domingo, 27 de fevereiro de 2011

Análise: Como ficaria a Líbia sem Khadafi

Alison Pargeter

especial para a BBC News



O regime de Muamar Khadafi na Líbia dá mostras de estar estar vivendo seus últimos dias. E já se pergunta o que poderá vir em substituição. Mas a Líbia é um país ao qual não se aplicam as armadilhas típicas de um Estado normal.

O coronel Muamar Khadafi criou um sistema tão personalizado de governar que não deixou espaço para ninguém além dele mesmo, sua família e a pequena elite governante, muitos dos quais foram tirados de sua própria tribo, Qadhadhfa.

Diferentemente da Tunísia e do Egito, as forças que poderiam facilitar o processo de transição, como partidos políticos, sindicatos, grupos de oposição ou organizações da sociedade civil simplesmente não existem na Líbia.

De fato, o país sempre chamou atenção pela quase que total ausência de instituições operantes, já que todo poder foi concentrado fortemente em torno do ''líder irmão''.

O culto à personalidade parcialmente explica por que Khadafi vai lutar até a morte. Apesar de seu poder estar diminuindo, com a oposição se aproximando cada vez mais, ele ainda controla a capital Trípoli, sua tradicional base de poder.

Mas se ele mantiver o controle sobre a cidade, a sua capacidade de governar o país passará a ser quase inexistente.

Suas ações nos últimos dias destruíram quaisquer resquícios de credibilidade dele e de seu regime. E a repressão por si só não é uma garantia de que ele irá se manter no poder.

Ataques de vingança

Tudo isso deixa a Líbia em um impasse. Não existe nenhuma força de união ou uma personalidade que poderia entrar em cena e assumir o controle, deixando o risco de que o país enfrente um vácuo de poder.

Isso pode fazer com que vários protagonistas deste processo, em especial líderes tribais, tentem se impor ou ao menos tentem assumir o controle de suas regiões.

Dado o longo histórico de antagonismo entre as tribos da Líbia, é improvável que este seja um processo harmonioso. E ele tampouco será auxiliado pelas armas que já estão circulando entre os manifestantes, o que pode inclusive induzir a mais violência.

Muitos líbios temem, inclusive, que o país possa mergulhar no caos ou na anarquia ou, na pior das hipóteses, em guerra civil. Ainda que essa possibilidade seja um tanto exagerada, a chance de o país enfrentar conflitos e violência é real. E, em meio a esse contexto, ataques motivados por vingança também são uma possibilidade.

Aqueles que estiveram envolvidos com as notórias forças de segurança de Khadafi, inclusives o odiados Comitês Revolucionários, não deverão escapar ilesos.

A perspectiva de se ver gangues armadas e de remanescentes do regime de Khadafi combatendo outras facções é algo que leva a se temer pelo futuro.

A fim de evitar tamanho caos, alguns líbios estão na expectativa de que o Exército entre para decidir o jogo, depondo Khadafi e supervisionando o processo de transição.

Exército

Mas, no entanto, o Exército de Khadafi é pouco profissional, dividido e foi intencionalmente mantido enfraquecido pelo coronel ao longo de anos para evitar qualquer tentativa de golpe. Além do que, há poucos sinais de que o Exército tenha deixado de dar apoio ao regime.

Só que alguns integrantes das Forças Armadas já desertaram para o lado dos manifestantes, juntamente com figuras do alto escalão do governo e diplomatas.

A maior esperança da Líbia reside nestas pessoas, que, juntamente com representantes de outros seguimentos da sociedade líbia possam facilitar a transição pós-Khadafi.

Este grupo incluiria ainda integrantes da oposição no exterior, intelectuais reformistas e membros do clero. Todos estes anunciaram apoio aos protestos logo no seu começo.

Esse vasto compêndio de nomes precisa atuar próximo aos líderes tribais para garantir a segurança do país. Mas esta possível conjuntura não estaria desprovida de problemas.

É questionável se grupos tão díspares e com uma longa história de antagonismo podem trabalhar juntos e alcançar um consenso.

Mais importante, ainda que os moradores da região oeste da Líbia possam tranquilamente apoiar ex-oficiais do Exército e membros do regime, tal apoio seria bem menos palatável para os moradores do leste do país.

Existem até indícios, que não são plenamente fundamentados, de que o leste poderia se separar e formar a sua própria região independente. Tais tentativas poderiam resultar em ainda mais caos e derramamento de sangue.

