quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Grupo invade sedes do governo na Crimeia e Ucrânia chama enviado russo

Cerca de 50 homens entraram nos prédios e colocaram a bandeira da Rússia

27 de fevereiro de 2014
O Estado de S. Paulo
(Atualizada às 09h40) SEVASTOPOL, CRIMEIA - Dezenas de homens armados tomaram nesta quinta-feira, 27, as sedes do Parlamento e do Governo da República Autônoma da Crimeia, no sul da Ucrânia, que passa por intensa turbulência política. Os edifícios foram invadidos por cerca de 50 homens uniformizados e sem distintivos, que levantaram a bandeira russa nos prédios, indicando que podem ser separatistas pró-Rússia.
                                  Manifestantes pró-Rússia foram até o Parlamento em Crimeia - Artur Shvarts/EfeArtur Shvarts/Efe
                                           Manifestantes pró-Rússia foram até o Parlamento em Crimeia
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia chamou o enviado russo em Kiev para consultas imediatas com Moscou depois da ocupação da sede do governo regional da Crimeia. Em um comunicado escrito e entregue ao enviado Andrei Vorobyov, o ministério solicitou que militares russos baseados no porto de Sevastopol, permaneçam na base.
A Ucrânia colocou suas forças de segurança em alerta e pediu aos militares russos, alocados em bases na Crimeia e no Mar Negro, que não movimentem as tropas. "Será considerado uma agressão militar", afirmou Oleksandr Turchynov, presidente interino ucraniano.
De acordo com a Reuters, um ativista pró-Rússia - chamado Maxim, que se negou a informar o sobrenome - afirmou que estava acampado junto a outros manifestantes do lado de fora do Parlamento de Simferopol, quando um grupo fortemente armado invadiu o prédio no início da manhã. Segundo ele, os homens vestiam coletes à prova de balas e carregavam lança-granadas e rifles.
Maxim afirma que todos foram obrigados a deitar no chão. "Eles nos perguntaram quem éramos. Falamos que defendemos a língua russa e a Rússia. 'Não tenham medo, estamos com vocês', responderam. Eles não parecem com voluntários ou amadores: eram profissionais. Era claramente uma operação bem organizada", diz. O grupo não teria permitido que ninguém se aproximasse durante a ação e, ao tomar o prédio, expulsou seis policiais responsáveis pela segurança no local.
O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, confirmou na sua página do Facebook que as áreas em volta dos edifícios estão sendo isoladas pela polícia ucraniana. "Foram tomadas medidas para combater ações extremistas e não permitir que a situação se transforme em um confronto armado."
Segundo agências de notícias russas, caças fazem a patrulha do espaço aéreo nas áreas de fronteira. De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, 150 mil soldados, 880 tanques, 90 aviões e 80 navios estão envolvidos no exercício militar. Embora neguem que a demonstração militar esteja relaciona à situação da Ucrânia, os russos questionam a legitimidade das novas autoridades ucranianas, acusando-as de não conseguir controlar os segmentos radicais.
Confrontos. Na quarta-feira, cerca de 2 mil pessoas foram ao Parlamento de Simferopol para manifestar apoio ao movimento que destituiu Viktor Yanukovich, ex-presidente da Ucrânia. No entanto, manifestantes pró-Rússia, e contra o atual governo, também estavam no local e os dois grupos precisaram ser contidos por policiais.
A Crimeia pertence à Ucrânia desde 1954, quando o líder soviético era Nikita Khrushchev. A região continua sendo a única do país onde a etnia russa é majoritária; parte da frota russa do mar Negro fica estacionada no porto de Sevastopol.
Agora, a Crimeia é o último reduto importante de oposição à nova ordem política pós-Yanukovich. Os novos líderes do país manifestam preocupação com os sinais de separatismo na península./ REUTERS
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,grupo-invade-sedes-do-governo-na-crimeia-e-ucrania-chama-enviado-russo,1135309,0.htm
https://www.google.com.br/search?q=mapa+da+ucrania&tbm=isch&imgil=2mGyognWWns6bM%253A%253Bhttps%253A%252F%252Fencrypted-tbn2.gstatic.com%252Fimages%253Fq%253Dtbn%253AANd9GcSvyrUh5QcdeINJxgNPbzeA6G6vqZ58bAXxWTW1d6vX1lPnnvJVOg%253B547%253B368%253BkOGD9f-fUSC8qM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fwww.novomilenio.inf.br%25252Fporto%25252Fmapas%25252Fnmucrani.htm&source=iu&usg=__2jysTq6uRWDlSadPK8bjX8JdJZE%3D&sa=X&ei=7ekPU6Nhh_GRB-WzgaAH&sqi=2&ved=0CDQQ9QEwBA&biw=1280&bih=699#facrc=_&imgdii=_&imgrc=2mGyognWWns6bM%253A%3BkOGD9f-fUSC8qM%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.novomilenio.inf.br%252Fporto%252Fmapas%252Fimages%252Fnmucrani.gif%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.novomilenio.inf.br%252Fporto%252Fmapas%252Fnmucrani.htm%3B547%3B368

