Babulal Gaur, do partido do primeiro-ministro Narendra Modi, afirma que para ser crime, o estupro precisa ser denunciado na polícia
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral
Edgar Su/Reuters |
Enrico Fabian/The New York Times | ||
![]() | ||
Em Barsana, trabalhador indiano monta cama em meio a gado para inibir criminosos |
A presidente Dilma Rousseff concluiu neste sábado sua primeira viagem oficial à Índia, com uma visita privada ao Taj Mahal, na cidade de Agra, antes de retornar ao Brasil.
Durante a estadia de cinco dias no país, Dilma assistiu a 4ª cúpula do grupo de potências emergentes Brics, que reúne Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul.
Dilma Rousseff concluiu sua primeira viagem oficial à Índia, com uma visita privada ao Taj Mahal, em Agra
A visita da governante brasileira serviu para afiançar a relação bilateral com a Índia, um país com o qual Brasília quer unir forças no cenário global para aumentar o peso de ambos nos organismos internacionais de tomada de decisões.
"Emergimos como novos polos de crescimento na economia global (...) e estipulamos aumentar nossas consultas sobre a reforma da governança internacional", declarou na sexta-feira o primeiro-ministro Singh em seu comparecimento conjunto com Dilma.
Dilma classificou como "fundamental" a aliança com a Índia para influenciar na agenda internacional, e citou organismos financeiros como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional entre os fóruns nos quais ambos os países buscam reforçar sua presença.
A presidente brasileira também defendeu por buscar "novas oportunidades" de negócio entre os países e elevar sua troca comercial até US$ 15 bilhões em 2015, frente aos US$ 9,2 bilhões registrados no ano passado.
A cúpula dos Brics girou ainda em torno do reforço do peso das potências emergentes nas instituições internacionais, e de impulso aos laços econômicos entre os cinco estados do grupo.
Nesta linha, os Brics acordaram estudar daqui a um ano a criação de um banco de desenvolvimento para financiar projetos próprios, e assinaram dois acordos de crédito, entre eles um que valida o uso de moedas locais.
A presidente Dilma Rousseff chegou nesta terça-feira a Nova Déli para participar na quarta e na quinta da cúpula dos Brics, já sabendo que esse grupo das cinco grandes economias emergentes não lançará nem apoiará candidato à presidência do Banco Mundial.
O anúncio foi feito por Sudhir Vyas, secretário de Assuntos Econômicos do Ministério indiano de Relações Exteriores, e confirmado por delegados brasileiros à cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
O fato de não haver candidato comum ou apoio conjunto não significa que cada país do grupo não possa apoiar um dos três nomes já lançados. A África do Sul, por exemplo, fechou com a ministra nigeriana de Economia, Ngozi Okonjo-Iweala, que, aliás, tem o apoio de todos os países africanos.
Os outros dois candidatos são o ex-ministro colombiano José Antonio Ocampo e o norte-americano de origem coreana, Jim Yong Kim, lançado diretamente pelo presidente Barack Obama. Pela tradição do Banco desde a sua criação em 1944, a presidência cabe a um indicado dos Estados Unidos, assim como o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional é escolhido pela Europa.
Os Brics já haviam se omitido na escolha do sucessor do francês Dominique Strauss-Khan no FMI, depois que este foi abatido por um escândalo de natureza sexual.
Omitem-se de novo agora, depois que Robert Zoellick anunciou seu afastamento, embora o objetivo inicial do grupo fosse exatamente o de modificar o gerenciamento do sistema econômico-financeiro mundial, a cargo do Banco Mundial e do FMI.
MÉRITO
A embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, principal negociadora brasileira nos BRICS, não acha que seja exatamente uma omissão. "Não se trata de um problema de nomes, mas de mudar a maneira de escolher os líderes dessas instituições. Deveria ser por mérito e não por critério geográfico", diz.
Mas, em conversas informais, diplomatas brasileiros deram a entender que acabará prevalecendo, também no Banco Mundial, o critério tradicional - e geográfico, com a eleição de Yong Kim. "Se algum país quiser que o presidente Barack Obama perca a eleição votará em outro candidato", brincou um deles com a Folha.com.
É uma alusão ao óbvio fato de que, se os Estados Unidos perderem, com Obama na presidência, um posto que ocupam há 67 anos, será um vexame tão formidável que ele não será reeleito.
CRISE EUROPEIA
A discussão econômica da cúpula acabará centrada de novo na crise europeia. Os BRICS têm sido sondados para aumentar seu aporte ao Fundo Monetário Internacional, que, por sua vez, daria respaldo financeiro aos países europeus atolados em dívidas.
Mas, para que o aporte de fato ocorra, os Brics querem que, antes, os europeus definam o tamanho do que vem sendo chamado de "firewall"- um muro de proteção para evitar que o contágio da crise grega e portuguesa atinja os grandes países da zona euro, também com problemas, casos de Espanha e Itália.
