mas boicotes não são chuva, podemos questioná-los", disse.
*Jodi Rudoren é correspondente em Jerusalém. 
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,politica-ou-preconceito,1129716,0.htm

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sobre barreiras e muros em Israel

POR DIOGO BERCITO
15/01/14
                         Trecho da barreira de segurança entre Israel e um campo de refugiados palestinos. Crédito Ammar Awad/Reuters
Trecho da barreira de segurança entre Israel e um campo de refugiados palestinos. Crédito Ammar Awad/Reuters
Refiz, nas vésperas do Natal, o caminho bíblico de Maria entre Nazaré e Belém. Em uma reportagem (Leia abaixo) bastante criticada, inclusive pela diplomacia israelense, a edição natalina do jornal narrava os obstáculos nesse percurso, caso repetido hoje entre Israel e os territórios palestinos da Cisjordânia.
O texto não tinha objetivo político, a despeito do afirmado pelos críticos. Tampouco tomava posição de um ou de outro lado. Mas, de acordo com a observação de que a reportagem carecia de uma análise mais profunda sobre a razão de haver uma barreira física entre Israel e a Cisjordânia, convidei o capitão Roni Kaplan, porta-voz do Exército israelense, para um relato especial aqui no Orientalíssimo blog.
O texto abaixo, assinado pelo capitão, foi escrito em espanhol e traduzido por mim ao português com a autorização dele. Os interessados podem procurá-lo pelo Facebook (clique aqui) ou Twitter (aqui). Nenhuma ofensa pessoal ao capitão ou a mim serão publicadas nos comentários deste blog.
***
Para mim é um prazer receber este convite ao blog de Diogo Bercito, daFolha, único veículo escrito brasileiro que tem um jornalista fixo aqui no Oriente Médio, pelo que me consta.
Somente tendo como base um jornalismo sério e profissional é que se pode abordar os conflitos complexos que inundam o Oriente Médio e, em particular, o conflito israelense-palestino, que se encontra nestes meses em meio a um processo de paz mediado pelos americanos.
O objetivo destas linhas é oferecer ao leitor uma visão mais profunda das razões que levaram ao estabelecimento da barreira defensiva entre os territórios da Judeia e Samaria (Cisjordânia) e na zona oeste do Estado de Israel, em uma perspectiva de segurança e de direitos da população.
Para abordar o tema é importante ter em mente alguns axiomas básicos: 1) Israel é 400 vezes menor do que o Brasil. 2) Na zona de Tulkarem, ao norte de Tel Aviv, a distância entre o mar Mediterrâneo e a linha verde é somente de 13,8 quilômetros. 3) A faixa costeira de Israel, que está ao lado de Judeia e Samaria, é 20% do território nacional, em que vive 70% da população (140 milhões de pessoas, em termos de Brasil) e se produz 80% do PIB. Essa zona é o coração do país tanto do ponto de vista populacional quanto do produtivo.
Aproximadamente 3% da extensão da barreira defensiva está construída em forma de parede de concreto por duas razões: evitar que francoatiradores ataquem casas e veículos e diminuir possíveis danos causados por vandalismo. A Amazônia ocupa aproximadamente 20% do território brasileiro. Seria ilógico que alguém diga que o Brasil é uma selva; duplamente ilógico seria argumentar que a barreira defensiva é um muro.
Em muita vezes, aqui em Israel, a gente pode chegar a viver com medo. Porque minha esposa e minhas filhas têm de subir ao ônibus em Jerusalém com medo de que uma bomba exploda? Desde que a barreira defensiva existe, o medo é menor, assim como a perda de vidas civis israelenses.
Entre 2000 e 2005, sem a barreira, morreram em Israel mais de mil civis em atentados suicidas, francoatiradores e outras formas de terrorismo. Mais de 6.000 israelenses foram feridos na mesma época. Estamos falando de civis assassinados enquanto tomam um café, desfrutam das férias em um hotel com a família ou dançam e bebem cerveja em uma discoteca de Tel Aviv. É claro que, para o terrorista, é bastante fácil chegar a esses lugares se não houve um controle.
Segundo os axiomas escritos acima, está claro que da Cisjordânia ao coração da vida civil israelenses há alguns minutos de direção ou um pouquinho de caminhada. Se o terrorista tiver a intenção e os meios para efetuar o atentado, é uma questão de decisão, e não mais, se vai executá-lo ou não. Como fazer, então, para nos defender de um terror que ameaça a população e arruína a rotina da vida, em um espaço tão pequeno?
A construção da barreira segue salvando vidas diariamente ao evitar atentados terroristas que não aparecem na imprensa. Mas a barreira não salva vidas por si só, mas faz parte de uma doutrina de defesa que inclui a Inteligência e as capacidades operacionais das Forças de Defesa de Israel para frustrar atentados terroristas antes que sejam executados.
A isso temos de adicionar as atividades das forças de segurança palestinas, que por interesse próprio lutam contra grupos terroristas como o Hamas, evitando que levem a cabo atentados que, ao longo prazo, prejudicariam o grau de governabilidade da própria Autoridade Palestina.
É claro que a barreira não é hermética. Nos últimos meses, houve váriosatentados nas mãos de terroristas que vivem na Cisjordânia, como os assassinatos a sangue frio dos soldados Tomer Jázan e Eden Atías e o artefato explosivo em um ônibus na cidade de Bat Yam há três semanas, que por sorte não deixou vítimas. Sem esta barreira, seria muito pior.
Esta barreira defensiva é um obstáculo para o terror, não é uma barreira para a paz. Nós a construímos de uma maneira em que possa ser movida facilmente, se necessário. Se não houvesse terrorismo, não haveria barreira.
Além disso, a localização pela qual passa a barreira está sujeita a constante revisão judicial por parte da Suprema Corte de Justiça. Palestinos ou israelenses estão em seu direito de dirigir-se à ela e solicitar a mudança. De fato, palestinos se dirigiram 168 vezes à Corte para pedir que a localização da barreira seja alterada. Em várias vezes a Corte decidiu em seu favor, ao custo de dezenas de milhões de dólares para o Estado de Israel.
Nas Forças de Defesa de Israel, estamos totalmente comprometidos com oprincípio da proporcionalidade, que se equilibra entre o direito da população palestina na região (à vida, ao respeito, à propriedade privada, à liberdade de culto e de costumes) e o direito à segurança da população israelense. Ambos os elementos determinam a localização exata de cada trecho da barreira.

