quinta-feira, 25 de agosto de 2011

História do Hino Nacional

Em 1831, Dom Pedro anunciou que estava deixando o trono de imperador do Brasil para seu filho e voltaria a Portugal. Foi a oportunidade que o músico Francisco Manuel da Silva estava esperando para apresentar a sua composição. Ele colocou a letra de um verso do desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva e o hino foi cantado pela primeira vez no dia 13 de abril de 1831, na festa de despedida de Dom Pedro I. Durante algum tempo, porém, a música teve o nome de "Hino 7 de Abril", data do anúncio da abdicação.

A letra de Ovídio Saraiva foi considerada ofensiva pelos portugueses. Eles foram chamados até de "monstros". Por isso, ela foi esquecida em pouco tempo, mas a partitura de Francisco Manuel da Silva começou a ser executada em todas as solenidades públicas a partir de 1837. Para comemorar a coroação de Dom Pedro II, em 1841, o hino recebeu novos versos, de um autor desconhecido. Por determinação de Dom Pedro II, a música passou a ser considerada o Hino do Império e deveria ser tocada todas vezes em que ele se apresentasse em público, em solenidades civis e militares, mas sem letra. Era também tocada no exterior sempre que o imperador estivesse presente. Francisco Manuel ficou bastante famoso. Recebeu vários convites para dirigir, fundar e organizar instituições musicais. Mas o Brasil continuava com um hino sem letra.

Quando a República foi proclamada, em 1889, o governo provisório resolveu fazer um concurso para escolher um novo hino. Procurava-se algo que se enquadrasse no espírito republicano. Primeiro escolheram um poema de Medeiros e Albuquerque, que tinha sido publicado no jornal Diário do Comércio do Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1889. É aquele que começa com o verso "Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós". A letra se encontrava à disposição dos maestros que quisessem musicá-la. No primeiro julgamento, dia 4 de janeiro de 1890, 29 músicos apresentaram seus hinos. A Comissão Julgadora selecionou quatro para a finalíssima. No dia 15 de janeiro, numa sessão em homenagem ao Marechal Deodoro no Teatro Santana, perguntaram ao novo presidente se ele estava ansioso pela escolha do novo hino. Ele disse: "Prefiro o velho". Cinco dias depois, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, uma banda marcial composta de 70 figurantes, fanfarra e coro de 30 vozes regida pelo maestro Carlos de Mesquita executou as músicas finalistas. Na ordem, os hinos de Antonio Francisco Braga, Jerônimo de Queirós, Alberto Nepomuceno e Leopoldo Miguez. Nessa primeira audição, segundo o regulamento, estavam proibidos os aplausos. Após um curto intervalo, a banda executou de novo os quatro hinos. Aí, sim, o público pôde se manifestar. O mais aplaudido foi o do maestro Miguez, que também foi escolhido pela Comissão Julgadora. O presidente Deodoro e quatro ministros deixaram o camarote oficial e voltaram em seguida. O ministro do Interior, Aristides Lobo, leu o decreto que conservava a música de Francisco Manuel da Silva como hino nacional. Mesmo sem a partitura, a orquestra tocou a música e a platéia delirou. Como prêmio de consolação, a obra de Medeiros e Albuquerque e de Leopoldo Miguez ficou conhecida como o Hino da Proclamação da República. Só que o problema persistia: o Brasil tinha um hino sem letra. Mas, se a música já era tão bonita, por que precisava de uma letra? Por mais que alguém se habitue a uma música, se ela não tiver letra, fica mais difícil de ser memorizada.

Só em 1909 é que apareceu o poema de Joaquim Osório Duque Estrada. Não era ainda oficial. Tanto que, sete anos depois, ele ainda foi obrigado a fazer 11 modificações na letra. Duque Estrada ganhou 5 contos de réis, dinheiro suficiente para comprar metade de um carro. O Centenário da Independência já estava chegando. Aí o presidente Epitácio Pessoa declarou a letra oficial no dia 6 de setembro de 1922. Como Francisco Manoel já tinha morrido em 1865, o maestro cearense Alberto Nepomuceno foi chamado para fazer as adaptações na música. Finalmente, depois de 91 anos, nosso hino estava pronto!