Vizinhos

A Líbia claramente enfrenta uma batalha ladeira acima. Como a comunidade internacional irá lidar com esses eventos é algo ainda a ser visto.

Um Estado falido na Líbia teria sérias implicações para a Europa, particularmente, por conta de temas como fornecimento de petróleo e imigração ilegal.

Talvez a melhor tática seja buscar as forças capazes de administrar uma transição, oferecendo apoio e assistência para a construção de um Estado no longo prazo. Tal apoio será crucial se a Líbia pretende sobreviver à era pós-Khadafi.

Enquanto isso, países vizinhos estarão observando os acontecimentos de perto. Uma Líbia desestablizada é a última coisa que a Tunísia e o Egito querem, enquanto lutam para implementar os seus períodos de transição.

Ainda que Khadafi não deverá deixar saudades se cair, os dois países provavelmente irão se preocupar com temas econômicos, já que a Líbia há muito é uma fonte de emprego para milhares de egípcios e tunisianos e o comércio transfronteiriço é algo importante.

Na região como um todo, Khadafi costuma ser visto como um bufão e poucos sentirão a sua falta.

Mas o triunfo do poder popular na Líbia ressonaria com vigor pela região, em especial na Argélia, servindo tanto de alerta para regimes e como fonte de esperança para populações que ainda clamam por mudanças.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110225_libia_pos_khadafi_bg.shtml

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

UE e EUA anunciam sanções contra a Líbia

25 de fevereiro, 2011
Marcia Bizzotto e Alessandra Correa
De Bruxelas e Washington para a BBC Brasil´

A União Europeia e os Estados Unidos anunciaram nesta nesta sexta-feira planos de adotar sanções contra a Líbia em resposta à violência do governo contra manifestantes que pedem a saída do líder Muamar Khadafi.

Na Europa, os países-membros do bloco concordaram em impor um embargo de armas contra a Líbia e bloquear os bens de autoridades do governo líbio em seu território.

Entre as restrições acertadas também está a proibição da venda para a Líbia de outros equipamentos, além de armas, que possam ser usados para reprimir manifestantes e da entrada de personalidades líbias em território europeu durante um período de tempo indeterminado.

A lista de pessoas afetadas ainda não está definida, mas deve incluir o líder do país, Muamar Khadafi, e membros de sua família.

O acordo para a adoção das sanções foi alcançado nesta sexta-feira durante uma reunião de altos funcionários dos países membros do bloco, em Bruxelas, e poderá ser formalizado na segunda-feira, durante uma reunião de ministros de Energia.

Até lá, as autoridades europeias esperam ter concluído a repatriação dos cerca de 3,5 mil europeus que ainda estão na Líbia.

Intervenção militar

"É hora de agir. Devemos exercer toda a pressão possível para tentar deter a violência", afirmou a chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, durante uma reunião de ministros de Defesa da UE na cidade húngara de Godollo.

No entanto, Ashton assegurou que a opção de uma intervenção militar "não foi levantada por ninguém até agora".

Também presente na reunião, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, informou que a Aliança estuda a possibilidade de estabelecer uma área de proibição de voos sobre a Líbia com o objetivo de evitar que o Exército possa bombardear alvos civis, como teria ordenado Khadafi.

O estabelecimento desse perímetro dependeria de um mandato do Conselho de Segurança da ONU, explicou Rasmussen.

Em paralelo, a Comissão Europeia (órgão Executivo da UE), anunciou nesta sexta-feira que destinará 3 milhões de euros em ajuda humanitária para atender às necessidades básicas da população civil que está fugindo da Líbia para os países vizinhos.

Os fundos serão entregues a agências da ONU, à Cruz Vermelha Internacional e a outras ONGs que atuam nesses países.

A Organização Internacional para a Migração (OIM) estima que necessita pelo menos US$ 11 milhões para auxiliar uma primeira leva de refugiados da Líbia.

Segundo a organização, 40 mil pessoas já cruzaram a fronteira com o Egito e com a Tunísia “nos últimos dias” em um fluxo que aumenta diariamente.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que o governo americano está “iniciando uma série de medidas em nível unilateral e em nível multilateral para pressionar o regime na Líbia a parar de matar seu próprio povo”.

