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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O que sobra depois de esgotar a Cantareira e o volume morto?

Gota d´água | 16/05/2014 

Especialistas dizem que, ao evitar racionamento, SP vive ilusão da abundância em plena escassez de água, e que uso do volume morto deveria ser “última esperança”

Nacho Doce/Reuters
Solo ressecado é visto na represa de Jaguary, em Bragança Paulista
Solo ressecado é visto na represa de Jaguary, em Bragança Paulista
São Paulo – Faltam 75 dias para o volume útil do sistema Cantareira esgotar. Mas, na Grande São Paulo, é como se nada estivesse acontecendo. Um turista a passeio, desligado do noticiário, talvez nem se dê conta que a região atravessa sua pior crise de seca, evento que, segundo estudo encomendado pelo próprio governo paulista, ocorre só a cada 3.378 anos.
Paulo Whitaker/Reuters
Vista do coletor de água no sistema de abastecimento de água da Cantareira na represa de Jaguari em Joanópolis
Vista do coletor de água no sistema de abastecimento de água da Cantareira na represa de Jaguari em Joanópolis
Até mesmo aquele morador que esguicha água com a mangueira na calçada pode ser outro à margem do problema. Afinal, pelo discurso oficial, "água não falta na torneira"  apesar da multiplicação de reclamações sobre supostas interrupções no abastecimento.
Racionamento? Não é o caso, diz o governo.
Especialistas ouvidos por EXAME.com definem o quadro como uma ilusão da abundância em plena escassez, com consequências nefastas para o meio ambiente, a economia e para o próprio bem-estarda população.
Qualquer pessoa que entenda um pouco de gestão de recursos hídricos sabe que uma das principais estratégias para enfrentar qualquer quadro de escassez crítica de água passa pela redução do desperdício, a começar pelas perdas na distribuição (que em SP impressionam), e do consumo excessivo.
Enquanto municípios da região do PCJ, Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, adotam o racionamento, a região metropolitana tomou a contramão e, assim, tem passado praticamente incólume a toda a crise.
Ações de bonificação para quem economiza água em casa e, mais recentemente, de multas para quem extrapola, ajudam, mas, como se vê, não salvam o sistema do colapso. A olhos vistos, a Cantarareira entra, dia após dia, na UTI.
A negação só agrava o quadro
Ontem, começou a captação da água do chamado “volume morto”.
Ao todo, são cerca de 400 milhões de metros cúbicos de água localizados abaixo do nível das comportas. Com esse back-up, o nível de água do Sistema Cantareira alcançou 26,7%, um aumento de 18,5 pontos percentuais no que foi registrado ontem, 8,2%, o menor nível de sua história.
O uso antecipado dessa reserva estratégica preocupa especialistas em recursos hídricos.
“Se para manter o atual ritmo de consumo você utilizar todo o volume do Cantareira e também do volume morto, é capaz de só ter água por mais três meses”, afirma o secretário executivo do PCJ, entidade que representa 75 cidades abrangidas pela bacia e grandes empresas usuárias da água, Francisco Lahoz.
“E isso sem nem chegar a outubro, a época da chuva. Pior, e se chegar lá e não chover o suficiente, como ocorreu nos últimos dois anos?”, questiona.
Ele não está sozinho.
A Agência Nacional de Águas (ANA) junto com o Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) anunciaram, na última terça, que mesmo com a utilização do volume útil restante e do volume morto não haverá disponibilidade hídrica suficiente para abastecimento, durante o pico da estiagem, entre os meses de agosto e setembro.
A saída lógica seria tentar preservar o Cantareira, com a redução do consumo, e adiar a retirada do volume morto.
Mas, sozinha, a ANA não tem poder para declarar racionamento nos municípios, manobra prevista no Decreto 3692/2000.