(Artigo de Marcelo Duarte publicado na revista Almanaque Brasil, da TAM)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Expulsos pela fome, somalis lotam campo de refugiados

Maior centro de refugiados do mundo, Dadaab, no Quênia, recebe 1,5 mil pessoas por dia
20 de agosto de 2011

Jamil Chade, enviado especial a Dadaab

Mãe e filho em Dadaab, maior campo de refugiados do mundo - Jamil Chade/AE
Mãe e filho em Dadaab, maior campo de refugiados do mundo. Jamil Chade/AE

DADAAB, FRONTEIRA ENTRE QUÊNIA E SOMÁLIA - "Essa cidade não deveria existir”, diz Maira. A refugiada da Somália refere-se ao Campo de Dadaab, um verdadeiro testamento vivo da tragédia de toda uma região da África e, hoje, um certificado da falência da estratégia de combate à fome.

A reportagem do Estado está convivendo com os 440 mil refugiados que se amontoam no acampamento mantido pela ONU entre a fronteira da Somália e do Quênia. Considerado o maior campo de refugiados do mundo, Dadaab é resultado de guerras, miséria e agora da fome que atinge o Chifre da África.

Há alguns anos, a esperança da ONU era a de que uma solução começasse a ser dada aos refugiados que chegaram 20 anos atrás ao local. Mas a eclosão nos últimos meses de uma das piores ondas de fome em 60 anos na África enterrou esse plano. Desde o início do ano, 170 mil novos refugiados foram para Dadaab. Por dia, 1,5 mil pessoas chegam ao campo.

Na fuga da fome, o caminho para muitos é dos mais dramáticos. Sobreviveram à falta de alimentos, ao calor, à falta de água, às milícias, aos grupos de bandidos e mesmo aos animais. No caminho, centenas de mulheres são alvo de violência sexual e chegam grávidas.

De 30 para 440 mil pessoas

O acampamento foi criado em 1991, com o objetivo de receber refugiados da guerra civil na Somália. Cerca de 30 mil pessoas eram esperadas. Em poucos meses, o local teve de ser ampliado para comportar 90 mil refugiados da Somália. Hoje, diante da explosão da fome na África, ele já conta com 440 mil refugiados e, em poucas semanas, serão 450 mil. Os números não dão sinais de ceder, enquanto um volume cada vez maior de ONGs desembarca para construir novos locais de acolhimento, ampliando o perímetro da cidade.

Ao sobrevoar em um monomotor o campo em busca da pista de pouso que serve para a ONU e ONGs abastecerem o acampamento, a primeira imagem que se tem de Dadaab é a de um tapete de retalhos. Os tetos de plástico, lixo e outros materiais das barracas perdem-se de vista. São 50 quilômetros quadrados do que certamente é a cidade mais miserável do mundo.

Para deixar a situação mais dramática, os refugiados pouco a pouco abandonam a alegria de chegar a Dadaab pelo desespero de entender que não terão mais para onde ir. “Saímos de um inferno esperando chegar a um lugar que fosse o reinício de nossas vidas. Mas vemos que estamos em outro inferno”, diz Maira.

Para muitos, Dadaab é uma prisão a céu aberto. Os refugiados não podem se mover livremente, falta comida, água e segurança. Quase ninguém tem trabalho, nem mesmo a perspectiva de um dia sair do acampamento. Expulsos de seu país pela fome e a violência, os refugiados descobrem que também não são bem-vindos no Quênia.

Em Nairóbi, o governo queniano faz de tudo para evitar que o campo se transforme em uma cidade estabelecida. Oficialmente, a fronteira está fechada. “Mas isso não significa nada”, diz Luana Lima, uma pediatra carioca que trabalha no acampamento. “No lugar de 20 dias, estão levando 40 dias para fazer caminhos que evitem a segurança. Chegam aos hospitais em estado crítico.”

Relatos feitos à reportagem apontam na mesma direção. “Estamos em uma prisão e a pena é válida por todas nossas vidas”, conta Abu Mal. “Não podemos sair. Quem sai é preso e sofre nas mãos dos policiais.” Para evitar ser espancado, precisam pagar subornos, algo impossível para refugiados já miseráveis.

Em um recente estudo, a entidade Human Rights Watch acusou o governo do Quênia de usar policiais para intimidar os refugiados. O governo do Quênia fechou desde 2006 sua fronteira com a Somália para evitar novos refugiados. Mas Dadaab continua a ganhar terreno.


Vítimas

Se o número de refugiados é recorde, a outra parte da história é que milhares, em busca dessa cidade, ficam pelo caminho. Hana tem 42 anos e sabe muito bem o que isso significa. Ela herdou a missão de salvar seus netos. Seus dois filhos estão lutando na Somália e sua filha morreu de fome no caminho para o campo. Ela diz que as últimas palavras de sua filha foram para que ela cuidasse dos quatro netos. “Dois já morreram depois que minha filha morreu.”

