sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Por que os aliados EUA e Israel divergem sobre o Irã?

21/11/2013
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News 
Os Estados Unidos e Israel são e continuarão sendo aliados. Mas, como todos os países do mundo, possuem seus próprios interesses. Na maior parte dos casos, americanos e israelenses estão do mesmo lado no Oriente Médio. Algumas vezes, porém, adotam posições divergentes. Foi assim, por exemplo, na Guerra do Sinai e, mais recentemente, na deposição de Hosni Mubarak no Egito. Aparentemente, o mesmo se repete agora em relação ao Irã.
Washington quer se distanciar do Oriente Médio neste momento. Primeiro porque há uma fadiga com a região depois da guerra do Iraque. Em segundo lugar, porque os EUA estão próximos da independência energética, sem precisar se preocupar tanto em agradar regimes como o da Arábia Saudita.
Por este motivo, o governo de Barack Obama busca uma solução para questões ainda pendentes na região. No Iraque, retirou as tropas. Na Síria, busca evitar um envolvimento direto. Falta ainda tentar uma solução para o conflito Israel-Palestina e para o Irã.
Não vou me aprofundar hoje no conflito Israel-Palestina. Vou manter o foco apenas no do Irã. Para os israelenses, o risco de um Irã nuclear, por menor que seja depois de um acordo, tem uma proporção muito maior do que para os americanos. Os EUA jamais seriam alvejados por uma bomba atômica iraniana. O regime de Teerã não teria capacidade de lançar um míssil ou uma operação contra o território americano. Nova York, Washington, Los Angeles, Detroit e Chicago estão a salvo. Já Israel, mesmo sendo mais poderoso, poderia sim ver o país ser destruído, com uma bomba arrasando Tel Aviv – noto que eu sigo a teoria da mútua destruição assegurada e não acho que o Irã atacaria Israel pois Teerã seria destruída minutos depois. Mas entendo quem discorda de mim.
Isso explica as posições distintas de ambos neste momento. Israel quer a eliminação total do programa nuclear iraniano para existir risco zero. Os EUA, avaliando que o risco zero é impossível, querem um regime com redução acentuada das atividades nucleares e a imposição de um mais intrusivo esquema de inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. Para os israelenses, isso não seria suficiente porque não “zera” a possibilidade de um Irã nuclear.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Irã e potências ocidentais ainda tentam chegar a acordo nuclear em Genebra

Diplomata iraniano diz que é necessário recuperar confiança perdida em negociação anterior

21 de novembro de 2013
O Estado de S. Paulo
GENEBRA  - O grupo das potências nucleares 5+1 (EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha) e o Irã ainda tentam diminuir as divergências para um acordo preliminar sobre o programa nuclear do país persa nas negociações que ocorrem nesta quinta-feira, 21, em Genebra, na Suíça. O vice-chanceler iraniano Abbas Araghchi e a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton discutem um rascunho que agrade ambas as partes.
Segundo o diplomata iraniano, os dois ainda discutiriam detalhes que impedem uma solução para o impasse noite adentro.
"Esperamos que o Ocidente tenha uma posição conjunta sobre o rascunho", disse Araghchi à iraniana Press TV. " Estamos tentando reconstruir a confiança perdida em rodadas anteriores de negociação. E conseguimos recuperar parte dessa confiança. Mas aparar as divergências é um trabalho difícil".
Na semana passada, a desconfiança da diplomacia francesa em relação ao reator de plutônio de Arak impediu um acordo. Os EUA e seus aliados europeus estariam dispostos a amenizar parte das sanções que congelam bens do regime iraniano em troca de uma paralisação no programa nuclear, como parte de um acordo preliminar.
Os iranianos querem, no entanto, um reconhecimento ao seu direito de enriquecer urânio, uma concessão que os países ocidentais ainda hesitam em fazer. / AP

