quinta-feira, 2 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20

Quinta, 2 de abril de 2009, 17h18

Fonte: Redação Terra
Economia Internacional

Lula quer ser primeiro presidente do País a emprestar ao FMI

Atualizada às 19h19
Lúcia Jardim - Especial para o Terra - Direto de Londres


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou ser "chique" o Brasil estar em posição de emprestar dinheiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista após a reunião dos líderes do G20, em que o grupo afirmou que espera injetar até US$ 5 trilhões na economia global até o final de 2010, Lula disse que quer entrar "para a história como o presidente que emprestou o primeiro centavo ao FMI".
"Vocês não acham muito chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? Não é uma coisa soberana? Eu passei parte da minha juventude carregando faixas no centro de São Paulo: 'fora FMI! Fora FMi!' E agora, é um país que tem solidez", disse Lula.
Segundo o presidente brasileiro, o País gostaria de dar sua contribuição como forma de empréstimo diretamente a países mais pobres."O Brasil tem competência hoje para ajudar os países mais pobres", afirmou ele, ressaltando que está disposto a ajudar desde que não prejudique as reservas brasileiras.
No entanto, ele não especificou de quanto será a contribuição brasileira ao fundo. "Eu gostaria de entrar para a história como presidente que emprestou algum real para o FMI.O Brasil hoje tem credencial e é respeitado. O Brasil vai contribuir, só não me perguntem quanto, porque quem vai discutir isso é o meu companheiro Guido (Mantega, ministro da Fazenda), que vai ver o quanto nós poderemos contribuir".
Questionado, Mantega também não apontou nenhuma estimativa, mas afirmou que o anúncio poderia ser feito na próxima semana. O ministro descartou que o aporte será proporcional à participação do país no fundo - de 1,7% -, o que pressuporia um investimento de US$ 4,25 bilhões.
Além disso, o governo brasileiro espera que os recursos injetados no fundo sejam usados para viabilizar empréstimos a países subdesenvolvidos e emergentes que enfrentem a crise econômica - este último ponto, ressaltado pelo próprio Lula durante sua entrevista.
Muito animado e não economizando nas brincadeiras, Lula não escondia a satisfação ao final do encontro com os outros líderes. "Hoje aconteceram coisas que eu considero importantes para história dos países e para o futuro da humanidade, se a gente não se apequenar a respeito o futuro deste documento", disse. "Foi a primeira reunião que eu participei em que os chamados países desenvolvidos estavam em igualdade de condições com os países em desenvolvimento."
Lula afirmou houve momentos tensos durante as discussões, mas que ao final todos parecem ter se convencido de que "é preciso que haja uma regulação do sistema financeiro mundial, para que ele seja mais voltado ao setor produtivo e menos ao setor especulativo". Para ele, se os países ricos normalizarem as suas economias, o restante do mundo vai sair naturalmente da crise.
"O que todo mundo estava percebendo era que nós estávamos em um barco, esse barco estava entrando água e se a gente não cuidar de tirar a água e arrumar o casco, o barco afunda", comparou. O presidente contou que sugeriu aos demais líderes para que, nas próximas reuniões, seja posto em discussão um novo sistema de transparência de dados financeiros e fiscais de cada país.
"É importante que a gente saiba o que está sendo feto em cada país, qual a dívida pública, qual o déficit fiscal, quais são os investimentos. Aí teremos uma noção exata de quem está fazendo a lição de casa e quem não está."
O presidente ainda minimizou a perspectiva negativa da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), de que a economia brasileira diminuiria 0,3% neste ano. "Vai ficar a minha palavra contra a da OCDE, mas eu acho que nós não vamos atender aos prognósticos deles. O impacto pode ser importante, é claro, mas acho que a OCDE exagerou."
Embora tenha sido uma das personalidades mais badaladas do encontro, o petista rejeitou o título de líder dos países emergentes. "Essa questão de liderança internacional é uma bobagem teórica. Nenhum país passa o bastão para um outro ser líder dele. Todos querem ser líderes", desconversou.
"Líder, você só é se tiver liderados. Não existe a possibilidade de ser líder na América do Sul. Cada um de nós vale pelo que representa, pelo que faz. Ninguém me elegeu líder de nada: eu continuo aqui falando em nome do Brasil, pura e simplesmente. Mexer nisso é sempre um nervoso."
Comentando a frase do presidente Barack Obama feita durante a cúpula, dizendo que "é o político mais popular da Terra", o brasileiro minimizou as intenções do americano e aproveitou para elogiar o colega.
"A frase do Obama deve ter sido um gesto de gentileza, uma brincadeira dele. Eu tenho consciência do meu tamanho, da minha importância, e tenho consciência de cada companheiro também. Não consigo entender a fala do Obama senão uma brincadeira com uma pessoa que trata ele bem", analisou.
"O Obama, eu disse a ele, é o primeiro presidente dos Estados Unidos que têm a cara da gente. Se você encontra ele, você vai pensar que ele é baiano. Se você encontrar no Rio de Janeiro, vai pensar que ele é carioca. É o primeiro que é parecido com todo mundo. Tranqüilo, humilde."
Ele relatou que ficou surpreendido com a postura modesta adotada pelo presidente democrata durante a sua primeira grande reunião internacional desde que fora empossado, em janeiro.
"Não é fácil você chegar numa reunião e ver um presidente dos Estados Unidos dizer "olha, eu sei que eu sou o mais novo, que eu estou há pouco tempo no mandato, eu estou aqui para ouvir aprender. Você acha que é fácil um americano dizer isso? Eu acho que é uma coisa extraordinária. É uma oportunidade que a gente, de ter uma relação com os Estados Unidos que a gente não tinha antes", contou.
Para ele, isso foi brincadeira do Obama. "Deve ter sido um gesto de gentileza, tenho consciência de meu tamanho".
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Gostei muito do texto de Lúcia Jardim, espero que nosso presidente continue "com os pés no chão".

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