Para os especialistas da entidade Médicos Sem Fronteiras, o pior ainda está por vir. A previsão é a de que a seca continuará pelos próximos dois meses. A crise foi oficialmente declarada pela ONU em julho. Mas a falta de chuvas e a situação cada vez mais desesperadora já vinham sendo registradas há meses.
Em Dadaab, famílias e ONGs perdem a calma quando a crise da fome no Chifre da África é mostrada no Ocidente apenas como um fenômeno natural. “Não há mais como mostrar garotos esqueléticos e estereótipos da fome nas capas de jornais pelo mundo”, afirma um funcionário de uma ONG que pede anonimato. “Dá a sensação de inevitabilidade.”

Os mais críticos alertam que a imagem da vítima passiva, da fome silenciosa permite que governos promovam ações humanitárias, sem serem questionados sobre como é que o mundo deixou isso ocorrer.

Para os refugiados, o envio de alimentos pelo mundo é fundamental. “Mas não queremos apenas sobreviver”, diz Mohamed, de 43 anos, que desde os 29 anos vive em Dadaab. “Podem mandar alimentos para todos e mesmo assim o problema não será resolvido.”

Wolfgang Fengler, economista-chefe do Banco Mundial em Nairóbi, alerta que a crise vivida hoje no Chifre da África é “obra humana”. Para ele, a seca era previsível e ninguém fez nada. Especialistas apontam o fenômeno do La Niña como provável causa da falta de chuvas neste ano. Para ONGs e para a ONU, só haverá uma solução para a fome na África quando houver um plano e investimentos.

Assim que as primeiras gotas de chuva voltarem a cair na região, não apenas molharão a terra árida. Também darão a conveniente impressão de que o problema da fome terminou. Que era apenas uma fatalidade climática.

domingo, 21 de agosto de 2011

Eco de Gandhi dá voz à ira dos indianos

JIM YARDLEY
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA DÉLI - 21/08/2011

Na "nova" Índia frequentemente obcecada pela riqueza e o status, onde batedores de críquete e astros de Bollywood são idolatrados, Anna Hazare é uma figura que parece vinda de uma era anterior, aparentemente ultrapassada. Sua boina branca pontuda e suas roupas simples de algodão branco evocam uma simplicidade digna de Gandhi. Sua aparência rural despretensiosa é algo que normalmente poderia suscitar risinhos de escárnio da elite urbana indiana.

Mas Hazare, 74 anos, emergiu como o rosto improvável de um movimento popular acalorado na Índia, uma efusão de sentimento público que se concentrou no combate à corrupção, mas também exprime ansiedades mais profundas numa sociedade fustigada pelas mudanças.

Sua prisão, na terça-feira, feita quando ele estava a caminho de um parque em Nova Déli onde pretendia iniciar uma greve de fome como parte de sua campanha contra a corrupção, levou milhares de pessoas a sair para as ruas de cidades em todo o país. Sob pressão pública, as autoridades tentaram libertá-lo horas depois, mas Hazare se negou a deixar a prisão a não ser que fosse libertado incondicionalmente. Na quinta-feira os dois lados chegaram a um acordo, e a expectativa era que ele deixasse a prisão na sexta-feira para liderar uma greve de fome e um protesto de massa no centro de Nova Déli para reforçar sua reivindicação de que o governo crie uma agência anticorrupção poderosa e independente.

Saurabh Das/AP

O ativista indiano Anna Hazare, após deixar a prisão, na sexta passada, em Nova Déli

O ativista indiano Anna Hazare, após deixar a prisão, na sexta passada, em Nova Déli

O clamor público que Hazare desencadeou suscitou comparações inevitáveis com os levantes democráticos da primavera árabe. Mas a maioria dos analistas concorda que o movimento da Índia é diferente. À sua própria maneira, contudo, ela pode mostrar não ser menos importante.

A Índia já possui as liberdades democráticas reivindicadas pelos manifestantes no Oriente Médio e norte da África, e, após duas décadas de crescimento econômico, sua influência global é crescente. No entanto, o país também está passando pelo que um observador descreveu como um período "de agitação", com a explosão de frustrações em torno das rodovias ruins, escolas de baixo nível, inflação, disparidade crescente de renda e corrupção oficial onipresente.