“Nós decidimos colocar em ação sanções unilaterais que estão em processo de finalização, sanções coordenadas com nossos aliados europeus e esforços multilaterais para responsabilizar o governo líbio por meio das Nações Unidas”, disse Carney em Washington.

O porta-voz não forneceu detalhes sobre as medidas, mas disse que todas as opções estão sobre a mesma, até mesmo uma ação militar.

O Departamento do Tesouro já orientou os bancos americanos a monitorar de perto transações que possam estar relacionadas à crise na Líbia.

Obama manteve contatos telefônicos sobre a situação na Líbia com diversos líderes, entre eles os da Grã-Bretanha, da França, da Itália e da Turquia.

Na segunda-feira, o presidente Barack Obama deverá se reunir com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para discutir a crise na Líbia.

Embaixada americana

Os Estados Unidos também anunciaram a suspensão de todas as operações de sua embaixada na Líbia.

“Devido às atuais condições de segurança na Líbia, somadas à nossa impossibilidade de garantir a segurança de nosso corpo diplomático no país, o Departamento de Estado temporariamente retirou seus funcionários da Embaixada em Trípoli e susependeu todas as operações a partir de 25 de fevereiro”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, P. J. Crowley, em um comunicado.

“A segurança da comunidade americana permanece prioritária para o Departamento e nós continuaremos a fornecer assistência na maior medida possível por meio de outras missões”, diz a nota.

A medida foi anunciada após milhares de americanos terem conseguido deixar a Líbia por via aérea e martítima. Segundo analistas, a Casa Branca aguardava a saída de cidadãos americanos do país para adotar medidas mais firmes.

Em entrevista coletiva na quarta-feira a secretária de Estado, Hillary Clinton, já havia afirmado que a prioridade do governo era a segurança de seus cidadãos.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110225_ue_sancoes_libia_cb_rc.shtml

Entenda a crise na Tunísia

África
O presidente da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Ali, deixou o poder após semanas de manifestações populares contra o governo.

Até recentemente o país, famoso como destino turístico, era visto como um exemplo de estabilidade e relativa prosperidade no mundo árabe, embora governado com mão de ferro por Ben Ali desde 1987.

Ainda não está claro que efeitos que os desdobramentos no país – que fica numa região em que vários países são governados pelos mesmos líderes há anos em regimes considerados pouco democráticos - poderão ter sobre outras nações árabes.

A BBC preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender as mudanças na Tunísia.

O que gerou os protestos?

O gesto desesperado de um jovem, no dia 17 de dezembro, deflagrou uma onda de protestos e choques entre manifestantes e a polícia.

Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzid (centro do país) quando policiais impediram que ele vendesse vegetais em uma banca de rua sem permissão.

O ocorrido gerou uma onda de protestos contra o desemprego na região, que baseia sua economia na agricultura e é uma das mais pobres do país.

Os protestos se espalharam então para outras partes da Tunísia. O governo acusou a oposição de explorar o incidente.

Mas a resposta violenta das autoridades, com a polícia disparando munição verdadeira contra os manifestantes, parece ter dado mais força aos manifestantes.

O protesto também é considerado uma reflexo da frustração da população com a elite dominante e a ausência de liberdades políticas.

O governo diz que 23 pessoas morreram desde o início dos protestos, mas a oposição diz que o número de mortos supera 60.

Os protestos eram esperados?

Não, eles parecem ter surpreendido a todos, inclusive o governo.

Parece ter ocorrido uma ruptura do acordo velado existente desde que Ben Ali tomou o poder em 1987.

Em troca de um progresso econômico lento, porém contínuo, a maioria dos tunisianos teria aceito a restrição das liberdades políticas, um Estado policial e uma elite frequentemente acusada de corrupta.

Para investidores estrangeiros, o país seria um local seguro para investimentos e fonte de mão-de-obra barata.

Mas o modelo parece ter fracassado ou se provado insustentável a longo prazo.

Uma grande quantidade de formados em universidades que não conseguem emprego, há frustração com a falta de liberdades políticas, os excessos da classe dominante e a violência policial. Tudo isso parece ter intensificado a revolta popular.

Como foram os últimos dias do governo de Ben Ali?

O presidente Ben Ali inicialmente negou que a polícia tenha reagido com força exagerada, afirmando que ela protegia interesses públicos contra um pequeno número de “terroristas”.

Todas as universidades e escolas foram fechadas em uma tentativa de manter os jovens em casa, esvaziando os protestos.

