quarta-feira, 10 de março de 2010

Fundo Monetário Europeu - FME

Os dentes deste fundo
10 de março de 2010 | 19h14

Celso Ming

Quando foi para elaborar um projeto de regulamentação para o sistema financeiro global, foram os europeus que se bateram pelo fortalecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, assim, passaria a cumprir uma função nova, a de fiscal internacional das instituições financeiras. No entanto, na opinião dos mesmos dirigentes europeus, o FMI não serve para socorrer um membro fragilizado da União Monetária Europeia, a área do euro.

Tão logo apareceram as primeiras sugestões para que a Grécia e outros sócios do clube dos Pigs recorressem ao FMI para consertar suas finanças, os maiorais da Europa foram veementemente contra. Avisaram que as mazelas da área do euro era problema deles, que tem de ser consertado a partir de soluções internas e não por organismos controlados por outras forças políticas.

Assim, os dirigentes europeus, cujos Estados estão entre os maiores acionistas do FMI (detêm 23,7% das cotas), de repente comportam-se como sindicalistas de países emergentes que não gostam de imposições e promovem manifestações com o slogan “Fora FMI”.

A única objeção contra um pedido de socorro ao FMI por um membro da área do euro é a de que as contrapartidas pedidas pelo Fundo por um empréstimo salvador correspondem a imposições de regras rigorosas na administração dos recursos públicos e, obviamente, do monitoramento de praxe nessas circunstâncias.

Quando a Inglaterra recorreu ao FMI, em 1976, ou a Suécia, em 1992, ninguém entendeu que seria humilhação a submissão de países tão seletos ao chicote dos fiscais do FMI.

E, no entanto, por sugestão tornada pública nesse final de semana pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, os dirigentes europeus parecem ter chegado à conclusão de que podem ter uma espécie de fundão caseiro, para uso exclusivo dos europeus, que levaria o nome de Fundo Monetário Europeu (FME).

Não é uma solução prática porque um organismo assim exige prolongada negociação de um tratado especial e a Grécia está sangrando e precisa de atendimento imediato.

Além disso, na medida em que a União Europeia admitisse que transgressões a suas próprias leis fiscais (déficit orçamentário não superior a 3% do PIB e dívida pública não maior que 60% do PIB) pudessem ter cobertura de capital do seu FME, a juros bem mais camaradas do que os vigentes no mercado financeiro, desapareceriam algumas razões pelas quais um membro da União Monetária Europeia precisa manter rígida disciplina fiscal.

Talvez por isso, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, reconheceu ontem que, se for criado, o FME terá de “ter dentes para aplicar sanções”. Seriam dentes que não produziriam efeito substancialmente diferente do que produzem os chicotes do FMI.

E fica aí a pergunta: Se esse FME levaria tanto tempo para começar a funcionar; se exigiria enormes capitais (só a Grécia precisa hoje de US$ 30 bilhões); e se teria de ser dotado de uma mandíbula poderosa, por que não usar para isso o FMI velho de guerra, que já está montado, tem capitais disponíveis e chicotes eficazes?

Confira

O tamanho da marolinha – Amanhã sai o PIB do Brasil no quarto trimestre de 2009, que perfaz o “PIB da marolinha”, a reação do Brasil à crise, na leitura do presidente Lula.

As projeções do crescimento do PIB do ano começaram nos 5%, mas foram caindo à medida que a crise atingiu a produção industrial. Ao final do ano, a percepção era a de que a evolução do PIB seria negativa, alguma coisa em torno de -1%.

Mas a avaliação do comportamento da economia brasileira não pode ficar aí. Este ano, 2010, já mostra uma forte recuperação que aponta um crescimento entre 5% e 6%.

http://blogs.estadao.com.br/celso-ming/

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