Há 46 passagens na barreira que permitem o movimento de um lado ao outro, além de 78 cruzamentos projetados para o uso pessoal para questões familiares ou de agricultura. Assim também foram construídos 14 caminhos alternativos para a população palestina de maneira a interferir minimamente em sua liberdade de movimento. Em 2013, palestinos passaram pela barreira para Israel em mais de 11 milhões de vezes. O custo total da barreira para o governo de Israel é de US$ 11 bilhões.

http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/

Folha refaz trajeto que Maria teria percorrido antes do nascimento de Jesus

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM (CISJORDÂNIA)
25/12/2013

Crianças árabes posam, em Nazaré, para uma fotografia. Nas cabeças inquietas, um chapéu em forma de árvore natalina. Elas aproveitam o dia para passear pelo cenário que a tradição cristã atribui à infância de Jesus.
Mas a reportagem não as segue pelas ruelas pelas quais caminham cantando. A Folha está em Nazaré para fazer o caminho bíblico entre essa cidade e Belém. É o trajeto que a tradição estabelece para Maria, antes de Cristo nascer.
Mas Maria, se decidisse fazer a viagem atualmente, teria de lidar com os desafios contemporâneos, distintos daqueles da Antiguidade. Hoje, essa estrada inclui controles militares e um caminho que, em tempos de ocupação da Cisjordânia, é em todo volátil e imprevisível.
O trajeto tem cerca de 160 quilômetros pela estrada que vai por fora dos territórios palestinos, em Israel, tomando menos de duas horas. Mas a reportagem leva, por dentro da Cisjordânia, todo o dia para repetir esse difícil caminho, entre viagens e entrevistas.
O ditado, entre palestinos, diz que Jesus teria nascido no muro que separa Israel da Cisjordânia. Cartões natalinos mostram reis magos impedidos de ir à manjedoura.
PARTIDA
A viagem começa no tradicional mercado de artesanato de Nazaré. Mercadores reclamam da falta de organização e de divulgação, que fazem desta importante cidade histórica um destino turístico pouco visitado.
"No ano passado, a Prefeitura pagou pela viagem e pela acomodação", diz Margo Zeidan, que vende "tatriz", bordados palestinos. "Eles deveriam organizar melhor o Natal, para que essa não seja minha última participação."
A Maria inventada pela reportagem segue, depois de comprar um xale com detalhes de flores, para a periferia de Nazaré, onde toma uma xícara de chá com hortelã no restaurante Nostalgia.
A árvore de Natal, ali, é decorada com os nomes de vilarejos palestinos destruídos desde 1948, a data da criação do Estado de Israel.
"Se Maria viajasse hoje de Nazaré a Belém, ela veria os problemas pelos quais passamos", diz Sami Nsir, dono do estabelecimento. "Ela iria se sentir mal ao ver que as pessoas não se importam com a causa palestina."
Dali, a reportagem toma a estrada rumo a Belém. No trajeto, o carro é flanqueado pelas montanhas do vale de Marj Ibn Amr, inesperadamente verde após a neve.
       