Mas o presidente pareceu ter mudado de estratégia e, gradualmente, seu regime sucumbiu frente aos olhos do mundo.

Em 12 de janeiro ele demitiu seu ministro do Interior e ordenou a liberação de todos os detidos durante os protestes. Ele também criou um comitê especial para investigar a corrupção.

Foi feita anda a promessa de atacar a raiz do problema do desemprego, com a criação de 300 mil empregos.

Mas os protestos continuaram e chegaram ao centro da capital em 13 de janeiro, apesar de um toque de recolher.

Ben Ali prometeu então combater a alta de preço dos alimentos, permitir a liberdade de imprensa e internet e “aprofundar a democracia e revitalizar o pluralismo”.

Ele também disse que não mudaria a constituição para permitir a própria reeleição em 2014.

No dia seguinte, Ben Ali anunciou a dissolução do governo e convocou eleições parlamentares dentro de seis meses, antes de declarar um estado de emergência.

O toque de recolher entre 18h e 06h foi ampliado a todo o país, proibidas aglomerações de mais de três pessoas e as Forças de Segurança receberam permissão para atirar em qualquer um que desobedecesse suas ordens.

Finalmente, ele anunciou que sairia “temporariamente” do cargo de presidente e depois teria deixado o país.

O que acontece agora?

O premiê Mohammed Ghannouchi disse que respeitaria a constituição, mas não está claro se a medida será o bastante para satisfazer os manifestantes.

Também não está claro que efeito que as mudanças na Tunísia terão sobre o mundo árabe como um todo.

Muitos dos países árabes são governados há anos pelos mesmos líderes em regimes que muitos não consideram verdadeiramente democráticos. É o caso do Egito e da Líbia, dois países do norte africano, como a Tunísia.

A Tunísia está perigosa para turistas?

O espaço aéreo tunisiano foi fechado, mas não se sabe quanto tempo a medida vai ficar em vigor.

Não há relatos de ataques contra turistas e a maior parte da violência ocorreu longe dos balneários freqüentados por estrangeiros.

Mas empresas turísticas cancelaram algumas de suas operações no país.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/01/110114_tunisia_qa_rc.shtml

A trajetória do ditador líbio Muammar Kadafi

23 de fevereiro de 2011

Por Redação Yahoo! Brasil

No comando da Líbia desde 1969, o coronel Muammar Kadafi é o líder há mais tempo no poder na África e no mundo árabe.

Quando tinha apenas 27 anos, Kadafi organizou o golpe de Estado no qual o rei Idris foi derrubado, e, desde então, tem mantido um controle à 'mão de ferro', dizimando seus opositores e controlando o petróleo líbio. A atual revolta da população contra seu líder é o maior desafio de seu longo governo.

Entre suas muitas excentricidades, duas das mais conhecidas são o hábito de dormir em uma tenda beduína e de andar com dezenas de seguranças mulheres para sua proteção em viagens ao exterior.

Kadafi nasceu em 1942, na área costeira de Sirte, ao norte da Líbia. Ingressou na Universidade de Benghazi para estudar Geografia, mas logo abandonou o curso para se juntar ao exército.

Depois do golpe de Estado em 1969 e com sua chegada ao poder, Kadafi estabeleceu o país no pan-arabismo, com uma filosofia anti-imperialista misturada com aspectos do Islã. Enquanto isto, ele permitia o controle privado sobre as pequenas empresas, enquanto as maiores eram do governo.

Kadafi era um admirador do líder egípcio Gamal Abdel Nasser (1918-1970), do seu socialismo árabe e da ideologia nacionalista. Durante grande parte do seu governo, Kadafi tentou unir Líbia, Egito e Síria em uma federação, mas sem sucesso. Anos mais tarde, tentaria uma tática semelhante com a Tunísia, novamente sem conseguir o fim desejado.

Esmagando dissidentes
Em 1977, Kadafi mudou o nome do país para Grande Socialismo Popular da Líbia Árabe Jamahirya (Estado das massas) e as pessoas puderam expor seus pontos de vista em congressos.

Porém, muitos que participaram destes congressos criticaram a liderança de Kadafi, acusando-a de ser uma ditadura militar, reprimindo a sociedade civil e esmagando impiedosamente seus dissidentes. A mídia, então, passou a ficar sob forte controle governamental.