A omissão dos Brics nos casos do FMI e do Banco Mundial revela claramente como ainda é incipiente a capacidade de coordenação entre os países-membros, que, além disso, têm divergências internas a resolver.
Prova-o outra das propostas para a cúpula, a de um acordo para a concessão de empréstimos em yuan, a moeda chinesa, para os parceiros do grupo.
Parece uma iniciativa simpática, mas "é importante lembrar que os empréstimos chineses vêm atados a condicionamentos", diz Samir Kapadia, pesquisador do Conselho Indiano de Relações Globais.
O Brasil já sentiu o peso dos condicionamentos: a Vale recebeu, em 2010, empréstimo chinês de US$ 1,23 bilhão para a construção de 12 cargueiros.
Aceitou que fossem fabricados na China, para ira do então presidente Lula, na esperança de que os chineses retribuíssem com a permissão para que os navios transportassem grandes quantidades de minério de ferro para a China.
A primeira tentativa fracassou, por pressão das concorrentes chinesas, uma delas a poderosa estatal Cosco.
O tema ainda está em negociações entre os dois governos.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1067746-brics-omitem-se-em-indicacao-para-banco-mundial.shtml
Na "nova" Índia frequentemente obcecada pela riqueza e o status, onde batedores de críquete e astros de Bollywood são idolatrados, Anna Hazare é uma figura que parece vinda de uma era anterior, aparentemente ultrapassada. Sua boina branca pontuda e suas roupas simples de algodão branco evocam uma simplicidade digna de Gandhi. Sua aparência rural despretensiosa é algo que normalmente poderia suscitar risinhos de escárnio da elite urbana indiana.
Mas Hazare, 74 anos, emergiu como o rosto improvável de um movimento popular acalorado na Índia, uma efusão de sentimento público que se concentrou no combate à corrupção, mas também exprime ansiedades mais profundas numa sociedade fustigada pelas mudanças.
Sua prisão, na terça-feira, feita quando ele estava a caminho de um parque em Nova Déli onde pretendia iniciar uma greve de fome como parte de sua campanha contra a corrupção, levou milhares de pessoas a sair para as ruas de cidades em todo o país. Sob pressão pública, as autoridades tentaram libertá-lo horas depois, mas Hazare se negou a deixar a prisão a não ser que fosse libertado incondicionalmente. Na quinta-feira os dois lados chegaram a um acordo, e a expectativa era que ele deixasse a prisão na sexta-feira para liderar uma greve de fome e um protesto de massa no centro de Nova Déli para reforçar sua reivindicação de que o governo crie uma agência anticorrupção poderosa e independente.
Saurabh Das/AP
|
O clamor público que Hazare desencadeou suscitou comparações inevitáveis com os levantes democráticos da primavera árabe. Mas a maioria dos analistas concorda que o movimento da Índia é diferente. À sua própria maneira, contudo, ela pode mostrar não ser menos importante.
A Índia já possui as liberdades democráticas reivindicadas pelos manifestantes no Oriente Médio e norte da África, e, após duas décadas de crescimento econômico, sua influência global é crescente. No entanto, o país também está passando pelo que um observador descreveu como um período "de agitação", com a explosão de frustrações em torno das rodovias ruins, escolas de baixo nível, inflação, disparidade crescente de renda e corrupção oficial onipresente.
Em cada um desses problemas também está presente uma desilusão crescente com o processo político da Índia e uma desconexão cada vez maior entre a classe governante e os governados, algo que torna o problema da corrupção especialmente explosivo. À medida que as multidões que apóiam Hazare foram crescendo e ficando mais acaloradas, esta semana, inúmeras pessoas pareceram estar chegando às ruas de Nova Déli contando histórias sobre corrupção oficial.
"A classe média é a mais afetada pela corrupção", disse Asha Bhardaaj, uma mulher que viajara mais de 48 quilômetros dos subúrbios para participar de uma manifestação. "A classe alta não é afetada. Ela pode conseguir o que precisa, pagando por isso."
A atração exercida por Hazare parece ter sua origem em parte nos valores tradicionais que ele personifica. Hazare é um ativista social de longa data que vem fazendo campanha contra a corrupção há quase duas décadas no Estado de Maharashtra, vivendo de uma pensão militar e financiando obras beneficentes por meio de donativos. Se suas roupas evocam Mahatma Gandhi, o fundador da Índia, o mesmo pode ser dito de suas táticas de protesto não violentas: greves de fome e marchas pacíficas.