Editoria de Arte/Folhapress
 
ORIENTAÇÃO
Maria talvez se perdesse por ali. Não há placas indicando a cidade palestina de Jenin, assim como não há transporte público regular.
Ela também correria o risco de ter de encerrar sua viagem. O carro encontra o posto de controle de Gilboa fechado. Em contato com as Forças de Defesa de Israel, a reportagem descobre que o acesso de veículos está impedido devido a um embate entre Exército e palestinos.
A alternativa é contornar a Cisjordânia e procurar uma entrada aberta. A Folha chega a Rihan, também fechada, exceto para colonos. Mas, com a identificação de imprensa, indisponível a Maria, os portões são abertos, após 15 minutos de negociação.
A Maria fictícia chega então à cidade de Nablus.
Lá, o padre Johny Abu Khalil, do patriarcado latino, reclama: "Estou de saco cheio das permissões natalinas".
Sua paróquia tem 220 católicos. Todo ano, ele negocia com a administração israelense para que possam viajar a Jerusalém para o Natal.
"Israel quer que Jerusalém vire um museu e que a Igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus morreu, seja a melhor discoteca do país", reclama.
Khalil não acredita que Maria tentaria ir a Belém hoje. Para ele, ela se contentaria com Jerusalém, se obtivesse uma permissão de viagem.
Na estrada para Jerusalém, o Sol se põe contra o carro, enquanto o rádio toca clássicos libaneses dos anos 80. Há um controle militar na saída de Nablus e outro na entrada de Jerusalém. Palestinos mostram os documentos e as autorizações aos soldados.
MURO
A entrada em Belém é feita pelo muro que separa Israel da Cisjordânia, hoje um mural para pichações e grafites, incluindo clássicos do britânico Banksy, como o que mostra uma garota revistando um soldado israelense.
A barreira fez murchar a loja de Claire Anastas, que vende artesanato diante da parede de concreto. Turistas desistiram de vir, afirma.
"Se Maria entrasse aqui, talvez não conseguisse sair", diz. Ela vende presépios com um muro no meio, em protesto.
O trajeto está quase no fim. A pé, teria levado dez dias. George Rashmawi, que organiza o caminho para peregrinos, afirma que é necessário desviar de assentamentos na Cisjordânia para evitar problemas com as autoridades israelenses. "A viagem fica mais longa", afirma.
Em uma loja diante da Igreja da Natividade, onde se crê que Jesus nasceu, Nadia Hazbun reclama do muro.
"É difícil para os turistas passar pelo muro, então eles não vêm. Na Europa, viajam pelo continente sem passaporte. Aqui, precisam passar pelas barreiras militares."
Ela dá de presente ao repórter um cartão natalino. Um papai Noel dando uma voadora na muralha que separa Israel da Cisjordânia.
"Maria nunca viria de Nazaré até Belém", diz. "Ela se recusaria a ver nosso povo em campos de refugiados."
               
Muhesen Amren/Folhapress
A palestina Claire Anastas mostra presépio diante do muro que separa a Cisjordânia de Israel
A palestina Claire Anastas mostra presépio diante do muro que separa a Cisjordânia de Israel

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/12/1389878-folha-refaz-trajeto-que-maria-teria-percorrido-antes-do-nascimento-de-jesus.shtml

domingo, 12 de janeiro de 2014

Ariel Sharon, uma vida repleta de claridades e sombras

11 de janeiro de 2014 
Gilles Lapouge
Ele deixou este mundo depois de passar os últimos oito anos da sua vida em coma. Em silêncio. Ouvia o que terra ainda lhe dizia? Há pouco tempo neurologistas israelenses e americanos o examinaram. E ficaram surpresos com a intensa atividade cerebral deste homem agonizante que já não pesava mais de 50 quilos. Mas estaria consciente do que se passava à sua volta? Último mistério antes de ele penetrar, algumas semanas depois, no grande segredo da morte.
Sua partida deixará um grande vazio. O poeta francês Victor Hugo já se referiu ao alvoroço que fazem os heróis quando morrem: "Oh, que ruído terrível fazem no crepúsculo, estes carvalhos que abatemos para a fogueira de Hércules".
Ariel Sharon foi um herói. E sua vida repleta de claridades e sombras. Foi um magnífico guerreiro e nos últimos momentos da sua vida consciente, em 2004 e 2005, um político imaginativo. Quantas incoerências em sua vida. Foi detestado e adulado, admirado e desprezado. Mas fica uma certeza: ele foi por vezes o destino doloroso e grandioso de Israel.
"A guerra de independência de Israel não acabou. Toda a minha vida foi passada neste conflito. Combater foi a tarefa da minha geração. E permanecerá a tarefa da próxima", ele afirmou em 2001. E de fato foi um guerreiro autêntico e implacável este homem nascido na Palestina em 1928, filho de um polonês e mãe bielo-russa. Desde antes da independência de Israel e posteriormente ele se manteve na linha de frente de todos os combates - guerra entre israelenses e árabes de 1948-1949, de Suez, dos Seis Dias, do Yom Kippur.
Muitas vezes extrapolou os limites da legalidade. Em 1952, quer formar uma "unidade de comandos especializados em represálias". Seus superiores hierárquicos proíbem. Em 14 de outubro de 1952, sua unidade arrasa o vilarejo de Qibia, na Jordânia, e 69 habitantes são massacrados. Sharon terá de se defender.
No curso das guerras, sua bravura o leva ao ápice. Mas a carreira fulgurante (em 1982 tornou-se ministro da Defesa) sofre uma parada brutal em 1983, quando da invasão do Líbano pelo Exército israelense.
Foi o episódio de Sabra e Chatila.
Falangistas cristãos libaneses atacam os campos de Sabra e Chatila e massacram entre 460 e 4.000 palestinos. O mais inquietante foi que os dois campos estavam sob controle do Exército israelense e ele poderia ter impedido essa carnificina. Ficou impassível e 400.000 israelenses protestaram contra essa tragédia. Uma ação judicial é impetrada. O juiz da Suprema Corte evoca "a responsabilidade pessoal" de Sharon. Este julgamento tinha base? Ninguém saberá decidir. Mas o que é certo é que por alguns anos Sharon fica afastado.
Retorna em 1990. Ocupa postos elevados. Membro dos "falcões", assume a liderança do partido de direita Likud, em 1999, após a demissão de Binyamin Netanyahu. Será ele, por suas provocações em Jerusalém, (visita à Esplanada das Mesquitas e o Monte do Templo) um dos responsáveis pela Segunda Intifada?
Em 2001, torna-se primeiro ministro e é reeleito em março de 2003. Adota a política clássica da direita: segurança máxima, construção de um muro de separação no interior da Cisjordânia e em torno de Jerusalém, criação de colônias.
No final de 2004, a grande reviravolta. Sharon determina a retirada unilateral das colônias israelenses da Faixa de Gaza. Para seus amigos do Likud, é uma consternação. Vergonha. Sharon precisa formar uma aliança precipitada com os socialistas. Em novembro de 2005, ele se demite do Likud e cria um novo partido de centro-direita, o Kadima.
Algumas semanas depois, em 18 de dezembro de 2005, sofre um derrame. Recupera-se rapidamente, mas em 4 de janeiro de 2006 sofre um novo derrame. E entra num coma profundo. Quatro anos depois é transferido para seu "rancho dos Sicômoros", mas o tratamento a domicílio tem um custo exorbitante (300.000 euros por ano) e ele é levado de volta para o hospital. Para os médicos não há esperança, mas os filhos decidem mantê-lo com vida.
Israel continua sua vida tumultuada, heroica e complicada. A Faixa de Gaza está nas mãos dos palestinos do Hamas, e sabemos o que sucederá proximamente. Quanto ao Partido fundado por Sharon, o Kadima, às vésperas do seu derrame, depois do sucesso de Ehud Olmert nas eleições de 2006, perde energia e projeção. Nas eleições legislativas de 2013, é duramente derrotado. Consegue obter apenas dois assentos no Parlamento. Tradução de Terezinha Martino 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Por que os aliados EUA e Israel divergem sobre o Irã?