O regime tem centenas de pessoas presas e condenadas à morte por violarem a lei, segundo a Organização Internacional de Direitos Humanos.

Kadafi sempre teve um papel proeminente na organização da oposição dos árabes ao acordo de paz de Camp David entre Egito e Israel, em 1978. Porém, com opiniões extremas sobre as resoluções do conflito Israel-Palestina, entre outros, a política externa da Líbia sofreu uma mudança: com vários países árabes ignorando as opiniões do líder líbio, o foco do país passou a ser para os africanos.

Na África, Kadafi foi mais ouvido e, com isso, conseguiu a formação da União Africana. Mas, no Ocidente, a visão do líder da Líbia é de um "terrorista", acusado de apoiar grupos armados, incluindo as Farc, na Colômbia, e o IRA, na Irlanda do Norte.

O suposto envolvimento da Líbia em um atentado, em 1986, dentro de uma discoteca na cidade de Berlim, resultando na morte de dois soldados americanos, acarretaram em ataques aéreos dos EUA a Trípoli e Benghazi, matando 35 líbios, inclusive a filha adotiva de Kadafi. Ronald Regan, então presidente dos EUA, o chamou de 'cachorro louco'.

Outro episódio terrorista que envolve a Líbia é o bombardeio do voo da Pan Am que iria de Londres para Nova Iorque, sobre a cidade de Lockrbie, na Escócia, em 1988. O atentado matou 270 pessoas (11 em terra e 259 no avião). Este é o mais conhecido e controverso incidente terrorista em que Kadafi teve seu nome mencionado como um dos envolvidos.

Por muitos anos, Kadafi negou envolvimento, o que resultou em sanções da ONU e o status da Líbia como um estado pária (excluído do cenário mundial). Mas Abdel Basset al-Megrahi, agente secreto líbio, foi condenado por plantar a bomba e, assim, o regime de Kadafi assumiu formalmente a responsabilidade pelo ataque, em 2003. Ele pagou indenização às famílias dos mortos.

Fim do isolamento
Também em 2003, Kadafi rompeu o isolamento com o Ocidente, ao entregar seu inventário inteiro de armas de destruição em massa. Em setembro de 2004, George W. Bush, então presidente dos EUA, terminou formalmente o embargo comercial dos americanos como resultado do desmantelamento do programa de armas da Líbia e pela responsabilidade do atentado de Lockerbie. A normalização das relações com as potências ocidentais permitiu que a economia líbia tivesse um crescimento econômico relevante, principalmente na indústria petrolífera.

Porém, Kadafi voltou a mostrar seu lado controverso, quando o responsável pelo atentado de Lockerbie, al-Megrahi, voltou à Líbia e foi recebido como herói pelo líder. EUA, Reino Unido e outros países condenaram a atitude.

Em setembro de 2009, Kadafi visitou os EUA e pela primeira vez compareceu à Assembleia Geral da ONU. Seu discurso, que duraria 15 minutos, acabou durando 1h30min. Ele rasgou um exemplar da Carta da ONU, acusou o Conselho de Segurança de ser um corpo terrorista semelhante à Al-Qaeda e exigiu 7,7 trilhões de dólares em compensação para a África, pelo passado de colonização do continente.

Durante visita à Itália, em agosto de 2010, a convite de Kadafi, milhares de jovens e mulheres se converteram ao Islã, obscurecendo uma viagem de dois dias, destinada a cimentar os crescentes laços entre Trípoli e Roma.

Relação com Lula
Lula e Kadafi se reuniram por quatro vezes durante os dois mandatos do líder brasileiro. O ex-presidente sempre afirmou que o Brasil não tinha preconceitos em sua "diplomacia pragmática". Esta relação se deu, provavelmente, devido à entrada de empresas brasileiras na Líbia.

Algumas construtoras investiram 1,4 bilhão de dólares no país, e Lula se aproximou de Kadafi, para garantir o sucesso desse investimento.

Essa relação deve sofrer um baque, já que Dilma Rousseff não abre mão dos direitos humanos - para ela, uma área inegociável. E com os últimos acontecimentos na Líbia, é provável que o exêntrico líder fique longe dos interesses brasileiros.

http://br.noticias.yahoo.com/s/23022011/48/manchetes-trajetoria-ditador-libio-muammar-kadafi.html

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mundo fecha o cerco a Gaddafi; ditador diz que morrerá no país

22/02/2011
Das agências de notícias


Sete dias após o início dos intensos protestos e a escalada do massacre orquestrado pelo governo líbio, que enviou mais helicópteros e jatos de guerra para atirar contra os civis, o caos toma conta da Líbia nas ruas da capital Trípoli, de Benghazi e outras cidades, e diversos países fazem operações de emergência para retirar seus cidadãos do país.