Mas Hazare e seus assessores já mostraram que são hábeis em lidar com as exigências da política moderna. Eles superaram estrategicamente a polícia e as autoridades governamentais que tentaram desarmar o movimento anticorrupção, depois de a decisão ter se mostrado um tiro que saiu pela culatra. Além disso, eles vêm explorando a cobertura incessante, muitas vezes sensacionalista feita pelas emissoras de TV indianas para aumentar o apoio público para sua causa. Hoje o rosto de Hazare é visível em quase todos os lugares da Índia.
Enquanto isso, o Partido Nacional do Congresso, que está no poder, vem passando a impressão de estar assustado, despreparado para o ressentimento expresso contra o governo e incapaz de apresentar um argumento contrário coerente. Um porta-voz do partido lançou um ataque pessoal contra Hazare, descrevendo-o como uma figura corrompida, enquanto outro acusou os Estados Unidos de dar apoio ao movimento anticorrupção.
"Este é um momento moral", disse Jayaprakash Narayan, um ativista social da cidade de Hyderabad. "As pessoas estão fartas da corrupção. E o governo não vem mostrando tino político nenhum para tratar com isso. Há muito sentimento de revolta no país, um desejo de acabar não apenas com a corrupção, mas com a política tal como ela é feita hoje."
Hazare nasceu em 1937 na zona rural de Maharashtra, com o nome de Kisan Baburao Hazare. Ele ainda fala o marathi como sua primeira língua. Mais tarde, assumiu o nome Anna. Além de sua admiração por Gandhi, ele tirou inspiração de Swami Vivekananda, um reformista destacado do século 19. Tendo topado com os ensinamentos de Vivekananda enquanto servia no exército indiano, Hazare decidiu dedicar sua vida ao serviço público depois de ter escapado da morte por pouco enquanto atuava na fronteira do Paquistão, segundo sua biografia oficial.
Ele serviu o exército por 15 anos, o que lhe deu direito a uma pensão, e aposentou-se no Maharashtra, passando a dedicar-se ao trabalho social. Hazare já recebeu dois dos mais importantes prêmios civis da Índia por seu trabalho, que inclui esforços para ajudar flagelados da seca e o trabalho para criar um "vilarejo modelo", sustentável, nos moldes propostos por Gandhi.
Anna Hazare vem ganhando destaque nacional grande desde a primavera deste ano, quando ele veio a Nova Déli para iniciar uma greve de fome para reivindicar que o governo apresente ao Parlamento um projeto de lei para a criação da agência anticorrupção, conhecida como uma "lokpal". Quando, inesperadamente, milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar sua reivindicação, o governo convidou o Time Anna para unir-se a um comitê especial que iria redigir a lei da lokpal.
Durante várias semanas no início do verão Hazare fez visitas periódicas a uma casa de hóspedes do governo em Nova Déli, enquanto participava de reuniões do comitê. Em entrevista que concedeu no início de junho, ele falou várias vezes em tom dramático sobre a necessidade de eliminar a corrupção, prevendo também que o povo voltaria a lhe dar seu apoio, se fosse preciso.
Ele vinha percorrendo o país, aparecendo em comícios para angariar apoio para a lokpal.
Os métodos e as metas de Hazare não causam boa impressão em todos. Críticos o acusaram de tentar sequestrar o processo democrático por meio de táticas de pressão. Outros avisaram que o tipo de lokpal que ele visualiza poderia prejudicar o equilíbrio das instituições democráticas do país, acusando seu grupo de intransigência.
As negociações em torno da legislação da lokpal acabaram fracassando em junho. Desde então o governo apresentou um projeto de lei ao Parlamento durante a sessão atual deste, mas Hazare o criticou, dizendo é brando demais. Esta semana ele veio a Nova Déli para iniciar nova greve de fome, quando a polícia o deteve.
Sob o acordo fechado para sua libertação, Hazare concordou em limitar sua greve de fome a 15 dias no máximo, e a polícia disse que vai revogar as restrições impostas inicialmente ao número de simpatizantes autorizados a assistir ao protesto.
Diante da prisão de Tihar e em outros pontos da cidade, as pessoas vêm gritando o nome de Hazare e expressando seu repúdio à onipresença da corrupção no cotidiano. Um universitário reclamou, dizendo que as famílias ricas conseguem comprar o ingresso de seus filhos nas melhores faculdades.l O dono de uma transportadora se queixou de ter que pagar propina de 10% a um funcionário para conseguir um certificado que comprova que pagou o imposto de transporte sobre seu veículo.
"Hoje, quando estávamos vindo para cá, um policial do trânsito parou nosso veículo e sugeriu que lhe déssemos algum dinheiro", contou Ajab Singh Gujar, o dono da transportadora. "Eu gritei 'vitória a Anna Hazare!'. O policial nos deixou passar na mesma hora, sem pagar propina nenhuma."
Tradução de Clara Allain
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/962873-eco-de-gandhi-da-voz-a-ira-dos-indianos.shtml