21/11/2013
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News 
Os Estados Unidos e Israel são e continuarão sendo aliados. Mas, como todos os países do mundo, possuem seus próprios interesses. Na maior parte dos casos, americanos e israelenses estão do mesmo lado no Oriente Médio. Algumas vezes, porém, adotam posições divergentes. Foi assim, por exemplo, na Guerra do Sinai e, mais recentemente, na deposição de Hosni Mubarak no Egito. Aparentemente, o mesmo se repete agora em relação ao Irã.
Washington quer se distanciar do Oriente Médio neste momento. Primeiro porque há uma fadiga com a região depois da guerra do Iraque. Em segundo lugar, porque os EUA estão próximos da independência energética, sem precisar se preocupar tanto em agradar regimes como o da Arábia Saudita.
Por este motivo, o governo de Barack Obama busca uma solução para questões ainda pendentes na região. No Iraque, retirou as tropas. Na Síria, busca evitar um envolvimento direto. Falta ainda tentar uma solução para o conflito Israel-Palestina e para o Irã.
Não vou me aprofundar hoje no conflito Israel-Palestina. Vou manter o foco apenas no do Irã. Para os israelenses, o risco de um Irã nuclear, por menor que seja depois de um acordo, tem uma proporção muito maior do que para os americanos. Os EUA jamais seriam alvejados por uma bomba atômica iraniana. O regime de Teerã não teria capacidade de lançar um míssil ou uma operação contra o território americano. Nova York, Washington, Los Angeles, Detroit e Chicago estão a salvo. Já Israel, mesmo sendo mais poderoso, poderia sim ver o país ser destruído, com uma bomba arrasando Tel Aviv – noto que eu sigo a teoria da mútua destruição assegurada e não acho que o Irã atacaria Israel pois Teerã seria destruída minutos depois. Mas entendo quem discorda de mim.
Isso explica as posições distintas de ambos neste momento. Israel quer a eliminação total do programa nuclear iraniano para existir risco zero. Os EUA, avaliando que o risco zero é impossível, querem um regime com redução acentuada das atividades nucleares e a imposição de um mais intrusivo esquema de inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. Para os israelenses, isso não seria suficiente porque não “zera” a possibilidade de um Irã nuclear.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ameaça iraniana dissuadiu Obama, diz Hezbollah

Teerã se preparou para lançar ofensiva militar contra Israel caso americanos atacassem a Síria, afirma membro de grupo xiita