Os alertas da deterioração da situação incluem o discurso do ditador Muammar Gaddafi, no qual afirma que "morrerá como mártir" no país e os relatos de que centenas já tentam fugir para países vizinhos, o que pode acarretar numa crise de refugiados.

Centenas de pessoas tentam fugir do país e chegar ao Egito. A agência de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas) pediu aos vizinhos da Líbia para que não recusem os que estão fugindo da violência. Centenas de refugiados chegaram ao Egito em tratores e caminhões descrevendo uma onda de mortes e bandidagem provocada pela revolta. Relatos indicam que manifestantes da oposição assumiram o controle da fronteira líbia com o país nas últimas 12 ou 24 horas.

A Human Rights Watch (HRW) diz que mais de 233 pessoas já morreram na Líbia e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), estima entre 300 e 400 mortos. Não há números oficiais confiáveis e analistas indicam que o total de vítimas deve ser maior do que as estimativas das ONGs.

Os relatos do agravamento da situação na Líbia chegam horas após o discurso do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, que serviu para enfurecer ainda mais os manifestantes que exigem sua renúncia e soou alarmes à comunidade internacional que se atenta para a gravidade do que ocorre no país.

O Conselho de Segurança da ONU se reuniu por mais de uma hora para discutir o assunto a pedido do representante permanente adjunto da Líbia e anunciou uma sessão de emergência em aberto a partir das 17h de Brasília para obter o parecer de cada país-membro. Há indícios de que as Nações Unidas possam emitir sanções ao regime líbio.

O Brasil está atualmente na presidência rotativa do órgão, representado pela embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti.

Fontes diplomáticas indicaram que China e Rússia "não colocaram impedimentos e querem seguir adiante" com a advertência ao regime do ditador líbio.

MUNDO FECHA O CERCO A GADDAFI

Ainda em reação ao seu pronunciamento e às agressões de Gaddafi à população, o próprio organismo dos países da região, a Liga Árabe, reuniu-se emergencialmente em sua sede no Cairo e anunciou que a Líbia será excluída temporariamente das sessões do bloco.

Segundo um comunicado oficial, "está suspensa a participação das delegações governamentais da Líbia nas reuniões do Conselho da Liga Árabe e de todas as suas organizações dependentes até que as autoridades líbias cumpram os requerimentos" do bloco.

A chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, considerou "muito assustador" o discurso e exigiu, ao mesmo tempo, das autoridades líbias, "o fim da violência contra o próprio povo", acrescentando que, "se isto não for o caso, a Alemanha passará a refletir sobre a imposição de sanções" a Trípoli.

Mais cedo o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu ajuda aos países árabes para chegar a uma solução na crise líbia antes que o massacre dos civis se solidifique no país.

Ele analisou a situação na Líbia e no Iêmen com o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al Thani.
"Ambos concordaram que a comunidade internacional e em particular os líderes árabes e a ONU deveriam pedir o imediato fim dos atos de violência e o início do diálogo amplo" para resolver a situação de maneira pacífica, acrescenta.

DISCURSO

"Muammar Gaddafi é o líder da Revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias. Esse é o meu país, de meus pais e meus antepassados", afirmou. Ainda durante o pronunciamento, e em meio a gritos e socos no pódio, prometeu lutar contra os manifestantes que pedem o fim de seu regime e disse que irá "morrer como um mártir", já que abandonar o poder "não está entre as suas opções".

O ditador disse ainda que "os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução".

O tom do ditador e os alarmantes indícios de um massacre ao estilo do que ocorreu na China na praça da Paz Celestial, quando o governo abriu fogo contra os civis, repercutiu entre líderes internacionais e na própria região.

SEGUNDA APARIÇÃO

O ditador apareceu na TV estatal nesta terça-feira após ter feito uma breve declaração na noite de ontem (21), quando limitou-se a dizer que ainda estava à frente do país e que estava em Trípoli e "não na Venezuela", desmentindo rumores de uma possível fuga.