Em cada um desses problemas também está presente uma desilusão crescente com o processo político da Índia e uma desconexão cada vez maior entre a classe governante e os governados, algo que torna o problema da corrupção especialmente explosivo. À medida que as multidões que apóiam Hazare foram crescendo e ficando mais acaloradas, esta semana, inúmeras pessoas pareceram estar chegando às ruas de Nova Déli contando histórias sobre corrupção oficial.

"A classe média é a mais afetada pela corrupção", disse Asha Bhardaaj, uma mulher que viajara mais de 48 quilômetros dos subúrbios para participar de uma manifestação. "A classe alta não é afetada. Ela pode conseguir o que precisa, pagando por isso."

A atração exercida por Hazare parece ter sua origem em parte nos valores tradicionais que ele personifica. Hazare é um ativista social de longa data que vem fazendo campanha contra a corrupção há quase duas décadas no Estado de Maharashtra, vivendo de uma pensão militar e financiando obras beneficentes por meio de donativos. Se suas roupas evocam Mahatma Gandhi, o fundador da Índia, o mesmo pode ser dito de suas táticas de protesto não violentas: greves de fome e marchas pacíficas.

Mas Hazare e seus assessores já mostraram que são hábeis em lidar com as exigências da política moderna. Eles superaram estrategicamente a polícia e as autoridades governamentais que tentaram desarmar o movimento anticorrupção, depois de a decisão ter se mostrado um tiro que saiu pela culatra. Além disso, eles vêm explorando a cobertura incessante, muitas vezes sensacionalista feita pelas emissoras de TV indianas para aumentar o apoio público para sua causa. Hoje o rosto de Hazare é visível em quase todos os lugares da Índia.

Hazare e seus assessores --um grupo de advogados e ativistas sociais destacados que é apelidado de Time Anna-- passaram meses fazendo campanha em todo o país. Seus assessores distribuem vários e-mails por dia a jornalistas, com informações atualizadas, e seus assessores mais próximos usam a mídia social para entrar em contato com seguidores jovens. Na manhã da quinta-feira, um dos assessores, Kiran Bedi, recorreu ao Twitter para anunciar um avanço nas negociações com as autoridades.
Mais tarde na quinta-feira Behdi divulgou um vídeo com Hazare feito no interior da prisão Tihar, onde ele está detido.

Enquanto isso, o Partido Nacional do Congresso, que está no poder, vem passando a impressão de estar assustado, despreparado para o ressentimento expresso contra o governo e incapaz de apresentar um argumento contrário coerente. Um porta-voz do partido lançou um ataque pessoal contra Hazare, descrevendo-o como uma figura corrompida, enquanto outro acusou os Estados Unidos de dar apoio ao movimento anticorrupção.

"Este é um momento moral", disse Jayaprakash Narayan, um ativista social da cidade de Hyderabad. "As pessoas estão fartas da corrupção. E o governo não vem mostrando tino político nenhum para tratar com isso. Há muito sentimento de revolta no país, um desejo de acabar não apenas com a corrupção, mas com a política tal como ela é feita hoje."

Hazare nasceu em 1937 na zona rural de Maharashtra, com o nome de Kisan Baburao Hazare. Ele ainda fala o marathi como sua primeira língua. Mais tarde, assumiu o nome Anna. Além de sua admiração por Gandhi, ele tirou inspiração de Swami Vivekananda, um reformista destacado do século 19. Tendo topado com os ensinamentos de Vivekananda enquanto servia no exército indiano, Hazare decidiu dedicar sua vida ao serviço público depois de ter escapado da morte por pouco enquanto atuava na fronteira do Paquistão, segundo sua biografia oficial.

Ele serviu o exército por 15 anos, o que lhe deu direito a uma pensão, e aposentou-se no Maharashtra, passando a dedicar-se ao trabalho social. Hazare já recebeu dois dos mais importantes prêmios civis da Índia por seu trabalho, que inclui esforços para ajudar flagelados da seca e o trabalho para criar um "vilarejo modelo", sustentável, nos moldes propostos por Gandhi.

Na década de 1990 Hazare começou a fazer greves de fome em Maharashtra para pressionar autoridades estaduais ligadas à corrupção, várias das quais acabaram sendo afastadas de seus cargos. Em dado momento ele foi alvo de acusações contrárias, segundo as quais o dinheiro de uma de suas fundações teria sido usado para pagar por sua festa de aniversário.
Uma comissão nomeada pelo governo concluiu que o dinheiro foi gasto de forma imprópria, mas que não houve corrupção pessoal por parte de Hazare.