A Agência só pode declarar o chamado racionamento preventivo caso municípios e governos estaduais declararem estado de emergência ou calamidade pública.
Para a Sabesp, essa não parece ser uma preocupação latente.
"Somente se não chover até outubro é que teremos problemas", disse, nesta semana, o diretor de relações com investidores da Sabesp, Mario Sampaio.
Qual será o plano C? Procurada pela redação, a Sabesp não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
Perde o meio ambiente, perde a economia
Esgotar a Cantareira traz efeitos perigosos e de curto prazo. Se não tiver chuva suficiente em outubro – suficiente mesmo, para recuperar o solo ressecado e encher o sistema –, “vai ser o caos”, alerta Lahoz, do PCJ.
O especialista explica que qualquer metodologia de abastecimento público recomenda que se libere no máximo 70% da vazão que entra, assim você permite a recuperação do manancial.
“É questão de pensar na sustentabilidade econômica do país, que está ameaçada por um manejo equivocado da Cantareira”, sustenta.
Deixar o manancial se esgotar também gera graves efeitos ambientais.
“Quando eu esgoto uma represa, eu esgoto os lençóis freáticos do entorno e afeto o ecossistema. O fato de ainda ter água na torneira não significa que os problemas ainda não surgiram”, pondera a bióloga Silvia Regina Gobbo, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Ela critica o uso antecipado do volume morto: “Estamos gastando uma água que a gente não sabe se vai ter”.
“Digamos que exploramos o volume morto e ele acabe. O começo da chuva não será suficiente para recuperar o sistema, será preciso mais tempo. Muitos fatores influenciam esse processo, eu perco água por evaporação, perco porque ela infiltra no solo, não é uma recuperação tão rápida”, completa.
Os prejuízos são ainda incalculáveis e permanentes para algumas espécies da fauna e da flora.
À medida que o volume dos rios diminui, poluentes que se acumulam no fundo começam a se mover, contaminando as águas, com reflexos imediatos para os peixes e outros animais que não recebem água tratada.
Nos rios do PCJ, a baixa vazão pode estar relacionada à mortandade de cascudos no Rio Camanducaia, na altura de Amparo, registrada em fevereiro. A espécie é uma das mais resistentes e vive no fundo dos mananciais.
Esgotar o sistema ainda gera impacto nos aquíferos, segundo a especialista.
A região de Piracicaba, por exemplo, é ponto de recarga do aquífero Guarani. O rio é mantido pelo aquífero em época de estiagem. Mas os aquíferos estão baixos este ano e podem afetar a perenidade dos rios.
Gestão em xeque
Faz pelo menos quatro anos que o Estado de São Paulo está a par dos riscos de desabastecimento de água na Região Metropolitana.
Em dezembro de 2009, o relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP, não só alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água.
O estudo afirmava que o sistema da Cantareira tinha "déficits de grande magnitude". Entre as recomendações feitas pelo relatório estavam a instauração de processos de monitoramento de chuvas e vazões do reservatório e implementação de postos pluviométricos.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o promotor Rodrigo Sanches Garcia, do Grupo Especial de Defesa do Meio Ambiente, afirmou que a Sabesp já tinha conhecimento sobre a necessidade de melhorias há mais tempo.
"Na outorga de 2004, uma das condicionantes era que a Sabesp tivesse um plano de diminuição de dependência do Cantareira. O grande problema foi a demora de planejamento", contou.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um inquérito civil para esclarecer a crise no Sistema Cantareira.
Além de considerar a falta de chuvas sobre as bacias hidrográficas que alimentam a Cantareira nos primeiros meses do ano, o inquérito vai apurar informações sobre a possibilidade de erros de gestão da Sabesp.
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/o-que-sobra-depois-de-esgotar-a-cantareira-e-o-volume-morto