15 de setembro de 2013
LOURIVAL SANTANNA , ENVIADO ESPECIAL / BEIRUTE - O Estado de S.Paulo
O recuo do presidente Barack Obama com relação a um ataque à Síria e o plano russo de desmantelamento das armas químicas começaram a tomar corpo numa visita a Teerã do subsecretário da ONU para Assuntos Políticos, o diplomata americano Jeffrey Feltman, no dia 26. Segundo um alto funcionário do grupo xiita Hezbollah, o chanceler iraniano Javad Zarif avisou que, se a Síria fosse bombardeada pelos Estados Unidos, o Irã atacaria Israel.
De acordo com essa fonte, Feltman, que até junho do ano passado era secretário assistente do Departamento de Estado americano para o Oriente Médio, foi tentar convencer o Irã a não reagir a um ataque limitado contra o seu aliado, mas não conseguiu. Em vez disso, o Irã ofereceu a saída do banimento das armas químicas.
No dia seguinte à visita de Feltman, o novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, escreveu no seu twitter: "O Irã pede à comunidade internacional que use todo seu poder para prevenir o uso de armas químicas em qualquer lugar do mundo, especialmente na Síria". Rouhani lembrou que o Irã foi vítima de armas químicas na guerra contra o Iraque (1980-88).
Era a senha para a solução apresentada no dia 9 pela Rússia, que também foi avisada de que o Irã e o Hezbollah atacariam Israel, em caso de intervenção americana na Síria. De acordo com a fonte ouvida pelo Estado, o regime iraniano estipulou como prioridade número 1, para o Hezbollah, por ele patrocinado, defender o regime sírio - cuja queda poderia ser precipitada pela intervenção dos EUA. A perda de um aliado na Síria, e sua substituição por um regime sunita sob influência da Arábia Saudita, rival regional do Irã, é considerada uma ameaça existencial pela teocracia iraniana, segundo o funcionário do Hezbollah.
O grupo xiita tem entre 3 mil e 4 mil combatentes na Síria, disse a fonte (Samir Haddad, do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, estimou esse número em 5 mil). Ele disse que Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, costuma ir à Síria, motivar suas tropas. "Ele foi a Qusair", exemplifica, referindo-se à cidade cristã no oeste da Síria, ocupada pela Frente Al-Nusra, ligada à Al-Qaeda, e retomada em junho pela Síria, com ajuda da milícia xiita. O Hezbollah está treinando civis na Síria engajados nos Comitês Populares de Defesa, seguindo o modelo iraniano dos Haras e Taabia, que são milícias de apoio ao regime. "O Exército sírio está aquartelado, não está lutando", explicou. "A maioria dos soldados é sunita, e não obedece ordens de enfrentar os rebeldes (também sunitas na sua maioria)."
Daí a importância de a Síria atacar Israel: o Exército sírio se uniria de novo, contra esse tradicional "inimigo comum". Segundo o alto funcionário, que, como todos no Hezbollah, não está autorizado a dar entrevistas sobre questões militares envolvendo a Síria, Bashar Assad em princípio não queria atacar Israel. O Irã lhe deu um ultimato, avisando que, juntamente com o Hezbollah, atacaria Israel, com ou sem a participação síria.
"Mesmo que vocês não ataquem, eu vou atacar", teria garantido Assad. Segundo o funcionário, a Síria tem mísseis suficientes para atacar Israel durante seis meses. Ao ver a determinação do Irã, a Rússia teria percebido o risco de perder influência, e saído de sua omissão em caso de ataque americano à Síria, prometendo fornecer armas a seu aliado e deslocando mais navios para a região.
Na visão do Irã e do Hezbollah, seria uma guerra devastadora, mas a única forma de preservar a integridade da Síria, deixando de lado as divisões sectárias para enfrentar o vizinho odiado por todos. "O Hezbollah está muito bem armado para essa guerra", disse o funcionário. "Em 2006 (na guerra contra Israel), tínhamos foguetes katiushas, que batiam numa parede e caíam no chão. De lá para cá, o Hezbollah recebeu muitas armas do Irã. Agora, temos mísseis que derrubam um prédio inteiro." Com US$ 1 bilhão doado pelo Irã, o Hezbollah reconstruiu os bairros xiitas devastados pelos bombardeios israelenses em Beirute, no Vale do Bekaa e no sul do Líbano. Ele estima que o grupo tenha 50 mil combatentes (metade do efetivo do Exército brasileiro).
O Hezbollah recebe armas e ajuda financeira pela via terrestre, passando pelo Iraque - cujo governo também é pró-iraniano - e pela Síria. Mas o funcionário disse que essa não é razão principal para defender o regime de Assad: "O Irã consegue enviar ajuda para o Hamas, na Faixa de Gaza". Na visão do Hezbollah, a ameaça, com a queda de Assad, é a instalação de um regime sunita na Síria, hostil à teocracia xiita do Irã.
Segundo o funcionário, todos os 15 integrantes do conselho que assiste o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, concordam que a milícia deve atacar Israel se os EUA intervirem na Síria. "Mas o plano russo é bom", concluiu ele. "A Síria não precisa mais de armas químicas, como no início dos anos 80. E o plano preserva o regime de Assad sem a necessidade de uma guerra, na qual todos sairiam perdendo."