Anna Hazare vem ganhando destaque nacional grande desde a primavera deste ano, quando ele veio a Nova Déli para iniciar uma greve de fome para reivindicar que o governo apresente ao Parlamento um projeto de lei para a criação da agência anticorrupção, conhecida como uma "lokpal". Quando, inesperadamente, milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar sua reivindicação, o governo convidou o Time Anna para unir-se a um comitê especial que iria redigir a lei da lokpal.

Durante várias semanas no início do verão Hazare fez visitas periódicas a uma casa de hóspedes do governo em Nova Déli, enquanto participava de reuniões do comitê. Em entrevista que concedeu no início de junho, ele falou várias vezes em tom dramático sobre a necessidade de eliminar a corrupção, prevendo também que o povo voltaria a lhe dar seu apoio, se fosse preciso.

Ele vinha percorrendo o país, aparecendo em comícios para angariar apoio para a lokpal.

"Sim, eu me sinto empoderado", disse Hazare em junho. "Isso acontece porque grande número de pessoas se posiciona comigo. Porque, tirando isso, o que eu tenho? Sou um pedinte.
Vivo em um templo. Não tenho talão de cheques. Possuo apenas uma planta e uma cama."

Os métodos e as metas de Hazare não causam boa impressão em todos. Críticos o acusaram de tentar sequestrar o processo democrático por meio de táticas de pressão. Outros avisaram que o tipo de lokpal que ele visualiza poderia prejudicar o equilíbrio das instituições democráticas do país, acusando seu grupo de intransigência.

As negociações em torno da legislação da lokpal acabaram fracassando em junho. Desde então o governo apresentou um projeto de lei ao Parlamento durante a sessão atual deste, mas Hazare o criticou, dizendo é brando demais. Esta semana ele veio a Nova Déli para iniciar nova greve de fome, quando a polícia o deteve.

Sob o acordo fechado para sua libertação, Hazare concordou em limitar sua greve de fome a 15 dias no máximo, e a polícia disse que vai revogar as restrições impostas inicialmente ao número de simpatizantes autorizados a assistir ao protesto.

Diante da prisão de Tihar e em outros pontos da cidade, as pessoas vêm gritando o nome de Hazare e expressando seu repúdio à onipresença da corrupção no cotidiano. Um universitário reclamou, dizendo que as famílias ricas conseguem comprar o ingresso de seus filhos nas melhores faculdades.l O dono de uma transportadora se queixou de ter que pagar propina de 10% a um funcionário para conseguir um certificado que comprova que pagou o imposto de transporte sobre seu veículo.

"Hoje, quando estávamos vindo para cá, um policial do trânsito parou nosso veículo e sugeriu que lhe déssemos algum dinheiro", contou Ajab Singh Gujar, o dono da transportadora. "Eu gritei 'vitória a Anna Hazare!'. O policial nos deixou passar na mesma hora, sem pagar propina nenhuma."

Tradução de Clara Allain

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/962873-eco-de-gandhi-da-voz-a-ira-dos-indianos.shtml


Ativistas mobilizam-se no Brasil e no exterior contra Usina de Belo Monte

Yahoo! Notícias Por Gilberto Costa, da Agência Brasil - 20/08/2011
Brasília – Os movimentos Brasil pela Vida nas Florestas, Xingu Vivo para Sempre e a Frente Pró-Xingu querem fazer deste sábado (20) – Dia Internacional da Ação em Defesa da Amazônia – um dia de protesto contra a construção da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. As organizações alegam que 80% das águas do Xingu serão desviadas e que mais de 20 etnias indígenas ficarão desabrigadas após a construção da hidrelétrica.
Índios de diversas etnias do Parque do Xingu participaram do ato na Av. Paulista.
Índios de diversas etnias do Parque do Xingu participaram do ato na Av. Paulista.
Os ativistas programaram manifestações em Belém, Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo, e protestos contra a obra em mais 11 cidades. Segundo os movimentos sociais, haverá manifestações também na próxima segunda-feira (22) em cerca de 20 cidades em 16 países - entre eles, os Estados Unidos, a Alemanha, a Inglaterra, a Noruega, o Irã, a Turquia e a Austrália. Os protestos serão em frente às embaixadas e consulados brasileiros.