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Política ou preconceito?

Israel considera imoral o boicote contra produtos de seus assentamentos na Cisjordânia

13 de fevereiro de 2014
Jodi Rudoren* - The New York Times/O Estado de S.Paulo
Muitos termos foram usados em referência ao crescente movimento de boicote a produtos israelenses fabricados em assentamentos na Cisjordânia e, em alguns casos, a todas as empresas e instituições de Israel. Uma palavra que requer um exame mais profundo é "imoral", usada pelo premiê Binyamin Netanyahu, no início deste mês, quando se referiu a essa campanha.
Boicotes têm uma história admirável de instrumento político não violento. No século 18, cristãos britânicos recusaram-se a comprar açúcar produzido por escravos. Os negros passaram a caminhar em vez de se sentar no fundo dos ônibus, no sul dos EUA. O desinvestimento ajudou a derrubar o apartheid.
Mas, para muitos israelenses, o boicote que vem à mente é o que os nazistas promoveram contra empresas de judeus, nos anos 30, que se propagou da Alemanha para o resto da Europa e além. Não entrar num café porque você não gosta da maneira como o patrão trata seus empregados é um ato de desaprovação. Agir de tal forma porque o patrão é judeu - ou negro, mulher ou gay - é discriminação.
Netanyahu não se opõe a todos os boicotes. Pelo contrário: ele é um ótimo líder quando se trata de insistir em sanções econômicas para pressionar o Irã e seu programa nuclear. Sob a acusação de imoralidade, que o premiê não é o único a fazer, está a crença de que o movimento é instigado pelo antissemitismo, que o alvo definitivo não é a política israelense, mas o direito de Israel existir.
"Há 70 anos, você dizia: 'Elimine os judeus'. Agora a ideia é: 'Elimine o Estado judeu'", disse Malcom Hoelein, vice-presidente da Conferência de Presidentes de Organizações Judaicas Americanas. "A maneira politicamente correta de ser antissemita é não dizer 'odeio os judeus', mas dizer 'odeio Israel'." Para Hoenlein e Mark Regev, porta-vozes de Netanyahu, Israel foi escolhido injustamente, pois violações de direitos humanos em outras partes do mundo e ocupações de terra em outros Estados por outros grupos étnicos são ignoradas.
"É moralmente duvidoso exigir que o Estado judaico respeite um padrão que você não exige de outros", disse Regev. "Vocês estão boicotando algum outro lugar onde a soberania é disputada ou escolhendo a dedo o país contra o qual vão dirigir a sua revolta moral?"
Segundo Omar Barghouti, que ajudou a criar o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), em 2005, os ativistas têm todo o direito de escolher suas causas e para onde direcionar sua energia. "(Netanyahu) pode dizer o que quiser, mas imoral? Resistir à sua política imoral jamais pode ser imoral. A questão fundamental é: você está boicotando um grupo de pessoas com base na sua identidade ou um ato, uma companhia, um negócio, do qual discorda?"
"Temos três razões", disse ele, citando os objetivos do movimento: pôr fim à ocupação; assegurar a igualdade a cidadãos palestinos de Israel e promover o direito de retorno dos refugiados palestinos. "Se eliminarmos as três razões, não haverá boicote."
Muitos líderes israelenses não concordam com isso. Um acordo de paz propiciaria uma suspensão apenas temporária da campanha de isolamento, particularmente por parte daqueles que acham que deve existir um Estado único binacional entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.
Em parte essa é a razão pela qual Netanyahu e outros partidários insistem que o reconhecimento de Israel como Estado judeu deve estar inserido em qualquer acordo com os palestinos. Quanto ao boicote, alguns israelenses acham que a resposta adequada - e mesmo moral - é combater o fogo com fogo.
Com os supermercados europeus rotulando os produtos israelenses fabricados na Cisjordânia e os fundos de pensão europeus deixando de trabalhar com bancos que fazem negócios nos assentamentos, Dani Dayan, líder do conselho dos colonos judeus, sugeriu que a empresa aérea israelense El-Al deva comprar aviões Boeing e não mais Airbus. "Não deve ser um movimento unilateral. Até agora, Israel adotou um enfoque 'meteorológico' - falamos muito, mas não fizemos nada para mudar. Mas boicotes não são chuva, podemos questioná-los", disse.
*Jodi Rudoren é correspondente em Jerusalém. 
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,politica-ou-preconceito,1129716,0.htm

