Para analistas, esforço do Departamento de Estado para convencer China e Rússia a apoiar sanções pode cair por terra
18 de maio de 2010
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo - Correspondente Nova York
O acordo dos iranianos com o Brasil e a Turquia dificultará a aprovação de novas sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, apesar de indicações de autoridades americanas, francesas, russas e britânicas de que a resolução não está descartada. A afirmação foi feita por três analistas especializados em questões iranianas consultados pelo Estado depois da assinatura do pacto em Teerã.
"Os EUA, seus aliados europeus, a China e a Rússia terão um grande problema pela frente. Depois do acordo, será muito difícil aprovar sanções", disse o professor Abbas Milani, diretor do Centro de Estudos Iranianos da Universidade Stanford e do Instituto Hoover. Segundo Gary Sick, professor da Universidade Columbia e ex-assessor da Casa Branca para questões iranianas, " tornou-se bem mais difícil e quase impossível um acordo para uma resolução". "Ficou complicado imaginar sanções neste momento", acrescentou o acadêmico Trita Parsi, que dirige Conselho Nacional Iraniano-Americano, sem ligações com o regime de Teerã. De acordo com Sick, o acordo frustrou as iniciativas diplomáticas americanas com objetivo de aprovar sanções, que duraram quase seis meses.
Trabalho facilitado. Parsi ressalta que os americanos podem achar que as ameaças de sanções facilitaram o trabalho dos brasileiros e dos turcos, com os esforços dos últimos meses não sendo tão inúteis.
"Mas a diplomacia do Brasil e da Turquia foi fundamental para ocorrer o acordo. Os brasileiros e os turcos conversaram mais com os iranianos do que todos os integrantes do sexteto juntos nos últimos meses", diz Parsi, referindo-se aos cinco integrantes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na visão dele, os iranianos confiam no Brasil, mas não nas grandes potências. Já a Turquia pesa por ser um rival regional que concordou em encontrar uma saída para o impasse sobre o programa nuclear iraniano.
Milani concorda que o papel do Brasil e da Turquia foi importante. "Os brasileiros dão legitimidade por serem de fora da região, uma potência emergente, latino-americana. E os turcos por integrarem o mundo islâmico", disse o professor de Stanford. Mas, segundo o professor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, podem ter sido usados pelo Irã para ganhar tempo.
Para Sick, da Universidade Columbia, o "acordo é acima de tudo simbólico" e com poucos efeitos práticos. "Tudo dependerá de como os EUA lidarão com o pacto", disse Sick.
"Caso os americanos voltem para a mesa de negociações com os iranianos, outros pontos poderão ser discutidos. Se, por outro lado, optarem por não negociar, o acordo dos brasileiros e turcos com o Irã poderá ser considerado inócuo."
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100518/not_imp553180,0.php
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