Para Clarissa Beretz, do Movimento Brasil pela Vida nas Florestas, a mobilização internacional contra a usina é estratégica. “Quando vira uma questão mundial, os holofotes voltam-se para ela”. Este ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou que o Brasil suspendesse as obras da usina.Além da OEA, organização da qual o Brasil faz parte, entidades estrangeiras com forte influência na opinião pública internacional, como a Amazon Watch e a Anistia Internacional, criticam a obra. Clarissa Beretz espera que, com a visibilidade no exterior, o governo mude a posição “intransigente” e converse “democraticamente” com as os movimentos contrários à hidrelétrica. “Sabemos que o país precisa de energia, mas queremos discutir alternativas”, disse ela, ressaltando que o o potencial da luz solar e dos ventos (energia eólica) podem ser mais bem aproveitados.
A manifestação em São Paulo ocorreu no vão livre do Masp.
A manifestação em São Paulo ocorreu no vão livre do Masp.
Na opinião da jornalista Verena Glass, a construção de Belo Monte chama a atenção internacionalmente por causa do impacto na Amazônia, por causa da violação de direitos humanos dos povos indígenas e porque fere tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. “Com que cara vamos sediar a Rio+20?”, pergunta Verena, referindo-se à principal conferência ambiental internacional que o Brasil sediará no próximo ano.

Segundo a jornalista, os movimentos sociais também vão questionar a atuação de bancos públicos e privados no financiamento de obras como Belo Monte. De acordo com Verena, os principais bancos brasileiros participam de acordos internacionais que restringem o financiamento de atividades de impactos social e ambiental negativo.
Em nota, o consórcio Norte Energia S.A., responsável pela construção da usina, diz que “respeita as opiniões contrárias ao projeto de Belo Monte, embora sejam fruto da desinformação”. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério das Minas e Energia, o Brasil faz uso de fontes alternativas de energia. De 2004 a 2010, foram contratados cerca de 10 mil megawatts (MW) de energia solar, eólica e de biomassa. A Usina de Belo Monte terá capacidade plena de 11 mil MW por ano e vai operar em média com 4,5 mil MW.

A obra já rendeu 13 ações de contrárias do Ministério Público, entre elas uma que questiona a constitucionalidade do processo que autorizou a obra. O Congresso Nacional, em julho de 2005, autorizou o Executivo a fazer “o aproveitamento hidroelétrico” de Belo Monte, mas sem ouvir as comunidades indígenas afetadas, como prevê o Artigo 231 da Constituição Federal.A EPE colocou sob consulta pública o Plano Decenal de Expansão de Energia até o próximo dia 30. O documento fundamentará a elaboração de projetos futuros em diversas modalidades de produção de energia em todo o país, inclusive energia hidrelétrica na Amazônia.

sábado, 20 de agosto de 2011

Estudo culpa esgoto por desaparecimento de coral no Caribe

18/08/2011
DA FRANCE PRESSE

A bactéria causadora de uma enfermidade que está acabando com um tipo de coral ameaçado de extinção do Caribe é proveniente das águas poluídas de uma rede de esgotos, mostra um estudo publicado nos Estados Unidos na quarta-feira.

O coral, chamado de chifre-de-veado, vive nas águas do sul da Flórida e do arquipélago das Bahamas e chegou a ser a espécie mais numerosa no Caribe, mas tem desaparecido por conta de uma enfermidade causada pela bactéria Serratia Marcescens, que é encontrada em fezes humanas e de animais.

Até agora não se sabia com certeza que tipo de bactéria estava afetando o coral, mas os cientistas analisaram a bactéria de uma planta de águas residuais em Key West, na Flórida, e a compararam com amostras fecais de animais e aves locais para chegar à conclusão.

Os cientistas descobriram que a bactéria que causava a morte dos corais era do mesmo tipo encontrado nas redes de esgoto.

"A boa notícia é que podemos resolver este problema através do tratamento de esgoto", disse o co-autor do informe, James Porter, da Universidade de Geórgia.

O estudo, publicado na revista científica "PLoS One", assegura que toda a área do sul da Flórida está modernizando a rede de esgoto, o que deverá impedir que a bactéria chegue ao oceano aberto.

Segundo a Noaa (Administração Nacional dos Oceanos e a Atmosfera dos Estados Unidos), as enfermidades, a contaminação, os depredadores, o aquecimento das águas e as tormentas têm contribuído para uma diminuição da população de corais entre 75% e 95% desde 1980.


http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/961593-estudo-culpa-esgoto-por-desaparecimento-de-coral-no-caribe.shtml