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mudanças climáticas e a água de São Paulo

08 de fevereiro de 2014
Fernando Reinach é Biólogo - O Estado de S.Paulo
Olhe para o céu e para o termômetro. Se o primeiro estiver azul e o segundo alto, faça como nossas autoridades, reze. Mas, se você prefere lidar com a realidade, que tal entender o funcionamento do Sistema Cantareira? O Sistema Cantareira fornece 45% de toda a água da Região Metropolitana de São Paulo. Vinte milhões de pessoas, 10% da população brasileira, dependem dele.
O Sistema Cantareira está à beira do colapso. Ele nunca esteve com tão pouca água. E continua esvaziando quando já deveria estar enchendo desde dezembro. O maior dos reservatórios (Jacareí/Jaguari) está com menos de 17% de sua capacidade, e a água se encontra na cota 826 metros. Essa represa possui seis tomadas de água que levam o precioso líquido para São Paulo. As quatro mais altas, nas cotas 836 e 827, já estão no seco, fora da água. As duas mais baixas, na cota 818, ainda estão captando água. Mas, se a represa chegar à cota 818, é o fim, nem uma gota de água poderá ser captada.
O governo continua otimista e acredita que São Pedro esqueceu de ligar o despertador. Se isso for verdade será a primeira vez nos últimos 40 anos. Mas, se não chover muito nos próximos 30 dias, São Paulo e outra dezena de municípios vão ter de sobreviver a partir de abril sem os 36.000.000 de litros de água por segundo (36 m³/seg) que este conjunto de represas e túneis pode trazer até São Paulo.
O que poucos sabem é que em agosto de 2014 a outorga do Sistema Cantareira terá de ser renovada. Nesse processo o governo vai decidir quanto de água pode ser retirada do sistema a cada dia, quem vai ter o direito a essa água, e com que prioridade. A má notícia é que aparentemente o Sistema Cantareira não tem mais capacidade de fornecer os atuais 36 m³/seg. Se a decisão for baseada em critérios técnicos, a vazão total deveria ser reduzida. É o que está escrito nas entrelinhas do documento preparado pelos técnicos para embasar a renovação da outorga
Em 1976, com base nos dados coletados desde 1930, os técnicos decidiram outorgar à Sabesp o direito de retirar 33 m³/seg do Sistema Cantareira até 2004. Em 2004, a renovação ocorreu durante uma grande seca, quando o sistema chegou pela primeira vez a 20% de sua capacidade máxima e houve racionamento de água. Foi decidido na época que seria possível aumentar em 10% a quantidade máxima de água que poderia ser retirada do sistema, que passou a ser 36 m³/seg. Essa renovação foi feita por um prazo de 10 anos e vence agora (veja na página 69 do documento).
Nas série histórica em que foi baseada a renovação da outorga em 2004 (dados coletados entre 1930 e 2003) a capacidade dos rios que compõem o Sistema Cantareira foi estimada em 44,8 m³/seg. Já as medidas feitas nos últimos anos (2004 a 2012) mostram que esta capacidade se reduziu para 39,7 m³/seg, uma redução de 13%. Se você quiser ser generoso pode comparar os dados de 1930 a 2003 com os dados de 1930 e 2012 e, neste caso, a redução é menor, aproximadamente 10% .
Esses dados bastariam para justificar uma redução no volume da próxima outorga, mas, além disso, o relatório demonstra que nos últimos anos a variabilidade da quantidade de chuva aumentou significativamente (em alguns anos chove muito e em outros chove pouco). Essa variabilidade é uma das consequências previstas nos modelos de mudança climática. No futuro, teremos mais anos com pouca chuva e mais anos com um grande excesso de chuvas. Para garantir o suprimento de água nos anos secos, os reservatórios deveriam ser administrados com uma folga maior. Menos água pode ser retirada, e os níveis médios devem ser mantidos mais altos.
Esses são os fatos. Resta saber como o governo vai se comportar. Vai aceitar a realidade e renovar a outorga com um volume menor (o que força a Sabesp a investir ainda mais em novas fontes de água) ou vamos continuar acreditando em São Pedro e torcer para que a seca final só ocorra em um governo futuro (que, claro, será o culpado).
A Sabesp já emitiu sua opinião. Em uma carta que pode ser encontrada no site da ANA, sua presidente solicitou a renovação da outorga. Pediu que, desta vez, a outorga seja concedida por 30 anos e não mencionou uma possível redução de volume.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mudancas-climaticas-e-a-agua-de-sao-paulo,1128088,0.htm

