quinta-feira, 6 de junho de 2013

A ONU se derrama em elogios ao Irã

23/05/13 
POR SAMY ADGHIRNI - correspondente em Teerã.

O Irã acumula vasto histórico de denúncias por repressão moral, tortura, perseguição política e outras graves violações de direitos humanos. Mas em termos de desenvolvimento social e humano, a república islâmica é um modelo. Quem diz isso é a ONU.
O último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), divulgado no mês passado, mostra que as condições de vida da maioria dos iranianos deu um salto qualitativo gigantesco após a revolução popular que varreu do poder a ditadura pró-Ocidente do xá Mohamed Reza Pahlevi, em 1979.
O ponto de partida desta avaliação é o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, estabelecido pela ONU a partir dos anos 90 com o objetivo de incluir outros fatores além da simples economia para medir o padrão de vida médio de um país. O índice é obtido a partir de um cálculo que leva em conta expectativa de vida, educação (alfabetização + escolarização) e renda. A escala vai de 0 a 1. Quanto mais alto, melhor. Há muitas críticas contra a metodologia, mas o IDH foi amplamente abraçado como um indicador pertinente e respeitado. Uma olhada no ranking basta para perceber que a coisa faz sentido. A Noruega tem o melhor IDH e o Níger, o pior.
Irã (76ª posição) e Brasil (85ª) ficam no mesmo grupo de países com IDH “alto”. Abaixo dos “muito alto” e acima dos “médio” e “baixo”.
Não só a república islâmica está na frente da gente, como também teve um aumento duas vezes mais rápido que a média mundial. O IDH iraniano cresceu 67% entre 1980 e 2012, o equivalente a 1,60% ao ano. O resto do mundo evoluiu a uma média de 0,69% ao ano. A progressão do Irã supera até mesmo a média dos países no topo do ranking, que tiveram alta de 0,73% ao ano.
“Do ponto de vista do desenvolvimento humano [no período de 1980 a 2012], as políticas de intervenção do Irã foram tanto significativas quanto apropriadas para produzirem a melhora no IDH”, disse o chefe representante da ONU no Irã, Gary Lewis, ao apresentar o relatório a uma plateia de diplomatas estrangeiros. Também presente, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, era pura felicidade. “Não é o governo iraniano que está dizendo isso, é um órgão externo”, deleitou-se.
Lewis compartilhou uma penca de dados favoráveis ao regime iraniano. Ele disse que a taxa de morte de mulheres em decorrência de parto no Irã é de 21 para cada 100 mil nascimentos. Nos outros países do grupo “IDH alto”, esse número aumenta para 47. No Brasil, o número de óbitos alcança a vergonhosa marca de 56.
O percentual de mulheres com educação secundária ou superior no Irã é amplamente maior que o número no Brasil _62,1% contra 50,5%. Mas as brasileiras levam a melhor em matéria de representação no Parlamento (9,6% contra 3,1%) e na categoria “igualdade de gênero”, onde o Brasil está em 85º no ranking mundial, enquanto o Irã está na posição 107.
Um amigo correspondente ocidental a serviço de um jornalão internacional, que está há mais tempo que eu no Irã, resumiu a situação da seguinte forma: “esses caras do regime podem ser criticados por um milhão de razões legítimas, mas se tem uma coisa que eles conseguiram, é dar condições de vida decentes para o povo”.
Programas sociais e subsídios movidos a petrodólares garantem um freio contra o tipo de miséria em larga escala que se vê em países como Índia e Egito. Iranianos não só têm acesso a universidades com razoável nível de ensino como também cultivam a ideia de que é feio não ter curso superior. Hospitais públicos repletos de médicos com especialização no exterior fornecem um serviço digno. A infraestrutura do país, de estradas a redes de telecomunicação, opera em condições aceitáveis. A violência urbana é mínima. Os iranianos compõem, em grande parte, uma sociedade de classe média.
Obviamente, o Irã está longe de ser um mar de rosas. Quando fui cobrir um terremoto que deixou centenas de mortos na remota Província do Azerbaijão Ocidental, no ano passado, vi camponeses miseráveis que viviam feito animais em casas de terra. O poder de compra da já mencionada classe média está ruindo por causa de um misto de sanções econômicas internacionais contra o programa nuclear e populismo desenfreado da era Ahmadinejad. As ruas de Teerã começam a ter alguns pedintes. O que muda em relação a vários países é a escala do problema.
Dito isso tudo, muitos iranianos com quem converso não se enxergam como integrantes de uma sociedade relativamente privilegiada, inclusive gente com boa situação financeira. Se dizem infelizes com o ambiente e sonham em se mudar para outro país. IDH não é tudo na vida.

PS: link para o relatório da ONU sobre o desenvolvimento humano no Irã.

http://www.undp.org.ir/doccenter/hdr2013/IR%20of%20Iran%20Extract%20in%20HDR%202013%20ENGpdf

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