domingo, 4 de maio de 2014

A operação para sugar água ainda 'intocável'

Operários trabalham a toque de caixa para a captação de reserva começar dia 15

03 de maio de 2014
Fabio Leite - O Estado de S. Paulo
É preciso sair da rodovia e dirigir por 2,3 quilômetros em uma estradinha de terra batida, no limite entre as cidades de Piracaia e Joanópolis, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, para encontrar os litros de água que restam nas represas Jaguari-Jacareí. É no local, que virou um enorme vale por causa da pior estiagem dos últimos 84 anos, que cerca de 25 operários trabalham a toque de caixa para finalizar as obras de captação de uma reserva profunda até agora intocável, o chamado “volume morto” do Sistema Cantareira.
Inédita e polêmica, a retirada da água represada abaixo do nível mínimo de captação começa no próximo dia 15 de maio nos reservatórios que representam 80% da capacidade total do manancial, mas que estão com menos de 3% do volume armazenado. A escassez hídrica impressiona quem passa pelos 13 quilômetros da Rodovia José Augusto Freire (SP-36) entre as duas cidades do interior. Onde antes era possível encontrar jovens saltando da ponte sobre a água, agora moradores estacionam no acostamento para fotografar a mata que restou no solo.
A trilha até a água leva inevitavelmente à obra do “volume morto” que acontece no túnel 7 da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). É lá que a empresa está instalando o conjunto de bombas flutuantes que vai sugar até 2 mil litros de água do fundo dos reservatórios e transpor por meio de tubulações especiais até a entrada do último túnel de captação. Dali, a água passa pelas represas Cachoeira, em Atibaia, Atibainha, em Nazaré Paulista, e Paiva Castro, em Mairiporã, até chegar à estação de tratamento Guaraú, na zona norte da capital paulista.
O mesmo procedimento está sendo feito no reservatório Atibainha, que tem 12% da capacidade do Jaguari-Jacareí, mas ainda está com cerca de 50% do volume armazenado e deve secar em “meados de julho”, segundo o comitê anticrise que monitora o Cantareira. As duas obras devem custar cerca de R$ 80 milhões. Ao todo, a Sabesp pretende captar cerca de 190 bilhões de litros da reserva profunda, praticamente metade dos 400 bilhões do volume captável. Pelos cálculos apresentados pela companhia, a quantidade é suficiente para abastecer a Região Metropolitana de São Paulo até o fim de novembro, quando se espera a volta da temporada de chuvas.
No mês passado, o Ministério Público Estadual (MPE) abriu um inquérito civil para apurar possíveis danos à saúde que podem ser causados pelo consumo da água do “volume morto”. A investigação teve como ponto de partida um relatório elaborado por especialistas em biologia e toxicidade em corpos d’água que afirmam que, quanto mais baixo o nível dos reservatórios, maior é a concentração de poluentes.
“Quando se cogita fazer o uso do ‘volume morto’, por causa das condições emergenciais de necessidades hídricas, antes que esteja disponível para o abastecimento público, deve passar por análise criteriosa e tratamento adequado para atendimento dos padrões normatizados de qualidade de água”, afirmam no documento Dejanira de Franceschi de Angelis e Maria Aparecida Marin Morales, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Silvia Regina Gobbo, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Segundo a Sabesp, a água do “volume morto” não apresenta riscos à saúde e “será tratada dentro dos rígidos padrões de qualidade” seguidos pela companhia. Especialistas em recursos hídricos, como o professor Rubem Porto, da USP, e técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) confirmam as boas condições de uso da água da reserva profunda.
Impacto. Outra preocupação levantada com o uso inédito do “volume morto” é o impacto da retirada da água na fauna do Cantareira. A suspeita levantada por ambientalistas também é investigada pelo Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) de Piracicaba, que já sofreu com a mortandade de cinco toneladas de peixe por causa do baixo nível do rio que leva o nome da cidade e pertence à bacia hidrográfica onde fica o Cantareira.
Para a secretária-geral da ONG WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, ainda há um ponto importante a ser esclarecido: “Quanto tempo o Sistema Cantareira vai levar para se recompor?”, indaga. “Corremos o risco de termos crises severas a cada semestre. Não dá para apostar que vai voltar a chover ou que outras obras podem resolver. A conta está no limite e é preciso utilizar outras ferramentas para recuperar os nossos mananciais.”
Segundo o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, o esgotamento do volume útil do Cantareira mostra à sociedade que a água é um bem finito e que precisa ser consumida com parcimônia. “Agora, na iminência de ficar sem água, espero que as pessoas comecem a entender a essencialidade dela e passem a usá-la com racionalidade. Não dá para ficar confiando que o tempo vai ajudar nem querer correr com os investimentos em infraestrutura hídrica agora.”
Somente nos últimos dois meses, o Sistema Cantareira perdeu 50 bilhões de litros, segundo cálculos feitos pelo comitê que monitora a crise do manancial, porque o consumo de água foi muito maior do que a produção. Embora a Sabesp tenha reduzido em 6 mil litros por segundo a retirada de água do Cantareira, com a política de bônus e com a reversão de água dos Sistemas Guarapiranga e Alto Tietê, o grupo técnico recomendou que a ANA e o DAEE determinem uma reserva estratégica a ser preservada ao fimde novembro, quando termina a captação prevista do “volume morto”. Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, a quantidade de água disponível nos reservatórios garante o abastecimento de água na Grande São Paulo até março de 2015.
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,a-operacao-para-sugar-agua-ainda-intocavel,1161887,0.htm