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Médica cubana passa noite na Liderança do DEM da Câmara

Ramona decidiu abandonar o programa Mais Médicos porque está descontente com o salário

ISABEL BRAGA 
Publicado: 
A médica cubana Ramona Matos Rodrigues dormiu na sala do gabinete do DEM Jorge William / Agência O Globo
BRASÍLIA - A médica cubana Ramona Matos Rodriguez, de 51 anos, passou a noite na Liderança do DEM da Câmara dos Deputados em companhia de uma assessora do partido. Embora não tenha cama no local foram improvisados colchões, mas ela preferiu dormir em uma poltrona. Segundo a assessoria do DEM, a polícia legislativa da Casa deslocou um policial para garantir a segurança. A médica já tomou café da manhã e, por enquanto, foi liberado apenas o acesso de fotógrafos e cinegrafistas ao local.
- Dormi bem. À noite foi tranquila - disse.
Ramona decidiu abandonar o programa Mais Médicos, do governo federal, porque está descontente com o salário que recebia. Ela chegou ao Brasil em outubro e estava trabalhando em Pacajá, no interior do Pará. Fugiu no último sábado da cidade e seguiu para Brasília.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) provocou um alvoroço no plenário ontem ao apresentar a médica cubana. Com um contrato em mãos, o deputado disse ter a prova de que o convênio para a contratação dos médicos cubanos não foi firmado pelo governo brasileiro com a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e sim com a Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Médicos Cubanos S.A
Segundo Caiado, a médica recebia apenas US$ 400 (R$ 960) e o restante do dinheiro (US$ 600) do contrato era depositado numa conta cubana, à qual ela só teria acesso depois. Caiado disse que é um absurdo o governo pagar R$ 10 mil mensais pela médica e ela receber apenas US$ 1 mil (R$ 2.400).
Ramona alegou que teve seu telefone grampeado pela Polícia Federal e que agentes federais teriam ido atrás dela para prendê-la. Caiado acusou o governo brasileiro de explorar trabalho escravo. Segundo o deputado, o advogado do DEM entrará com pedido de asilo da médica, porque se Ramona retornar a Cuba será presa. Procurado, o Ministério da Justiça disse que não sabia do caso e que só deve se manifestar nesta quarta. Ontem o Ministério da Saúde não se pronunciou.
Caiado afirmou que a médica ficará sob seus cuidados, na Liderança do DEM, onde dormirá, tomará banho e vai fazer as refeições. O deputado disse que a médica trabalhou cinco meses em Pacajá.
— Que direito tem a Polícia Federal de ficar no encalço dela, perseguir essa mulher que clama por liberdade? Essa Casa tem que estar aberta para receber pessoas que clamam por liberdade — criticou Caiado.
Uma cópia do contrato individual de Ramona mostra que a médica foi contratada pela empresa cubana Comercializadora de Servicios Médicos Cubanos, e não pela Opas, como anunciou o governo.
“Eu me senti enganada”
Ramona disse que somente depois que chegou ao Brasil, quando fazia curso em Brasília, descobriu, junto a outros estrangeiros, que o salário era de R$ 10 mil mensais.
— Me senti enganada. Em Cuba não falaram nada de dez mil (reais). Decidi fugir por isso. Eu me senti muito mal, senti que fui enganada — disse Ramona Rodriguez.
Caiado acusou o governo de cometer um crime e exige que o Ministério da Justiça conceda asilo para a cubana.
— É a figura clandestina do gato. Quando criticamos o programa o Ministério da Saúde disse que o contrato era com a Opas, mas a Opas nunca veio prestar esclarecimento. Ela me ligou, procurou clamando por liberdade. o que mostra o quanto foi enganada. Ela saiu no sábado de Pacajá, no interior do Pará, e foi informada que a Polícia Federal esteve lá, dizendo que ela seria presa. Ficou ansiosa — disse Caiado, acrescentando:
— Quis levá-la ao plenário para mostrar o crime convalidado pelo governo brasileiro de utilizar, explicitamente, mão de obra escrava; ela foi forçada, não pode se deslocar, teve o telefone grampeado.
http://oglobo.globo.com/pais/medica-cubana-passa-noite-na-lideranca-do-dem-da-camara-11507409