sábado, 10 de agosto de 2013

A pomba da paz, envenenada

Diogo Bercito é correspondente em Jerusalém

08/08/13
Caricatura mostra o premiê Binyamin Netanyahu envenenando a pomba da paz. Crédito Reprodução
Já tive a honra de ler os comentários dos leitores deste Orientalíssimo blog a respeito dos assuntos mais variados, da democracia no Oriente Médio ao movimento gay jerosolimita. Conversamos sobre linguística, sobre preconceito, sobre terrorismo e sobre um par de outras questões. Mas temos nos desviado, talvez por resistência ao atrito, de um dos assuntos mais importantes de toda a região –a paz.
Agora que as negociações foram retomadas entre palestinos e israelenses, sob intenso esforço diplomático do secretário de Estado americano John Kerry, voltamos a imaginar um Oriente Médio sem o conflito que fez deste país um dos lugares mais polêmicos do globo. Alguns de nós olham para o mapa-múndi e imaginam novas fronteiras traçadas, delimitando um futuro Estado palestino. Ao mesmo tempo, as fronteiras com Síria e Líbano finalmente reabertas –pela paz.
Como um estrangeiro na região, me dou o direito de ser otimista, de ler as notícias e de pensar que pode ser que eu tenha a honra de ser o correspondente a noticiar a assinatura dos acordos finais –de paz.
Os pessimistas, no entanto, parecem ser maioria. Como o negociador-chefe palestino Saeb Erekat me disse durante uma entrevista exclusiva (uma das únicas que ele deu, desde o início das negociações), não é de surpreender que as pessoas estejam céticas. Após vinte anos de conversas pós-acordos de Oslo, o que temos em solo são mais extremistas em ambos os lados –e não temos paz.
Mas é consenso também, ao mesmo tempo, que o contexto histórico está mudando. Enfraquecido em sua coalizão de direita, o premiê Binyamin Netanyahu pode se sentir, por exemplo, tentado a um acordo que marcaria sua gestão assim como ex-premiê Menachem Begin (1913-1992) ficou conhecido não pela mão dura, mas por ter negociado o acordo de Camp David com o Egito –recebendo, em 1978, um Nobel da Paz.
Além disso, Israel tem sofrido forte pressão da União Europeia, que parece disposta a aplicar na prática sua posição ideológica de repúdio à ocupação israelense dos territórios palestinos da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. Assim, os acordos assinados com Israel a partir de 2014 terão de registrar claramente que os termos não serão válidos para os assentamentos, pois a rigor não constituem território israelense. O bloco europeu insiste que quer –a paz.
É claro que toda a discussão a respeito de um futuro acordo entre árabes e palestinos é, de certa maneira, feito a partir de pouca informação e muita especulação. As negociações entre Saeb Erekat e Tzipi Livni, ministra da Justiça de Israel, serão feitas em sigilo durante os próximos meses. Mas eu gostaria de saber o que vocês pensam –sobre a paz.
Em tempo, explico a ilustração deste relato. É um desenho publicado pelo jornal alemão “Stuttgarter Zeitung” durante esta semana, mostrando o premiê Netanyahu envenenando a pomba da paz do Oriente médio. Na garrafa de veneno, está escrito “construção de assentamentos”. A embaixada israelense protestou contra o desenho e contra a ideia da morte –da paz.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Prazo de 9 meses para acordo de paz é aceito

Representantes de Israel e da Autoridade Palestina voltam a se reunir em duas semanas; Kerry diz que 'compromisso pessoal' de Obama é essencial

31 de julho de 2013

WASHINGTON - O Estado de S.Paulo
Negociadores palestinos e israelenses reunidos em Washington concluíram ontem em Washington a primeira rodada de discussões sobre um futuro acordo de paz e concordaram em voltar a se encontrar dentro de duas semanas. A reunião deve ocorrer em Israel ou nos territórios ocupados.
O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que ambos concordaram em tentar chegar a um acordo final em nove meses.
O principal negociador palestino, Saeb Erekat, pediu esforço na criação de um Estado independente e comemorou que "todos os assuntos estejam sendo discutidos". "É hora de os palestinos terem um Estado soberano e próprio para viver com paz e dignidade."
"Israel está esperançoso, mas não pode ser ingênuo", disse a ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni. "Viemos de uma região instável e problemática. Não podemos nos permitir isso."
As duas equipes de negociadores se reuniram na manhã de ontem com o presidente Barack Obama, na Casa Branca. Segundo Kerry, o "compromisso pessoal" de Obama com o reatamento destas negociações de paz, paralisadas desde 2010, é essencial.
Kerry admitiu que o caminho para se chegar à paz será difícil, mas disse estar convencido de que um acordo será alcançado graças aos esforços e à experiência das equipes de negociadores. "Sei que o caminho é difícil. Não faltam céticos apaixonados. Mas com negociadores capazes e respeitados, estou convencido de que podemos chegar lá", acrescentou. Ele também afirmou que as partes devem estar comprometidas com a tomada de decisões difíceis e o objetivo continua sendo a existência de dois Estados um ao lado do outro em paz e segurança. "Tanto israelenses como palestinos têm preocupações de segurança legítimas", salientou o chefe da diplomacia americana.
Livni e Erekat iniciaram na segunda-feira em Washington as primeiras conversas de paz diretas desde 2010, com um jantar no Departamento de Estado liderado por Kerry.
Respaldo. O Quarteto para o Oriente Médio, formado por Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Nações Unidas, fez ontem um apelo a Israel e aos palestinos que não "minem a confiança" mútua no momento em que reiniciam as negociações.
O grupo prometeu seu apoio às duas partes no "compromisso de conseguir uma solução negociada de dois estados no prazo acertado de nove meses". / AP, EFE e AFP

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Novo presidente do Irã zomba de Israel, um 'país miserável'