Vestido com um robe marrom e um turbante, ele discursou de um pódio colocado na entrada de um prédio bombardeado que aparentava ser sua residência em Trípoli --atingida por ataques aéreos dos Estados Unidos na década de 1980 e deixado sem reparos como um símbolo de desafio.

Ele disse que "tem o direito de lutar pela Líbia". "Nós não insistimos em nada, a não ser lutar pelo bem da Líbia. Passei minha vida sem ter medo de nada. Eu devo permanecer aqui, desafiador", acrescentou.

"A Líbia quer glória, a Líbia quer estar no topo, no topo do mundo."

"Sou um guerreiro, um revolucionário de tendas. Vou morrer como um mártir no final."

Segundo o ditador, ele não tem poder para decidir sobre sua própria renúncia --este poder está nas mãos dos chamados "comitês verdes".

O ditador ainda afirmou que Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, está sendo "aterrorizada". "Eles foram ao aeroporto, que foi destruído. Não há aviões partindo ou chegando de Benghazi. Não há aviões chegando à Líbia."

USO DA FORÇA

Gaddafi prometeu ainda não usar força de novo contra os manifestantes, mas ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.

Ele dedicou boa parte de seu discurso desafiando e atacando potências ocidentais, principalmente os EUA. "Vocês querem que os EUA venham aqui e façam o que fizeram à Somália, ao Afeganistão, ao Paquistão, ao Iraque? É isso o que vocês querem?", questionou.

"Persigam-nos, prendam-nos, entreguem-nos às [forças de] segurança. Eles são apenas poucos, eles são terroristas."

O mandatário líbio convocou a população --"todos os homens e mulheres e crianças"-- para sair às ruas nesta quarta-feira e assumir o controle. "Devemos tomar todo o país e mostrar a eles o que é uma revolução popular", disse. Ele pediu ainda a jovens que gritem frases de defesa ao regime e coloquem faixas que divulguem as realizações da "revolução".

"A partir de amanhã, famílias, peguem seus filhos, deixem suas casas, todos vocês que amam Muammar Gaddafi, vão às ruas, controlem as ruas, não tenham medo deles."

Gaddafi afirmou que "ainda não usamos forças ainda, mas se for necessário, iremos usar" e ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/879388-mundo-fecha-o-cerco-a-gaddafi-ditador-diz-que-morrera-no-pais.shtml


Sugestão de atividades:
Professor pode explorar este texto com debates em sala de aula, completando sobre a economia do país, aspectos físicos e humanos.

Rússia culpa Google por incitar turbulência no Egito

22/02/2011
DA REUTERS, EM MOSCOU


O vice-premiê da Rússia culpou o Google, em entrevista publicada nesta terça-feira, por incitar a população do Egito a se mobilizar na revolução que derrubou Hosni Mubarak do poder no país.

"Olhe o que eles fizeram no Egito, aqueles executivos do Google, olha o tipo de manipulação da energia do povo aconteceu lá", disse o vice-premiê russo, Igor Sechin, ao "Wall Street Journal".

Um comentário forte como este vindo de um dos assessores mais leais de Putin é um claro sinal da crescente preocupação no governo russo sobre o papel da Internet na agitação que está varrendo o mundo árabe.

Sechin não deu mais detalhes sobre suas preocupações. O executivo do Google Wael Ghonim se tornou heroi por acaso na revolta egípcia que levou à deposição de Mubarak.

Em contraste com a televisão estatal, a internet na Rússia é consideravelmente livre e palco de críticas contra o premiê russo, Vladimir Putin, e o presidente Dmitry Medvedev e toda a elite russa.

A Rússia até agora tem evitado adotar restrições sobre a internet, mas analistas afirmam que há um grupo de linha duras próximo de Putin que gostaria que o país adotasse controles similares aos da China.

O presidente chinês, Hu Jintao, pediu no sábado por uma regulamentação mais dura de governos sobre a internet e alertou importantes líderes do Partido Comunista de que a China está enfrentando agravamento de conflitos sociais que podem testar a capacidade do partido em manter controle firme sobre o país.
http://www1.folha.uol.com.br/tec/879490-russia-culpa-google-por-incitar-turbulencia-no-egito.shtml

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Oposição dialoga com governo, mas insiste na saída de Mubarak

07/02/2011
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Os grupos de oposição entraram neste domingo em diálogo com o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, que consideram o início de um esforço por reformas políticas. Eles alertam, contudo, que não estão satisfeitos e os manifestantes continuam pelo 14º dia na praça Tahrir, no centro do Cairo, pelo afastamento imediato do ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.
O governo e as poderosas forças armadas tentaram fazer o país voltar ao trabalho no domingo, o primeiro dia em que os bancos foram reabertos após uma semana de fechamento decorrente da turbulência nas ruas.
O governo disse em comunicado que as partes concordaram em traçar um mapa do caminho das discussões, indicando que Mubarak permanecerá no poder para comandar a transição.