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma ideia do que o aquecimento global nos reserva

31.janeiro.2014

Temperatura registrada à tarde na Av. Paulista. Crédito: Epitácio Pessoa / Estadão
Já sei, de entrevistas com muitos climatologistas, que um evento isolado climático não nos diz nada sobre as mudanças provocadas pelo aquecimento global e que só a análise de séries históricas nos mostra o tamanho do problema. Mas o calorão que passamos na capital paulista neste mês dá uma ideia muito clara do que vem pela frente.
Estamos falando de um mês que teve média de temperatura de 31,9 °C. Foi a temperatura mais altadesde que começaram a ser feitos os registros, em 1943. Esse valor é cerca de 4 graus maior do que a média histórica para o primeiro mês do ano – de 27,6°C –, de acordo com o Inmet.
É mais ou menos essa elevação que vários estudos climáticos estimam que poderemos sentir no Brasil até o final do século. Só que não apenas em ocasiões extremas e aleatórias. O tempo todo. E na média. O que significa que vários dias podem ser bem mais quentes.
A bagunça climática, na verdade, vai ser muito mais complexa que isso, com alternância de extremos, do muito frio ao muito quente; do muito chuvoso ao muito seco. Mas essa comparação, mesmo que super simplista, já ajuda a ter uma ideia do que é se sentir não só incomodado, mas afetado severamente pelo clima o tempo todo.
O meteorologista Franco Vilela, do Inmet, explica que “é impossível estabelecer relação direta de um evento único com uma escala de tempo, mas também é impossível descartar essa possibilidade (de o mês super quente ser obra das mudanças climáticas)”.
Ele destaca também o impacto da urbanização das cidades, que potencializam o calor. “Não dá para distinguir os fatores locais dos globais, qual parte do aquecimento cabe a cada uma das mudanças, mas de fato temos visto uma tendência de aumento da temperatura, não tanto de máximas, como foi desta vez, mas de mínimas. Já não faz mais tanto frio quanto fazia nas madrugadas”, lembra.
Dos onze meses mais quentes em São Paulo desde o início das medições, oito ocorreram a partir de 1998.
Veja abaixo:
1º – jan/2014 – 31,9°C
2º – fev/1984 – 31,8°C
3º – fev/2003 – 31,6°C
4º – jan/1956 – 30,9°C
5º – fev/1999 – 30,9°C
6º – fev/2010 – 30,9°C
7º – jan/1998 – 30,8°C
8º – jan/1999 – 30,8°C
9º – fev/1977 – 30,7°C
10º – mar/2007 – 30,7°C
11º – fev/2012 – 30,7°C

Vale lembrar que a década de 2001 a 2010 foi, em termos planetários, a mais quente da história, de acordo com a Organização Mundial Meteorológica (WMO, na sigla em inglês).
http://blogs.estadao.com.br/ambiente-se/uma-ideia-do-que-o-aquecimento-global-nos-reserva/