18/07/2013

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ


O presidente eleito do Irã, Hasan Rowhani, rebateu ontem ameaças de ataque israelense e zombou do Estado judaico. "Quando um país regional miserável diz que todas as opções estão sobre a mesa, dá vontade de rir", afirmou Rowhani em Teerã, durante evento em homenagem aos veteranos da guerra Irã-Iraque (1980-1988).
"Quem são os sionistas para nos ameaçar?", indagou o presidente eleito, que assume em agosto no lugar de Mahmoud Ahmadinejad.
As declarações aparentam ser uma resposta ao premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que no domingo voltou a deixar no ar a possibilidade de ordenar bombardeio ao Irã e criticou Rowhani.
Em entrevista à emissora americana de TV CBS, Netanyahu disse que o Irã está "se aproximando da linha vermelha" pela qual, segundo o premiê, Teerã terá urânio enriquecido suficiente para fabricar a bomba atômica, limiar considerado inaceitável para o governo israelense.
Única potência nuclear do Oriente Médio, Israel diz encarar o programa nuclear iraniano como ameaça à sua existência e questiona a eficiência de negociações diplomáticas.
Teerã nega querer um arsenal nuclear e argumenta que tratados internacionais lhe garantem o direito de enriquecer urânio para fins energéticos e medicinais.
Rowhani, que foi negociador nuclear chefe do Irã ate 2005, despertou entusiasmo em setores do Ocidente ao prometer mais flexibilidade no diálogo com as potências.
Especula-se que o presidente eleito se disponha a reduzir o grau de pureza do enriquecimento de urânio, o que daria mais garantias de que o programa nuclear não será desviado para fins militares.
Rowhani está submetido à autoridade do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, mas se espera que os dois tenham acordado retomar uma abordagem mais conciliadora.
Mas Netanyahu disse à CBS que Rowhani é um "lobo em pele de cordeiro", que "sorri enquanto constrói a bomba".
Há temores de que um eventual fracasso na próxima rodada de negociações nucleares, ainda sem data, leve Israel a atacar o Irã, o que poderia gerar consequências devastadoras na região.
ACENO À LINHA DURA
Cerca de cinco semanas após triunfar nas urnas, Rowhani vem manobrando para costurar alianças necessárias à implementação de sua agenda de viés reformista.
Após sugerir que buscará melhor relação com o Ocidente e dará maiores liberdades individuais aos iranianos, ele adotou retórica mais sintonizada com as forças conservadoras que dominam o regime e cujo apoio político é necessário ao novo governo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Histórias sobre Gaza



Palestina nas ruas de Gaza. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Foram, em dois dias, 36 comentários a respeito do que vocês pensam sobre Gaza. Do que concluo, apesar de poder estar enganado, que os leitores deste orientalíssimo blog estão bem informados a respeito da situação na região –mas talvez tenham uma imagem incompleta de como é a vida nesse estreito poeirento de terra.
Pode ser instrutivo, então, contar um pouco de como foi minha viagem durante esta semana.
Cheguei a Gaza pela passagem norte, chamada Erez. O terminal israelense, que parece um aeroporto, envolve segurança máxima. As permissões de entrada são raras, basicamente a poucos entre os moradores, a organizações humanitárias e a membros da imprensa em posse de credencial do governo. Filas? Nada.
Do lado palestino, são dois checkpoints. Primeiro, um ponto de controle de passaporte operado pelas autoridades do Fatah, facção palestina que controla o território da Cisjordânia. Dali, pego um táxi para o checkpoint seguinte, já dentro da faixa de Gaza. Desta vez, são homens do Hamas, que checam atentamente minha autorização de entrada (uma espécie de visto que obtive antes da viagem) e inspecionam minha bagagem. Então tenho meia hora até meu hotel, de frente para o mar.
As imagens são confusas. Carros importados, nas ruas, mas também dezenas de burrinhos de carga –um deles morre, e o trânsito emperra enquanto o cadáver é arrastado. Lojas de roupa e, em cima delas, outdoors com imagens de soldados com metralhadoras. Tudo é de concreto, e de repente vejo um agradável parque arborizado.
Até mesmo a praia embaralha as ideias. À noite, enquanto janto, noto que os jovens estão deitados na areia, conversando. Alguns deles apoiam um laptop no colo, enquanto observam o Mediterrâneo. Mas não tiram a roupa para entrar na água –nem meninos, nem meninas.
Eu queria poder imprimir minhas memórias e entregá-las a vocês em uma pasta. Descrever é difícil. De dentro do táxi, olhava para as ruas e tentava comparar a cena com outros lugares que conheço. Me parece mais arejado do que Damasco, mas menos sofisticado. Mais limpo do que a Dar es Salam, mas mais desumanizado. Mais organizado do que o Cairo,  mas menos vivo. Se acordasse de repente em uma rua qualquer, poderia acreditar que estava em um bairro pobre de Tel Aviv.
É claro que nada disso resolve as questões que estão por baixo da pele, em Gaza. O bloqueio israelense, que debilita a economia local, por exemplo. Ou a tomada do estreito pelos extremistas do Hamas, que tentam impôr sua agenda fundamentalista na população –o que, em última análise, não pode ser visto como um fenômeno desvinculado da política regional, inclusive israelense.

Crédito Editoria de Arte/Folhapress
Gaza é tudo isso o que vocês disseram. “Prédios destruídos”. “Caos”. “Triste”. Mas, de alguma maneira, quando releio os comentários deixados neste blog, me parece que essas palavras não compõem a imagem real –a cidade em que conheci, por acaso, o simpático rapper MC Gaza, que me conta que vai a Israel pela primeira vez para fazer um show. A cidade em que provei um peixe apimentado, pescado na noite anterior, e bebi leite quente com zátar olhando para o pôr do Sol.
Cerca de 70% da população está abaixo da linha da  pobreza, e a renda per capita ali é a 164ª no ranking mundial. O serviço de saúde é precário, a eletricidade é inconstante, o acesso a água potável é limitado. Mas o “suq”, o mercado, um dos corações de uma cidade árabe, ainda bate, entre barraquinhas de vegetais e quinquilharias, entre vendedores de ouro e fiéis rumo às orações de fim de tarde, embalados pelo canto dos minaretes.