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mudanças climáticas e a água de São Paulo

08 de fevereiro de 2014
Fernando Reinach é Biólogo - O Estado de S.Paulo
Olhe para o céu e para o termômetro. Se o primeiro estiver azul e o segundo alto, faça como nossas autoridades, reze. Mas, se você prefere lidar com a realidade, que tal entender o funcionamento do Sistema Cantareira? O Sistema Cantareira fornece 45% de toda a água da Região Metropolitana de São Paulo. Vinte milhões de pessoas, 10% da população brasileira, dependem dele.
O Sistema Cantareira está à beira do colapso. Ele nunca esteve com tão pouca água. E continua esvaziando quando já deveria estar enchendo desde dezembro. O maior dos reservatórios (Jacareí/Jaguari) está com menos de 17% de sua capacidade, e a água se encontra na cota 826 metros. Essa represa possui seis tomadas de água que levam o precioso líquido para São Paulo. As quatro mais altas, nas cotas 836 e 827, já estão no seco, fora da água. As duas mais baixas, na cota 818, ainda estão captando água. Mas, se a represa chegar à cota 818, é o fim, nem uma gota de água poderá ser captada.
O governo continua otimista e acredita que São Pedro esqueceu de ligar o despertador. Se isso for verdade será a primeira vez nos últimos 40 anos. Mas, se não chover muito nos próximos 30 dias, São Paulo e outra dezena de municípios vão ter de sobreviver a partir de abril sem os 36.000.000 de litros de água por segundo (36 m³/seg) que este conjunto de represas e túneis pode trazer até São Paulo.
O que poucos sabem é que em agosto de 2014 a outorga do Sistema Cantareira terá de ser renovada. Nesse processo o governo vai decidir quanto de água pode ser retirada do sistema a cada dia, quem vai ter o direito a essa água, e com que prioridade. A má notícia é que aparentemente o Sistema Cantareira não tem mais capacidade de fornecer os atuais 36 m³/seg. Se a decisão for baseada em critérios técnicos, a vazão total deveria ser reduzida. É o que está escrito nas entrelinhas do documento preparado pelos técnicos para embasar a renovação da outorga
Em 1976, com base nos dados coletados desde 1930, os técnicos decidiram outorgar à Sabesp o direito de retirar 33 m³/seg do Sistema Cantareira até 2004. Em 2004, a renovação ocorreu durante uma grande seca, quando o sistema chegou pela primeira vez a 20% de sua capacidade máxima e houve racionamento de água. Foi decidido na época que seria possível aumentar em 10% a quantidade máxima de água que poderia ser retirada do sistema, que passou a ser 36 m³/seg. Essa renovação foi feita por um prazo de 10 anos e vence agora (veja na página 69 do documento).
Nas série histórica em que foi baseada a renovação da outorga em 2004 (dados coletados entre 1930 e 2003) a capacidade dos rios que compõem o Sistema Cantareira foi estimada em 44,8 m³/seg. Já as medidas feitas nos últimos anos (2004 a 2012) mostram que esta capacidade se reduziu para 39,7 m³/seg, uma redução de 13%. Se você quiser ser generoso pode comparar os dados de 1930 a 2003 com os dados de 1930 e 2012 e, neste caso, a redução é menor, aproximadamente 10% .
Esses dados bastariam para justificar uma redução no volume da próxima outorga, mas, além disso, o relatório demonstra que nos últimos anos a variabilidade da quantidade de chuva aumentou significativamente (em alguns anos chove muito e em outros chove pouco). Essa variabilidade é uma das consequências previstas nos modelos de mudança climática. No futuro, teremos mais anos com pouca chuva e mais anos com um grande excesso de chuvas. Para garantir o suprimento de água nos anos secos, os reservatórios deveriam ser administrados com uma folga maior. Menos água pode ser retirada, e os níveis médios devem ser mantidos mais altos.
Esses são os fatos. Resta saber como o governo vai se comportar. Vai aceitar a realidade e renovar a outorga com um volume menor (o que força a Sabesp a investir ainda mais em novas fontes de água) ou vamos continuar acreditando em São Pedro e torcer para que a seca final só ocorra em um governo futuro (que, claro, será o culpado).
A Sabesp já emitiu sua opinião. Em uma carta que pode ser encontrada no site da ANA, sua presidente solicitou a renovação da outorga. Pediu que, desta vez, a outorga seja concedida por 30 anos e não mencionou uma possível redução de volume.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mudancas-climaticas-e-a-agua-de-sao-paulo,1128088,0.htm