Patrick Baz/AFP
Manifestantes gritam "Saia" no 14º dia consecutivo de protestos na praça Tahrir; diálogo não acalmou opositores

O governo também disse que tomará medidas para libertar ativistas presos, garantir a liberdade de imprensa e revogar as leis de emergência que vigoram no país, "de acordo com as condições de segurança". Foi formado um comitê para estudar questões constitucionais.
Imagens mostraram Suleiman, tendo um retrato de Mubarak na parede atrás dele, presidindo as conversações, que a oposição afirmou que não satisfizeram sua exigência de uma revisão completa do sistema político do país.
Abdel Monem Aboul Fotouh, membro sênior da Irmandade Muçulmana, disse que o comunicado do governo representa "boas intenções, mas não inclui mudanças sólidas."
Falando à TV NBC, dos Estados Unidos, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que emergiu como porta-voz da oposição diversificada, que inclui o movimento islâmico banido Irmandade Muçulmana, chamou o diálogo de "opaco".
"No momento atual, ninguém sabe quem está falando com quem. Tudo é controlado pelos militares, e isso é parte do problema", disse ElBaradei. "O presidente é militar, o vice-presidente é militar, o primeiro-ministro é militar."
Indagado sobre as conversações, Mohamed Adel, do Movimento 6 de Abril, que tem estado ao cerne dos protestos, disse: "Estão evitando atender às reivindicações do povo".
Antes das conversações, a liderança do governista Partido Nacional Democrático, incluindo o filho do presidente, Gamal, renunciou, em iniciativa que, segundo a Irmandade Muçulmana, visou "sufocar a revolução".
Ativistas da oposição rejeitam qualquer solução conciliatória pela qual Mubarak entregaria o poder a Suleiman mas cumpriria seu mandato até o final, essencialmente dependendo do velho sistema autoritário para abrir o caminho para uma democracia civil plena e evitando humilhar o presidente.
Mubarak, que rejeita pressão interna e da comunidade internacional para deixar o poder, tenta focar na restauração da ordem. Nesta segunda-feira, o novo gabinete deve fazer sua primeira reunião desde os protestos.
Os EUA apoiam as conversações entre o vice-presidente Omar Suleiman, que foi durante anos o chefe dos serviços de inteligência, e grupos oposicionistas, mas deixou claro que é preciso dar tempo para o diálogo.

Patrick Baz/AFP

Egípcios montam cama improvisada em frente a tanque do Exército na praça Tahrir, no centro do Cairo

PROTESTOS
Temendo uma perda de ímpeto da revolta popular, muitos reformistas que usaram a Internet para mobilizar apoio em massa estão determinados a forçar a saída imediata de Mubarak. Os manifestantes já planejam marchas em grande escala para terça-feira e sexta-feira --os principais dias de manifestações.
Mas mesmo nesta segunda-feira, a praça Tahrir continua ocupada. Os grupos de jovens que iniciaram a revolta contra Mubarak formaram uma coalizão e anunciaram que não pretendem desocupar a praça até que o chefe de Estado renuncie ao poder.
Em um comunicado, a "Direção Unificada dos Jovens Revolucionários Revoltados" promete não abandonar a praça, ocupada por outros manifestantes desde 28 de janeiro, até que suas reivindicações sejam atendidas.

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/871699-oposicao-dialoga-com-governo-mas-insiste-na-saida-de-mubarak.shtml



Sugestão de atividades:
Professor você pode "explorar" esse texto nas 3 séries do EM, pode usar como aula inaugural, aproveitando o momento para enfatizar: a localização geográfica do Egito, a cultura muçulmana, as ditaduras existentes no mundo, e ou, os problemas econômicos gerados pelas manifestações.
1. Leitura e análise do texto.
2. Debate sobre o assunto.
3. Utilização de fotos (pode recortar de jornais e revistas) e sugerir comentários sobre o assunto em questão.