Cinco mitos sobre favela desfeitos pelo Censo 2010

07 de novembro de 2013
ANÁLISE: José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
A favela superou o clichê. A proverbial do morro carioca da Previdência (para onde soldados da Guerra de Canudos transpuseram o nome de um morro sertanejo no qual vicejava uma planta chamada favela) é uma exceção até no Rio de Janeiro: 57% dos domicílios "favelados" da cidade ficam no plano. Só 15% estão em encostas íngremes. O "morro" mítico dos sambas foi aterrado há tempos.
Tampouco a maioria das pessoas "prefere" morar em favelas para estar perto do trabalho. Em São Paulo, três de quatro habitantes dos ditos "aglomerados subnormais" levam mais de uma hora para ir e voltar do emprego - a proporção é 27% maior do que para o resto dos paulistanos. A regra se repete em 76% das cidades: o "favelado" perde mais tempo no trânsito que os demais.
O estudo do IBGE mostra que morar em "favela" é, acima de tudo, uma adaptação à geografia. É outro mito imaginar que o cenário é sempre o mesmo.
Em Natal, 40% das moradias "subnormais" ocupam dunas ou praias. Na paulista Cubatão, 29% ficam em manguezais. Em Linhares, no Espírito Santo, 38% ocupam irregularmente unidade de conservação ambiental. E em Petrópolis, na serra fluminense, local de repetidos e trágicos deslizamentos, 86% das moradias desse tipo estão em declives acentuados (superior a 16,7 graus).
Risco de outro tipo mas também grave há em 17 cidades onde há casas em lixões, aterros sanitários ou áreas contaminadas.
Favela não é tudo igual nem geográfica, nem urbanisticamente. Em Belford Roxo (RJ), 89% dos domicílios dessas aglomerações têm acesso a arruamento regular. Já em Vitória (ES), 72% das casas faveladas não têm rua por perto porque estão no morro.
Em quinto, mas não em último lugar, o morador da favela não vive nela porque lhe faltou escola. Em Niterói (RJ), 27% têm diploma de nível superior. E não só lá: são 24% em Florianópolis, 23% em Santos (SP) e 20% em Curitiba e Porto Alegre. 

No interior filipino, falta ajuda

Assistência humanitária está presente só nas localidades litorâneas atingidas por tufão