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Racionamento de água afetou quase um quarto dos municípios brasileiros

Dos 528 municípios com racionamento constante, independente da época do ano, 75% ficam na região Nordeste

19 de outubro de 2011
Felipe Werneck, de O Estado de S. Paulo

RIO - O racionamento de água afetou quase um quarto (23%) dos municípios brasileiros em 2008, revela o Atlas de Saneamento, divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 41% dessas cidades, o racionamento é constante. Entre os motivos, predominam seca ou estiagem. Dos 528 municípios com racionamento constante, independente da época do ano, 396 (75%) ficam na região Nordeste. Os dados foram informados pelos municípios.

O IBGE também mostra, por outro lado, que se perde muita água no País em função de vazamentos entre a captação e a chegada ao consumidor, especialmente nas grandes cidades. Entre aquelas com mais de 100 mil habitantes, 60% apresentaram de 20% a 50% de perda. Já nas cidades com população inferior a 100 mil, a perda fica em torno de 20%.

O volume diário de água distribuída per capita no País foi de 0,32 m3 em 2008, correspondente a 320 litros, um aumento de 0,12 m3 em relação a 1989. Na região Sudeste, o volume distribuído chegou a uma média diária de 0,45 m3 per capita em 2008, a mais alta do País.

O IBGE preparou uma lista com os 25 municípios que tiveram inundações na área urbana nos 5 anos anteriores à pesquisa e que apresentavam os oito fatores considerados agravantes para o problema. Doze são da região Sudeste (em SP, Ibiúna e Ilhabela), cinco ficam no Nordeste, quatro no Sul, três no Norte e um no Centro-Oeste. São fatores agravantes obstrução de bueiros; obras inadequadas; ocupação intensa e desordenada do solo; lençol freático alto; interferência física no sistema de drenagem; dimensionamento inadequado de projeto; desmatamento; e lançamento inadequado de resíduos sólidos.

De acordo com o estudo, 90% dos municípios brasileiros não possuíam, em 2008, formas de conter a água das chuvas. Por isso, 2.274 cidades (40,8%) sofreram com inundações na área urbana, sendo que 698 (30,6%) tiveram enchentes em áreas que não são usualmente inundáveis, informa o IBGE.

Esgoto. O município de Rafael Godeiro (RN), que apresentou a maior taxa de internação por diarreia no País em 2008 (6,8 ocorrências por 100 habitantes), não tinha serviço de coleta de esgoto. Nos Estados com as maiores taxas de internação, o acesso a serviços de saneamento é menor, e vice-versa. As taxas de internações por doenças relacionadas com o saneamento ambiental inadequado (DRSAI), como diarreias, dengue e leptospirose, vêm se reduzindo no País nas últimas décadas, mas ainda são elevadas, sobretudo em estados das regiões Norte e Nordeste, destaca o IBGE. São doenças evitáveis se houver investimento em saneamento e ações preventivas.

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,racionamento-de-agua-afetou-quase-um-quarto-dos-municipios-brasileiros,787444,0.htm