Caminhada na praia, no fim de tarde, em Gaza. Crédito Diogo Bercito/Folhapress

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Os 10 lugares mais quentes do planeta


Veja quais são as regiões mais 'infernais' do globo


Há gente que detesta o verão, mas há quem odeia o inverno e só fica satisfeito quando está um calor de rachar. Mas, e se o tempo for tão quente que ultrapasse os 40°C diariamente, atinja picos de até 60°C, em um lugar deserto, sem uma chuva sequer para refrescar? Selecionamos, abaixo, os dez lugares mais quentes do planeta, que podem fazer até os mais apaixonados pelo verão mudarem de ideia!

  (Foto: Hervé Sthioul)
1. Dallol, Etiópia
Conhecida como o lugar habitado mais quente do mundo, a cidade situada no deserto de Danakil, na parte oriental do país, chega a registrar médias de temperatura máxima acima dos 41°C. Isso se deve também à proximidade com o vulcão Dallol, em que as temperaturas diurnas chegam a 60°C. Lá, formações de minerais saem literalmente das entranhas da terra.
  (Foto: Bertramz)
2. Wadi Halfa, Sudão
Localizada em uma região de muita pobreza no centro do deserto do Saara, na fronteira com o Egito, o local chega a atingir picos de calor, a temperaturas de quase 53°C. Chegar lá também não é fácil. É preciso pegar, em Cartum, um trem que passa pelas margens do rio Nilo e por muitas ruínas milenares. Não há hotéis na cidade, apenas alojamentos, e o clima extremamente seco recebe um reforço do vento constante e muito quente.
  (Foto: Jim Gordon)
3. Vale da Morte, Califórnia, EUAReconhecido como um dos lugares mais quentes do mundo pela Organização Mundial de Meteorologia, o vale da Morte fica no deserto de Mojave, próximo à divisa com o Estado de Nevada. É lá, também, onde fica a maior fonte de borato do mundo, em uma mina a céu aberto. A temperatura máxima da região já chegou a 56,7°C.
  (Foto: Jim Gordon )
4. Deserto Lut, Irã
Considerado o 25º maior deserto do mundo, o Lut está localizado no sudeste do Irã e já chegou a registrar temperaturas de superfície acima de 70°C, medida pela Nasa. Também é marcado pelos lagos Dasht, que se estende para o sul por cerca de 300 km.
  (Foto: Betta27)
5. Tirat Tsvi, Israel
Com temperaturas escaldantes, a cidade, pertencente à área de HaZafon, é o lugar mais quente da Ásia, com temperaturas que beiram os 54ºC. A cidade funciona, também, como kibutz e se situa no vale Beit Shean, a 10 km ao sul de Beit Shean, em Israel, e faz fronteira a oeste com o rio Jordão.
  (Foto: Annabel Symington)
6. Timbuktu, Mali
Localizada no Mali, país do oeste africano, e nas proximidades do rio Niger, a cidade foi fundada por volta de 1100 para servir as caravanas que traziam sal das minas do deserto do Saara, em troca de ouro e escravos. Em 1330, a região era parte do império do Mali e, dois séculos depois, passou a ser governada pelo império Songhay, fazendo de Timbuktu uma importante cidade universitária e capital religiosa, habitada por muçulmanos, cristãos e judeus. Também é famosa pelas altas temperaturas, que já chegaram a 54,4ºC.
  (Foto: GondwanaGirl)
7. Queesland, Austrália
A temperatura já chegou a quase 69ºC no Estado australiano, situado no nordeste do país, que ocupa mais de 20% da Austrália. Marcada por vastas florestas tropicais, com clima seco e semidesértico, a região atrai turistas do mundo inteiro todos os anos, graças às ilhas costeiras e à grande barreira de coral.
  (Foto: Reprodução)
8. Turfan, China
Com calor de mais de 50ºC, a área fica a noroeste da província chinesa de Xinjiang e é repleta de templos budistas em meio à paisagem desértica. O lugar, que também é um importante centro de comércio, é ainda conhecido como Tulufan. O oásis fértil é rodeado por montanhas, inclusive pelo vulcão Turfan.
  (Foto: Madhif)
9. Kebili, Tunísia
A cidade localizada no sul da Tunísia e capital da província homônima já chegou a registrar picos de 55ºC. Também pudera, já que a região fica à beira de um oásis no deserto do Saara, a noroeste do Chott el Jerid e a nordeste do Chott el Fejaj. Com cerca de 100 mil tamareiras, é um dos principais centros comerciais da região.
  (Foto: Kurt Dundy)
10. Ghadames, Líbia
Dividida em duas partes – a antiga e a nova –, a cidade tem pouco mais de 15 mil habitantes e já chegou a registrar temperaturas de 55ºC. Além de ter sido declarada Patrimônio Mundial pela Unesco, uma das principais atrações do local é o lago com água salgada que a circunda por cerca de 20 km, no distrito de Nalut, a sudoeste de Trípoli, próximo às fronteiras com a Argélia e a Tunísia.

http://casavogue.globo.com/LazerCultura/noticia/2012/09/os-10-lugares-mais-quentes-do-planeta.html