20 de novembro de 2013
KEITH , BRADSHER , THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
A gora que um grande esforço de ajuda internacional começou tomar corpo em torno da cidade costeira de Tacloban, arrasada pelo tufão Haiyan, a situação é totalmente distinta alguns quilômetros para o interior, onde muitos feridos e doentes não receberam nenhuma assistência em mais de uma semana. Bem distante das áreas costeiras inundadas onde o maior número de mortes ocorreu, na ilha filipina de Leyte, o quadro é de completa devastação. Quilômetro após quilômetro ao longo das estradas para o interior, em especial no leste, praticamente todas as casas parecem que tiveram seus telhados arrancados por garras ferozes.
Coqueirais foram arrasados e vastos trechos dos cultivos tiveram suas árvores cortadas a cerca de cinco metros do chão. Troncos caídos esmagaram ou provocaram estragos em casas e choupanas.
Mas enquanto socorristas internacionais e funcionários do Departamento de Saúde das Filipinas vasculham bairros na região costeira, eles não são vistos no interior.
Médicos, prefeitos e vereadores de seis cidades e vilarejos do interior na Ilha de Leyte dizem que seus cidadãos não receberam tratamento nem suprimentos médicos - e nenhum alimento, água ou tendas do programa de ajuda internacional. Eles não receberam também nenhuma assistência médica do governo filipino; apesar de as administrações municipais terem recebido sacos de arroz, os alimentos não chegaram aos povoados.
Todos eles disseram que, com a exceção de algumas pessoas enviadas para hospitais em Tacloban com ferimentos claramente mortais, a maioria das pessoas com lacerações e outros ferimentos associados ao tufão foi mandada para casa com pouco ou nenhum cuidado. As áreas do interior, carecem de médicos e têm poucos (quando têm) antibióticos, antissépticos, gaze e outros suprimentos médicos.
Todos disseram também que estavam vendo um aumento na incidência de febres e diarreias, que atribuíram ao grande número de pessoas bebendo água contaminada e vivendo em casas destelhadas, que oferecem pouca proteção das chuvas pesadas e frequentes dos nove últimos dias.
Não há um único termômetro na aldeia de Macanip ou nessa região - e ninguém levou crianças a algum assistente de saúde e nenhuma ajuda chegou do governo filipino ou de qualquer grupo internacional desde o tufão, disse Raúl Artoza, um vereador local.
"Estamos simplesmente pondo folhas de árvore nas suas testas", afirmou uma moradora, Milagros Macanip. Outros habitantes expressaram surpresa quando souberam que dois grupos de assistência médica, um alemão e um belga, tinham aberto hospitais de campanha a apenas cinco quilômetros da cidade costeira de Palo.
A precariedade é tão grande que alguns pacientes têm sorte de ter recebido algum antibiótico por via oral por mais de uma semana, embora eles fossem do tipo barato, ao qual muitas bactérias são resistentes. Rosaura Diola, uma enfermeira que dirige a clínica principal no centro de Jaro, disse que havia racionado o remédio a apenas 3, dos 21 comprimidos que os pacientes precisavam para completar um ciclo de uma semana de antibióticos.
Era tamanha a carência de remédios após o tufão, que os pacientes precisavam improvisar para obter o restante dos comprimidos de que precisavam para completar os tratamentos, relatou ela.
A clínica realiza normalmente 70 partos por mês, mas perdeu o telhado no tufão. Seu andar superior está aberto e exposto às pesadas chuvas, embora o andar de baixo, muito úmido, ainda ofereça um abrigo parcial.
No começo da semana, quase todas as cidades e aldeias da região ainda estavam sem eletricidade. Em todas elas, os estoques de vacinas antitetânicas estavam baixos ou já não existiam e as poucas vacinas que ainda estavam sendo injetadas ficaram expostas ao calor por dez dias; as orientações farmacêuticas pedem que elas sejam mantidas frescas para terem seu poder de prevenção total, embora vacinas mornas sejam melhores do que nada.
Ricky Carandang, um porta-voz presidencial das Filipinas, disse que os carregamentos de ajuda tinham começado a chegar a todas as administrações locais da Ilha de Leyte e esses governos eram responsáveis pelo seu repasse aos governos dos povoados. Ele manifestou preocupação ao ser informado de que dirigentes de povoados em lugares como Macanip e Buenavista disseram que não haviam recebido nenhuma ajuda, nem mesmo alimentos, acrescentando: "Vamos considerar esses relatos e tomaremos as medidas apropriadas".
Cidades e povoados do interior tendem a ter menos habitantes e bem menos mortos do que as cidades costeiras atingidas pela tempestade. Catalina Agda, a prefeita de Tunga, uma cidade interiorana de 7 mil habitantes, disse que só havia uma morte relacionada ao tufão ali, causada pela queda de um coqueiro, e 75 feridos confirmados.
Santa Fé teve 10 mortes confirmadas e Jaro teve 13, segundo autoridades locais.
Mas os danos extremos às residências, combinados com uma tendência dos moradores do interior a não ir a uma clínica quando estão feridos ou doentes por saber da limitação dos suprimentos médicos disponíveis, aumenta a probabilidade de ferimentos e doenças serem mais generalizados em áreas do interior do que alguém no litoral percebe, segundo autoridades locais.
Após as autoridades locais em Santa Fé serem informadas da ajuda disponível na vizinha Palo, a ambulância foi transportar Doyola, uma garota de 9 anos, e outra pessoa, para ajudar. Mas o destino delas ainda era um mistério no começo da semana. Com o toque de recolher em Tacloban, autoridades médicas no hospital disseram que não tinham registro de sua chegada à cidade. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO - É JORNALISTA

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Supertufão nas Filipinas matou até 2.500, diz presidente

12/11/2013
DA REUTERS
O número de mortes provocadas pela passagem de um supertufão nas Filipinas é provavelmente de 2.000 ou 2.500, mas não o total relatado anteriormente de dez mil, afirmou o presidente do país, Benigno Aquino, em entrevista à CNN nesta terça-feira.
"Dez mil, eu acho, é muito", disse Aquino em entrevista publicada no site da emissora CNN na internet. A estimativa anterior, de dez mil mortos, veio de autoridades locais que talvez estivessem "muito perto" do centro da destruição para fazer uma estimativa precisa, disse.
"Houve um drama emocional envolvido nesta estimativa em particular", disse.
Aquino contou à CNN que o governo ainda está reunindo informações de várias áreas atingidas.
"Esperamos ser capazes de entrar em contato com cerca de 29 municípios que ainda temos que estabelecer seus números, especialmente de desaparecidos, mas até agora 2.000, cerca de 2.500, é o número que estamos trabalhando em relação às mortes", afirmou.
Sobreviventes são resgatados no aeroporto da cidade de Tacloban
Editoria de Arte/Folhapress